CC BY-NC-ND 4.0 · Arquivos Brasileiros de Neurocirurgia: Brazilian Neurosurgery 2018; 37(S 01): S1-S332
DOI: 10.1055/s-0038-1672363
Oral Presentation – Functional
Thieme Revinter Publicações Ltda Rio de Janeiro, Brazil

Síndrome da lua de fel

Gustavo Veloso Lages
1   Santa Casa de Montes Claros
,
Lara Souto Pinheiro
2   Faculdades Unidas do Norte de Minas
,
Thiago de Souza Afonso
2   Faculdades Unidas do Norte de Minas
,
Matheus Vilas Boas Vieira Lopes
3   Faculdades Integradas Pitágoras
,
Maria Luíza Oliveira Lopes Teixeira
3   Faculdades Integradas Pitágoras
,
José Oswaldo Oliveira Júnior
4   Hospital A.C. Camargo
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Publication History

Publication Date:
06 September 2018 (online)

 
 

    Apresentação de caso: R.S.P., sexo feminino, 75 anos de idade, portadora de doença de Parkinson há 6 anos, tendo o tremor unilateral como principal sintoma motor. A estimulação cerebral profunda (ECP) no núcleo ventral intermédio do tálamo esquerdo foi realizada sem intercorrências. No nono dia do pós-operatório, a paciente evoluiu com quadro de alexia e acalculia, sem nenhum outro sinal ou sintoma encontrado no exame neurológico. Realizada tomografia de crânio, que não evidenciou sangramento no trajeto do eletrodo nem nenhum sinal atípico para o exame. Com 25 dias de pós-operatório, a paciente começou a apresentar remissão gradual da alexia e da acalculia. Foi ligado o gerador e evidenciado excelente resposta imediata no tremor.

    Discussão: Nos primeiros 30 dias após ECP para controle dos sintomas da doença de Parkinson, o paciente vivencia um período de “lua de mel”. Período este de melhor controle dos sintomas motores da doença relacionados ao efeito traumático causado pela introdução do eletrodo no núcleo. Quando há uma piora nos sintomas neste período, não relacionada a complicações imediatas, considera-se o oposto, o paciente vivencia uma “lua de fel”. As complicações após a ECP podem existir e são didaticamente divididas em três grupos. O primeiro inclui as decorrentes do procedimento em si, como os hematomas. O segundo corresponde às complicações relacionadas ao equipamento, que incluem deslocamento, quebra do eletrodo e infecção. O terceiro está relacionado à estimulação crônica de um alvo específico. Dentro do segundo grupo, pode-se criar um subgrupo de efeitos colaterais fugazes, com explicações questionáveis e incertas, de possível origem inflamatória. Há anormalidades radiográficas dramáticas descritas após implantação do eletrodo que são raras e não foram associadas à infecção ou hemorragia, mas sim ao possível processo inflamatório.

    Comentários finais: As alterações agudas estão possivelmente relacionadas à reação imune, como alergias e hipersensibilidade aos materiais cirúrgicos utilizados, como a solução salina para irrigação, os selantes de dura-máter e até mesmo o eletrodo. Esse fenômeno radiológico foi observado em poucos casos e, em sua maioria, em pacientes assintomáticos sem necessidade de intervenção, ou em indivíduos com declínio neurológico transitório. Deste modo, tornam-se relevantes os estudos acerca deste evento visando ao reconhecimento, à compreensão fisiopatológica e ao manejo adequado.


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    No conflict of interest has been declared by the author(s).