Palavras-chave
tendinopatia - patela - traumatismos em atletas - fenômenos biomecânicos - voleibol
- basquetebol
Introdução
A tendinopatia patelar (TP) é um dos transtornos comuns de uso excessivo que ocorrem
especialmente em atletas de elite que participam de esportes que envolvem saltos,
como vôlei e basquete, daí a expressão “joelho de saltador”.[1]
[2] É uma das principais razões para interromper o treinamento e/ou a participação em
competições, e pode resultar em aposentadoria prematura em esportes competitivos.[3]
[4] A TP é uma patologia crônica comum do joelho com diagnóstico clínico de dor e disfunção
no tendão patelar.[3] Ela apresenta-se clinicamente como dor localizada na fixação proximal do tendão
ao polo inferior da patela com carga tendínea de alto nível, como no salto e na mudança
de direção.[3] O diagnóstico baseia-se em testes clínicos e ultrassonográficos, com os testes clínicos
mostrando dor relacionada à carga localizada no tendão patelar, enquanto os resultados
de imagem (ultrassonografia ou ressonância magnética) revelam espessamento focal e
regiões hipoecoicas do tendão patelar.[3]
Uma variação nas apresentações diagnósticas levou à documentação de diferentes padrões
de ocorrência da TP.[ 3]
[5] Esses padrões encontrados na literatura incluem indivíduos com apenas anormalidades
ultrassonográficas de tendinopatia; indivíduos com apenas sintomas clínicos de tendinopatia;
e indivíduos com anormalidades ultrassonográficas e sintomas clínicos de tendinopatia.[3]
[5]
[6] Poucos estudos consideraram todos os possíveis padrões de ocorrência de TP em atletas.
Ainda não se sabe por que níveis semelhantes de tensão do tendão resultam em tendinopatia
em alguns indivíduos, mas não em outros.[7] Estudos recentes tentaram identificar variáveis biomecânicas específicas dos membros
inferiores, tais como flexibilidade reduzida dos isquiotibiais e do quadríceps, torção
excessiva da tíbia, aumento do ângulo do quadríceps (ângulo Q), e redução da amplitude
de movimento da dorsiflexão do tornozelo, que podem aumentar o risco de TP, e como
seus valores medidos variam em atletas que praticam esportes que envolvem saltos.[1]
[8]
[9] Uma melhor compreensão da predisposição biomecânica intrínseca de um indivíduo para
a TP facilitará a identificação de fatores de risco modificáveis, e será uma contribuição
valiosa para o planejamento de medidas e intervenções preventivas.[10] Além disso, abordar esses fatores intrínsecos é considerado um passo importante
na bem-sucedida reabilitação da TP.[11]
Resta ainda, no entanto, uma escassez de informações sobre a relação entre essas variáveis
biomecânicas intrínsecas dos membros inferiores e a apresentação e a gravidade da
TP em atletas, particularmente entre negros africanos, a fim de explicar as variações
raciais.[9] Uma preocupação de uma perspectiva global é que a maioria das prevalências de lesões
esportivas de base populacional é baseada em dados relatados em países desenvolvidos,
enquanto há frequentemente uma escassez de dados sobre lesões esportivas em outras
partes do mundo.[12 ]
Portanto, este estudo foi projetado para determinar o padrão de apresentação e gravidade
da tendinopatia patelar e sua relação com variáveis biomecânicas selecionadas dos
membros inferiores em jogadores de elite de basquete e voleibol em Lagos, Nigéria.
Materiais e Métodos
Seleção dos Participantes
Este estudo foi uma pesquisa analítica transversal, feita com 98 atletas de elite
de basquete e voleibol, com idades entre 18 e 35 anos, recrutados no National Stadium,
no Estádio Teslim Balogun e no Rowe Park, em Lagos, na Nigéria. Foram incluídos atletas
de elite de esportes que envolvem saltos (voleibol e basquete), que estavam em fase
de treinamento e tinham responsabilidades de jogo por pelo menos um ano antes do recrutamento
para o estudo. Foram excluídos os participantes que haviam previamente se submetido
a cirurgia no joelho, e que tinham histórico de lesão no joelho nos 6 meses anteriores
ao início do estudo. Os participantes que usaram analgésicos dentro de 3 a 6 horas
antes da avaliação também foram excluídos.
