Subscribe to RSS
DOI: 10.1055/s-0038-1672655
A interposição de fragmento muscular entre o vaso e o nervo é alternativa eficaz na cirurgia de descompressão vascular microcirúrgica do nervo trigêmeo em pacientes com neuralgia trigeminal provocada por compressão neurovascular
Publication History
Publication Date:
06 September 2018 (online)
Introdução: A neuralgia trigeminal (NT) é caracterizada por uma dor recorrente, súbita, severa e penetrante na distribuição de um ou mais ramos do nervo trigêmeo (nTRI). Essa condição tem etiologia diversa, porém há inúmeras evidências de que na maioria dos casos a NT é causa pela compressão neurovascular (CNV), que ocasiona desmielinização focal e perda axonal na raiz trigeminal, justificando a descompressão vascular microcirúrgica (DVMC) como tratamento de escolha. Vários materiais podem ser usados para manter a separação entre o vaso e o nervo, sendo mais comuns o teflon (politetrafluoroetileno) e a porção de prótese vascular de poliéster, ambos nem sempre disponíveis pelo Sistema Único de Saúde.
Objetivo: Diante deste contexto, descreve-se, neste estudo, a técnica de DVMC com a interposição de fragmento muscular entre o vaso e o nTRI de pacientes portadores de NT provocada por CNV.
Métodos: Vinte pacientes (12 mulheres e 8 homens, com idades variando de 24 a 68 anos) foram submetidos à DVMC para tratamento de NT primária. Os pacientes realizaram no pré-operatório exame de ressonância magnética de alta resolução que permitiu a visualização de CNV contra o nTRI. A cirurgia foi realizada por via de acesso retromastoidea com exploração completa da raiz trigeminal desde a emergência ao nível da ponte até a entrada no cavum de Meckel. Após dissecção do vaso em contato íntimo com o nTRI, utilizou-se, em todos os casos, fragmento muscular recuperado na própria via de acesso para conter a pulsatilidade do vaso contra o nervo.
Resultados: Todos os pacientes tiveram uma CNV identificada durante a cirurgia (17 pacientes tinham compressão de origem arterial e 3 de origem venosa). Em todos os casos foi possível a colocação de fragmento muscular entre o vaso e o nTRI. Após seguimento clínico de 5 anos, 16 pacientes apresentaram cura completa da dor, 3 pacientes necessitaram fazer uso de alguma medicação para obter alívio da dor e 1 paciente não obteve sucesso. Não houve complicações pós-operatórias.
Conclusão: A DVMC permitiu o controle da dor na maioria dos pacientes. A interposição de músculo entre o vaso e nervo é uma alternativa eficaz e de fácil execução, permitindo a completa proteção do nervo contra a pulsatilidade vascular.