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DOI: 10.1016/j.rboe.2017.11.017
Osteoblastoma cervical: relato de caso[*]
Artikel in mehreren Sprachen: português | EnglishResumo
Osteoblastoma é um tumor primário benigno raro. Constitui cerca de 3% dos tumores benignos e 1% de todos os tumores ósseos. O objetivo do tratamento é a ressecção completa, que limita o risco de recidiva. Por se tratar de um tumor vascularizado, a ressecção completa é, muitas vezes, difícil. Os autores descrevem um caso clínico de um paciente do sexo masculino de 19 anos que apresentava queixas de cervicalgia direita com irradiação para o ombro. O exame por tomografia computadorizada indicou uma lesão em C7 compatível com osteoblastoma. O paciente foi submetido a resseção cirúrgica após embolização pré-operatória e artrodese anterior. Aos 3 anos de seguimento, o paciente encontra-se assintomático e, até a data, sem evidência de recidiva.
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Introdução
O osteoblastoma é um raro tumor ósseo benigno primário que representa 3% das neoplasias benignas e 1% de todas as neoplasias ósseas primárias.[1] [2] Aproximadamente, entre 32 e 46% desses tumores envolvem a coluna.[2] [3] Essas lesões ocorrem predominantemente na segunda e terceira décadas de vida e no sexo masculino com proporção de 2:1 entre homens e mulheres.[3] [4] A dor é o sintoma mais comumente citado e, de modo geral, presente por mais de um ano antes do diagnóstico.[1] [2] [3] [4] O diagnóstico tardio dessas lesões está relacionado à sua baixa incidência, sintomas não específicos e exame radiológico normal durante o início da progressão da doença.[3] [4] O objetivo do tratamento é a ressecção cirúrgica completa, que permite a regressão total das queixas e diminui a probabilidade de recidiva.[2] [5]
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Relato de Caso
Seu histórico médico não era digno de nota. O paciente apresentava dor grave no pescoço e no ombro do lado direito há um ano, com piora à noite. A dor era progressiva, sem alívio com o tratamento médico e exacerbada nos últimos 2 meses com parestesias. Ao exame, a amplitude de movimentação cervical era restrita e dolorosa. O exame neurológico não foi digno de nota. A radiografia da coluna cervical era normal. A tomografia computadorizada (TC) cervical revelou uma lesão em massa com limites bem-definidos e acometimento da faceta articular e o pedículo direito de C7, com cerca de 18,9 × 15,2 milímetros em seu diâmetro maior e sem compressão da medula espinhal, compatível com um osteoblastoma ([Fig. 1]). Completamos o estudo com angiotomografia computadorizada (angio-TC) e Doppler dos vasos do pescoço, que revelaram estenose da artéria vertebral com plano de clivagem ([Fig. 2]). Decidimos pela ressecção cirúrgica.
O paciente foi submetido à embolização pré-operatória um dia antes da cirurgia ([Fig. 3]). No dia seguinte, o paciente foi submetido à ressecção do tumor por abordagem posterior, seguida de artrodese intersomática C6-C7 com “gaiola” preenchida por autoenxerto da crista ilíaca para abordagem anterior ([Fig. 4]).
Não houve intercorrências no período pós-operatório. Uma TC foi realizada no primeiro dia pós-operatório e demonstrou a ressecção cirúrgica completa ([Fig. 5]). O paciente teve alta no 5o dia após a cirurgia. O exame histopatológico confirmou o diagnóstico. Examinado 3 anos após a cirurgia, o paciente não apresenta queixas e realiza atividades da vida diária normal, sem evidência de recidiva ([Fig. 6]).
