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DOI: 10.1055/s-0038-1672690
Neuroesquistossomose mansônica cerebelar: relato de caso e revisão de literatura
Publication History
Publication Date:
06 September 2018 (online)
Apresentação de caso: Sexo feminino, 33 anos, procedente de João Pessoa, Paraíba, apresentou cefaleia progressiva, náuseas e vômitos em 15/08/16. Após início dos sintomas, instalou-se síndrome cerebelar com ataxia locomotora e perda de equilíbrio, sendo encaminhada ao otorrinolaringologista. Foi realizada ressonância nuclear magnética (RNM) em 21/09/16, a qual evidenciou lesão expansiva em fossa posterior com colapso de quarto ventrículo e dilatação do sistema ventricular supratentorial. Foi considerada hipótese de neoplasia primária, sendo a paciente encaminhada ao neurocirurgião. Microcirurgia foi realizada em 29/03/17, evoluindo com piora da ataxia axial, sem outros déficits. Avaliação anatomopatológica evidenciou tecido cerebelar com múltiplos granulomas, bem como ovos e larvas de Schistossoma mansoni. Tratamentos adicionais com praziquantel 50 mg/kg em dose única e fisioterapia para reabilitação foram instituídos. RNM de controle realizada em 17/07/17 não evidenciou lesões.
Discussão: Neuroesquistossomose intracraniana é frequentemente associada ao Schistossoma japonicum, enquanto S. mansoni geralmente envolve medula espinal. Existem apenas 14 casos de neuroesquistossomose cerebelar mansônica descritos em literatura entre 1984 e 2018, com média de idade de 24 anos, variando entre 11 e 40 anos, sendo 12 (85%) do sexo masculino e 11 (78%) procedentes do Brasil. Em geral, há bom prognóstico, com apenas 1 caso evoluindo para óbito. Ovos de S. mansoni podem alcançar o SNC por ovoposição in situ por migração de fêmeas ou carreados como êmbolos, principalmente nas formas de doença hepatoesplênica e cardiopulmonar, através do plexo venoso avalvular de Batson. Embolização de grande quantidade de ovos em área circunscrita associada à resposta inflamatória granulomatosa gera pseudotumor com efeito de massa, responsável pelas manifestações clínicas observadas. Vermes adultos podem viver até 30 anos, motivo pelo qual deve haver investigação criteriosa durante anamnese sobre exposição através de banhos em rios contaminados até muitos anos antes do início dos sintomas.
Comentários finais: O caso relatado corresponde ao 15° de neuroesquistossomose cerebelar mansônica descrita em literatura. Diagnóstico deve ser suspeitado em pacientes de áreas endêmicas com sinais neurológicos e história de risco de contaminação sem outra causa aparente. Tratamento precoce com excisão cirúrgica, corticoterapia e anti-helmínticos pode levar à recuperação completa.
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