Consideração Ética
A aprovação ética foi solicitada e obtida do Comitê de Pesquisa e Ética em Saúde.
Termos de consentimento livre e esclarecido por escrito também foram solicitados e
obtidos de todos os participantes antes do início do estudo.
Determinação do Tamanho da Amostra
O tamanho da amostra foi determinado utilizando-se o protocolo de Pourhoseingholi
et al (2013)[13] que gerou um tamanho de amostra de 98.
Diagnóstico e Agrupamento dos Participantes
Diagnóstico e Agrupamento dos Participantes
Uma técnica de amostragem intencional foi utilizada para recrutar os participantes
para o estudo, com cada participante selecionado de acordo com os critérios de inclusão.
O diagnóstico foi baseado nos resultados de testes clínicos e ultrassonográficos.
Dois testes clínicos foram utilizados: o teste da Royal London[14] e o de agachamento unipodal declinado[15], que foram realizados por um dos pesquisadores, de quem foram ocultadas as medidas
biomecânicas variáveis e imagens de ultrassonografia dos atletas.
Imagens de Ultrassonografia
Uma máquina de ultrassom musculoesquelético (Siemens Acuson, P500; Siemens Medical
Solutions Inc, Malvern, Pennysylvania, USA) foi utilizada para analisar os participantes
com anormalidades morfológicas focais no tendão da patela. Os tendões patelares foram
visualizados em escala de cinza com uma máquina de ultrassom equipada com um transdutor
linear Siemens Acuson de 10-15 MHz (Siemens Medical Solutions, Inc., Malvern, PA,
EUA). Um único ultrassonografista musculoesquelético, de quem foram ocultados os históricos
clínicos dos atletas, realizou todas as imagens nos planos transversal e longitudinal.
Os resultados foram categorizados como normal ou anormal/tendinopático com regiões
hipoecoicas nos planos transversal e longitudinal.[15]
Os participantes foram então separados em quatro grupos de acordo com o padrão de
apresentação da TP:
-
Grupo A: participantes com características ultrassonográficas de tendinopatia, mas
com resultados negativos ou assintomáticos nos testes clínicos.
-
Grupo B (controle): participantes sem características ultrassonográficas de tendinopatia
e com resultados negativos nos testes clínicos.
-
Grupo C: participantes com características ultrassonográficas de tendinopatia e resultados
positivos ou sintomáticos nos testes clínicos.
-
Grupo D: participantes com resultados positivos ou sintomáticos nos testes clínicos,
mas que não apresentaram características ultrassonográficas de tendinopatia.
-
Os grupos C e D foram os grupos com TP sintomática.
Protocolo de Pesquisa e Procedimento para Coleta de Dados
Protocolo de Pesquisa e Procedimento para Coleta de Dados
Foi solicitada permissão às direções dos clubes, e as metas e objetivos do estudo
foram cuidadosamente explicados para a direção e para os atletas, incluindo detalhes
do procedimento de pesquisa. As seguintes variáveis biomecânicas foram medidas por
dois dos investigadores, que desconheciam o estado clínico do participante e o resultado
da imagem por ultrassonografia:
Análise postural do pé
: é uma ferramenta clínica de diagnóstico destinada a quantificar o grau em que um
pé pode ser considerado como estando numa posição pronada, supinada ou neutra, e dá
uma indicação da postura geral do pé.[16] Ela classifica a postura de sustentação do peso de acordo com uma série de 6 critérios
predefinidos, e uma combinação dessas pontuações fornece um valor agregado usado na
estimativa da postura geral do pé. Os participantes ficaram em posição relaxada de
apoio de membros duplos, e foram instruídos a ficarem imóveis com os braços nos flancos
e olhando para a frente. Os participantes foram instruídos a dar alguns passos e marchar
no local antes de se estabelecerem parados em posição confortável. Cada medição durou
cerca de 2 minutos, durante os quais o examinador se moveu em torno do sujeito, fazendo
observações e tomando notas de medição. Se uma observação não pôde ser feita (por
causa de inchaço dos tecidos moles, por exemplo), ela foi considerada perdida, e foi