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Discussão
O osteoblastoma e o osteoma osteoide foram descritos em 1935 por Jaffe apud Samdani et al.[3] Ambos são tumores benignos hipervasculares clínica e histologicamente semelhantes.[3] [6] No entanto, o osteoblastoma apresenta características mais agressivas. Pode ser localmente agressivo e causar comprometimento neurológico devido ao crescimento expansivo. Além disso, pode sofrer transformação maligna em osteossarcoma.[2] [3] [6]
O osteoblastoma geralmente acomete os elementos posteriores da coluna.[2] [4] [6] Embora considerado um tumor benigno, a recidiva das lesões na coluna não são incomuns e foram relatadas em 9,7 a 15% das séries de osteoblastomas espinhais.[6]
A apresentação mais comum é a dor cervical[1] [4] [6] sem alívio com anti-inflamatórios não esteroidais.[5] Outros sinais e sintomas comuns são torcicolo, rigidez e sensibilidade local.[4]
O diagnóstico é geralmente feito por TC.[5] A técnica delineia a localização e o acometimento ósseo da massa.[3]
A excisão cirúrgica é o tratamento de escolha para o osteoblastoma.[1] [2] [5] [7] Esse tratamento limita o risco de recidiva.[5] O principal motivo para a alta taxa de recidiva é a ressecção incompleta.[6] [7] O planejamento pré-operatório cuidadoso é essencial.[7]
Como o osteoblastoma é um tumor altamente vascular, a realização de ressecções completas é geralmente impedida pelo sangramento intraoperatório extenso.[2] Alguns autores recomendam a embolização pré-operatória. Esta técnica foi descrita em 1979 por Dick et al. e apud Samdani et al.[3] como terapia adjunta para tumores ósseos benignos. Mais recentemente, foi utilizada com sucesso em tumores espinhais altamente vasculares.[3] A embolização pré-operatória reduz o sangramento intraoperatório e ajuda a melhorar a visualização para realização da ressecção completa além de diminuir as complicações pós-operatórias.[2] [3]
Os autores relatam um caso bem-sucedido de osteoblastoma em C7. Neste caso, os autores preferiram uma abordagem em dois estágios. A abordagem posterior permitiu a ressecção do tumor. A abordagem anterior permitiu a fusão anterior para estabilização da coluna com gaiola intersomática e instrumentação com placa anterior e parafusos. Optamos pela artrodese anterior para facilitar o acompanhamento por imagem, pois diminui o artefato de imagem nos elementos posteriores que pode dificultar a interpretação de uma possível recidiva local.
Realizamos a embolização pré-operatória, que facilitou a ressecção do tumor porque diminui o sangramento e melhora a visualização. A ressecção completa dessa lesão permitiu a regressão completa das queixas e diminuiu a probabilidade de recidiva (sem ela, a taxa de recidiva relatada é de 9,8 a 15%).[6]
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Conflitos de interesse
Os autores declaram não ter conflitos de interesse.
* Estudo conduzido no Departamento de Cirurgia Ortopédica, Hospital de São João, Faculdade de Medicina, Universidade do Porto, Porto, Portugal.
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References
- 1 Yin H, Zhou W, Yu H, Zhang D, Wu Z, Liu T. , et al. Clinical characteristics and treatment options for two types of osteoblastoma in the mobile spine: a retrospective study of 32 cases and outcomes. Eur Spine J 2014; 23 (02) 411-416
- 2 Trübenbach J, Nägele T, Bauer T, Ernemann U. Preoperative embolization of cervical spine osteoblastomas: report of three cases. AJNR Am J Neuroradiol 2006; 27 (09) 1910-1912
- 3 Samdani A, Torre-Healy A, Chou D, Cahill AM, Storm PB. Treatment of osteoblastoma at C7: a multidisciplinary approach. A case report and review of the literature. Eur Spine J 2009; 18 (Suppl. 02) 196-200
- 4 Stern P, Dzus A, Cassidy J. Cervical spine osteoblastoma presenting as mechanical neck pain: a case report. J Can Chiropr Assoc 1994; 38 (03) 146-151
- 5 Hadgaonkar SR, Shyam AK, Shah KC, Khurjekar KS, Sancheti PK. Extraosseous thoracic foraminal osteoblastoma: diagnostic dilemma and management with 3 year follow-up. Asian Spine J 2014; 8 (05) 689-694
- 6 Yilmaz C, Civelek E, Caner H, Aydin E, Gerilmez A, Altinors N. Osteoblastoma of C2 corpus: 4 years follow-up. Asian Spine J 2012; 6 (02) 136-139
- 7 Weatherley CR, Jaffray D, O'Brien JP. Radical excision of an osteoblastoma of the cervical spine. A combined anterior and posterior approach. J Bone Joint Surg Br 1986; 68 (02) 325-328
Address for correspondence
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References
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