CC BY-NC-ND 4.0 · Arquivos Brasileiros de Neurocirurgia: Brazilian Neurosurgery 1999; 18(04): 188-193
DOI: 10.1055/s-0038-1623050
Artigos Originais
Thieme Revinter Publicações Ltda Rio de Janeiro, Brazil

Lesões medulares traumáticas agudas sem alterações radiológicas relacionadas com o trauma

Spinal cord injuries without radiological evidence of trauma
Francisco Sérgio C. Barros Leal
,
Antônio Celso A. Guimarães
,
Roberto R. Franco
,
José Carlos E. Veiga
Further Information

Publication History

Publication Date:
11 January 2018 (online)

Resumo

As lesões medulares traumáticas sem alterações radiológicas relacionadas com o trauma, como o próprio nome sugere, constituem uma entidade na qual há sinais clínicos de lesão medular na ausência de anomalias radiológicas próprias do traumatismo (radiografia simples e tomografia computadorizada). Contudo, podem estar associadas a outras alterações (espondilose, canal estreito, espondilite anquilosante, hérnias de disco, etc.). Caso a ressonância magnética fosse incluída na investigação, haveria uma redução significativa na incidência dessas lesões e dificilmente deixariam de ser diagnosticadas. Foram estudados 14 pacientes com idades entre 21 e 70 anos admitidos em nosso serviço, no período de 1989 a 1997, submetidos a estudo radiográfico simples (incluindo estudo dinâmico) e/ou tomografia computadorizada da coluna vertebral cervical. Em todos os casos, foram descartadas alterações radiológicas relacionadas com o trauma.

O sexo masculino predominou (13 casos) e houve uma preponderância do grupo etário entre a quinta e sétima décadas (11 casos). Todos tinham disfunções referentes à medula cervical, em algum momento: dois apresentavam tetraparesia transitória (concussão medular), nove apresentavam síndrome centromedular, um tinha tetraparesia de predomínio crural e, dois, tetraplegia flácida. O mecanismo do trauma foi hiperextensão cervical em 13 pacientes. Espondilose cervical foi observada em 13 casos. O diâmetro do canal cervical foi: inferior a 13 mm, em um paciente; entre 13 mm e 14 mm, em quatro; 15 mm e 16 mm, em três; 17 mm e 18 mm, em dois; e superior a 18 mm, em um. Hérnia de disco traumática ocorreu em um caso. Três doentes morreram.

Na nossa casuística, as lesões medulares traumáticas sem alterações radiológicas relacionadas com o trauma foram mais comuns em homens, com mais de 40 anos, com estreitamento do canal vertebral, submetidos à hiperextensão cervical aguda. O prognóstico parece estar relacionado com a gravidade do quadro clínico inicial e as alterações encontradas na ressonância magnética.

A terminologia “lesões medulares traumáticas sem alterações radiológicas relacionadas com o trauma” parece-nos inadequada e deve ser revista.

Abstract

Spinal cord injuries without radiological evidence of trauma (SCIWORET), as suggested by its terminology, is a condition where there are clinical signs of spinal cord dysfunction in the absence of characteristic radiological abnormalities (plain radiographs and computerized tomography), although may be associated with other anomalies (spondylosis, narrowing of cervical canal, ankylosing spondylitis, disc herniation, etc.). If magnetic resonance imaging (MRI) were used in such cases traumatic abnormalities would hardly be misidentified.

We studied 14 patients aged from 21 to 70 years admitted in the neurosurgical department between 1989 and 1997, submitted to plain radiographs (with flexion and extension views) and/or computerized tomography of the cervical spine. There was no radiological evidence of trauma in any of the cases.

There were thirteen male patients and one female. All had cervical cord dysfunction: two presented with transient tetraparesis (spinal cord concussion), nine with central spinal cord lesions, one patient with tetraparesia predominant on lower limbs and two with flaccid tetraplegia. Acute hyperextension of the cervical spine was the responsible mechanism in thirteen patients. Cervical spondylosis was observed in thirteen patients. The diameter of the cervical canal was: lower than 13 mm in one patient, between 13 mm and 14 mm in four, 15 and 16 mm in three, 17 mm and 18 mm in two and greater than 18 mm in one. Traumatic disk herniation was found in one patient. Three patients died.

In our series acute traumatic spinal cord injuries without radiological evidence of trauma were prevalent in males over 40 years of age with narrowing of the cervical canal and submitted to acute cervical hyperextension. The prognosis seems to be related to the severity of the initial clinical findings and to the abnormalities found in the magnetic ressonance imaging.

The term “spine cord injury without radiological evidence of trauma” seems inappropriate and should be reviewed.