indicado na folha de dados que o item não foi pontuado.[ 16] Valores agregados positivos altos indicam uma postura pronada; valores agregados
significativamente negativos indicam uma postura geral do pé supinado; e, para um
pé neutro, a pontuação agregada final deve ser próxima a zero. [16]
[17] Esta ferramenta também foi investigada, e foi considerada confiável e válida.[16]
[17]
Ângulo do quadríceps (ângulo Q): o ângulo Q foi medido com um goniômetro (Victory Model: V-T052, Zhenjian, China Mainland)
de braço longo.[18] Para medi-lo, tanto o ponto médio da patela quanto os tubérculos tibiais foram localizados
e marcados usando um marcador. Uma linha foi traçada conectando a espinha ilíaca anterossuperior,
(EIAS) e o ponto médio da patela, e outra linha foi traçada dos tubérculos tibiais
até o ponto médio da patela. Finalmente, o ângulo Q foi medido como o valor obtido
entre as linhas cruzadas usando um goniômetro de braço longo.[18] A medida foi validada como um indicador confiável e importante da função biomecânica
na extremidade inferior, e descreve a força lateral aplicada à articulação femoropatelar
pela contração do músculo quadríceps.[ 19]
Teste de sentar e alcançar: o teste sentar e alcançar em “V”, considerado válido e confiável, foi usado para
avaliar a flexibilidade dos isquiotibiais.[20]
[21] Os participantes sentaram em um tapete, com as pernas totalmente estendidas, com
uma linha de medição entre as pernas, e com as solas dos pés colocadas imediatamente
atrás da linha de base, com calcanhares separados por 8 a 12 polegadas.[20] O participante estendeu-se lentamente para a frente o mais longe possível, com as
duas mãos sobrepostas e as palmas voltadas para baixo.[20]
[21] O examinador mediu o ponto em que as pontas dos dedos médios se estendiam ao longo
da régua ou da fita métrica.[20 ]
Amplitude ativa de movimento do tornozelo: foi avaliada por goniometria de acordo com o protocolo desenvolvido por Schulze et
al.[22]
Ângulo de torção tibial
: para medir a torção interna ou externa da tíbia, os participantes foram posicionados
em posição deitada (de bruços), com joelhos flexionados a 90 graus. Uma linha foi
desenhada para dividir a parte posterior da coxa (representando o eixo transcondilar),
e outra linha foi desenhada para dividir o pé (representando o eixo transmaleolar).[23] Um goniômetro de braço longo foi usado para medir o ângulo formado por essas duas
linhas. O eixo do goniômetro foi posicionado no ponto médio do calcanhar. O braço
estático foi posicionado para ficar alinhado com a linha que atravessa a parte posterior
da coxa, enquanto o braço móvel foi posicionado para ficar alinhado com a linha que
divide o pé.[23] Normalmente, o ângulo tem entre 0 e 15 graus. Um ângulo de torção superior a 15
graus indica torção tibial externa excessiva, e os ângulos menores do que 0 grau indicam
torção tibial interna excessiva.[23]
Victorian Institute of Sport Assessment Questionnaire, Patellar Tendon (VISA-P): a pontuação no questionário autorrelatado VISA-P, que foi considerado confiável e
válido para medir a gravidade da tendinopatia patelar, foi avaliada.[3]
[20] A pontuação máxima para um atleta assintomático é de 100 pontos, a menor pontuação
teórica é 0, e menos de 80 pontos corresponde a disfunção.[3]
[24]
Análise de Dados
O pacote do programa Statistical Package for Social Sciences (SPSS, IBM Corp., Armonk,
NY, EUA), versão 22.0 para Windows, foi utilizado para realizar a análise de dados.
A análise de variância (ANOVA) e a análise post hoc usando a diferença mínima significativa
(DMS) foram usadas para determinar as diferenças significativas nos valores medidos
das variáveis biomecânicas selecionadas dos membros inferiores nos diferentes grupos
de TP do estudo. A estatística inferencial do coeficiente de correlação de Pearson
foi utilizada para determinar a relação entre as variáveis biomecânicas selecionadas
e a gravidade da TP. Dados demográficos e quantitativos foram expressos em termos
de frequência, porcentagem, média e desvio padrão. Todos os testes estatísticos foram
realizados com um nível de significância de 0,05 (p < 0,05).
