Introdução: Glioblastoma (GBM) é o tumor cerebral mais agressivo e mais comum entre os primários,
representando 54% de todos os gliomas e 16% de todos os tumores cerebrais. O tratamento
padrão consiste em cirurgia seguida de radioterapia e, desde 2000, quimioterapia (QT)
com temozolamida (TMZ). Apesar destes recursos, a sobrevida média é de 14 meses e
a taxa de sobrevida em 5 anos é de 9,8%. Além desta alta mortalidade, a qualidade
de vida é geralmente muito prejudicada, principalmente pelo declínio cognitivo.
Objetivo: Pretende-se ilustrar com uma série de 16 casos que, a despeito da baixa expectativa
de vida que acompanha o diagnóstico de GBM, alguns pacientes conseguem vencer em muito
a média de sobrevida. Ainda, os autores aplicaram o questionário de Atividades de
Vida Diária (AVD) desenvolvida por Katz em 1963 para avaliar a independência destes
pacientes e, assim, estimar a qualidade de vida.
Métodos: Foram selecionados todos os pacientes com diagnóstico de GBM que tiveram retorno
ambulatorial no ano de 2017 cujo diagnóstico tenha sido feito há pelo menos 5 anos.
Após essa seleção, foi feita revisão de prontuário e aplicou-se o questionário de
AVD para avaliar o grau de dependência de cada um destes casos.
Resultados: Dos 16 pacientes selecionados, conseguiu-se contato com 10 pacientes. Destes, sete
foram classificados como independentes, nenhum como moderadamente dependente e dois
como totalmente dependentes. Por revisão de prontuário, todos os pacientes foram submetidos
a tratamento cirúrgico pelo menos uma vez, bem como a RT. Quatro também foram submetidos
a radiocirurgia e apenas dois não receberam QT. Quanto à QT, cinco foram submetidos
a apenas carmustina (BCNU), dois iniciaram tratamento com carmustina e após com TMZ,
cinco usaram apenas TMZ. Um único caso fez uso de TMZ seguida de Bevacisumab. A idade
média de diagnóstico foi de 30 anos e a idade média de sobrevida da série, de 11,57
anos. Treze dos 15 pacientes são do sexo feminino, contabilizando 86% dos pacientes.
Conclusão: Este trabalho apresenta um número pequeno de pacientes, cuja porcentagem do espaço
amostral desconhecemos. Porém, percebemos que apesar da expressiva maioria dos pacientes
com diagnóstico de GBM ainda apresentarem desfecho desfavorável, a experiência nos
mostra esta sentença não é inexorável e nos impulsiona a novas investigações científicas
que possam mudar a realidade dos portadores do tumor mais agressivo de um dos órgãos
mais nobres do ser humano.