CC BY-NC-ND 4.0 · Arquivos Brasileiros de Neurocirurgia: Brazilian Neurosurgery 1999; 18(02): 77-83
DOI: 10.1055/s-0038-1623039
Artigos Originais
Thieme Revinter Publicações Ltda Rio de Janeiro, Brazil

Risco de contágio ocupacional pelo sangue do doente durante os procedimentos neurocirúrgicos

Risk of occupational blood exposures among members of the operative team during neurosurgical procedures
Flávia Elisa Antunes Lemes de Oliveira
,
Claudia Reiko Akamoto Sato
,
Milton K. Shibata
Further Information

Publication History

Publication Date:
11 January 2018 (online)

Resumo

A exposição ocupacional dos profissionais da área de saúde às doenças transmitidas pelo sangue tem sido preocupação crescente. Este estudo prospectivo foi realizado com o objetivo de avaliar a freqüência com que os profissionais que atuam na sala de operações neurocirúrgicas possam ser potencialmente contaminados através de contato direto com o sangue do doente. A ocorrência do contato dos profissionais com o sangue do doente, em 62 operações consecutivas, foi anotada em protocolo pré-estabelecido pela enfermeira da neurocirurgia do centro cirúrgico. O cirurgião foi o elemento da equipe cujo contato evidente com o sangue (através de ferimento perfurocortante ou através de contato cutâneo-mucoso sem ferimento) ocorreu com maior freqüência. Nesse profissional, contatos evidentes ocorreram, pelo menos uma vez, em 19,3% das operações realizadas, um terço deles por meio de ferimentos perfurocortantes. Seguiram-no, em ordem decrescente, a instrumentadora (9,7%) e a enfermeira (6,4%). Nenhum profissional que atua na sala de operações esteve livre do risco.

Este estudo demonstrou que a incidência, no cirurgião e na instrumentadora, de pelo menos um episódio de contato direto com o sangue, ou com outro material orgânico contaminado pelo sangue do doente, é elevada. Há, portanto, a necessidade de se dispor de protocolos escritos para notificação imediata das exposições ocupacionais aos patógenos transmitidos pelo sangue do doente. A notificação é importante para que o Serviço de Controle da Infecção Hospitalar da instituição analise os riscos de contágio e, se necessário, institua a profilaxia recomendada. É importante, também, que se adotem medidas, naquele ambiente, visando à prevenção de novos acidentes.

Abstract

Blood exposures are clearly recognized as a risk for healthcare personnel in the operating room. Nurses trained to work in neurosurgical operating room at the Hospital Nove de Julho, São Paulo, Brazil, carried out this prospective study. The occurrence of contact with blood among the operative team during neurosurgical procedures was collected under the surveillance of the operating room nurse in 62 consecutive routine procedures (27 craniotomies, 17 laminectomies, 9 trepanations, 6 shunt procedures and 3 carotid endarterectomies). Blood contacts were defined as percutaneous (accidental cuts or punctures with blood contaminated instruments) and muco-cutaneous (visible blood on the apparently intact skin or mucous membrane of an operative team member).

The senior surgeon was the element of the team that suffered the highest incidence of blood contact. Blood contact occurred, at least once, in 19.3% of the surgeries in this professional, a third of which through percutaneous exposure. He was followed by scrub nurse (contact with blood in 9.7% of the procedures); operating room registered nurse (6.4%), assistant surgeon (3.2%), anesthetist (3.2%) and circulating nurse (1.6%). The percentage of blood contact observed in our study is too high if compared to the results of a multicenter study reported by White and Lynch. Moreover, if we consider that our study excluded the emergency procedures and that all the participating surgeons, including the assistants, are in practice, for at least, 15 years. We wonder if the modern high rotation powerful drills and sharp instruments have not increased the risk of exposure to blood-borne pathogens among the operative team in neurosurgery.

*Enfermeira de Neurocirurgia.


**Neurocirurgião.