Resultados
Um total de 98 participantes (63 homens e 35 mulheres) foram incluídos neste estudo,
dos quais 53 eram jogadores de basquete, e os 45 restantes eram jogadores de voleibol.
Não houve diferenças significativas nas características descritivas dos participantes
nos quatro grupos. O padrão de ocorrência de TP em relação ao tipo de esporte e gênero
pode ser visto na [Tabela 1]. A [Tabela 2] mostra os resultados da ANOVA para diferenças nos valores medidos das variáveis
biomecânicas selecionadas em participantes do sexo masculino que foram significativamente
diferentes (p < 0,05) entre os grupos, exceto para o ângulo de torção tibial. A análise post hoc
com o teste DMS foi usada para determinar a localização das diferenças significativas
entre os grupos ([Tabela 3]). A ANOVA foi usada para testar as diferenças nas variáveis biomecânicas dos participantes
do sexo feminino, e os resultados mostraram que o ângulo do quadríceps não apresentou
diferença significativa entre os grupos (f = 2,274; p = 0,10), enquanto as outras variáveis foram significativamente (p < 0,05) diferentes ([Tabela 4]). A [Tabela 5] mostra os resultados da análise post hoc. Na [Tabela 6], uma comparação da gravidade dos sintomas de dor no tendão patelar entre os grupos
sintomáticos C e D mostra que a gravidade dos sintomas no grupo D foi significativamente
maior do que no grupo C (t = 2,07; p = 0,042). No entanto, a análise de acordo com o gênero não mostrou diferença significativa
na gravidade dos sintomas entre os dois grupos (C e D). O resultado da análise usando
o coeficiente de correlação de Pearson não mostrou correlação significativa entre
a gravidade dos sintomas e todas as variáveis biomecânicas selecionadas, exceto pela
flexibilidade dos isquiotibiais, que mostrarou uma correlação negativa significativamente
forte tanto em homens (r = -0,618; p = 0,02) quanto em mulheres ( r = -0,664; p = 0,042) ([Tabela 7]).
Tabela 1
|
Variáveis
|
Grupo A
|
Grupo B
|
Grupo C
|
Grupo D
|
Total
|
|
Ocorrência geral
|
|
|
|
|
|
|
|
Frequência/número
|
16
|
54
|
13,0
|
15,0
|
98
|
|
Porcentagem
|
16,3
|
55,1
|
13,3
|
15,3
|
100
|
|
Ocorrência por gênero
|
|
|
|
|
|
|
|
Masculino
|
Frequência/número
|
12
|
31
|
10
|
10
|
63
|
|
Porcentagem
|
19
|
49,2
|
15,9
|
15,9
|
100
|
|
Feminino
|
Frequência/número
|
4
|
23
|
3
|
5
|
35
|
|
Porcentagem
|
11,4
|
65,7
|
8,6
|
14,3
|
100
|
|
Ocorrência por esporte
|
|
|
|
|
|
|
|
Basquete
|
Frequência/número
|
8
|
27
|
5
|
13
|
53
|
|
Porcentagem
|
15,1
|
50,9
|
9,4
|
24,5
|
100
|
|
Voleibol
|
Frequência/número
|
8
|
27
|
8
|
2
|
45
|
|
Porcentagem
|
17,8
|
60,0
|
17,8
|
4,4
|
100
|
Tabela 2
|
Variáveis
|
Grupo A
|
Grupo B
|
Grupo C
|
Grupo D
|
valor de f
|
Valor de p
|
|
|
Média ± DP
|
Média ± DP
|
Média ± DP
|
Média ± DP
|
|
|
|
Ângulo Q
|
12,30 ± 2,35
|
11,27 ± 1,60
|
15,20 ± 1,75
|
14,40 ± 2,22
|
14,633
|
0,020*
|
|
Flexibilidade dos isquiotibiais
|
18,83 ± 0,94
|
19,65 ± 1,50
|
17,40 ± 0,84
|
18,10 ± 1,60
|
8,559
|
0,010*
|
|
Postura do pé
|
3,88 ± 2,03
|
3,29 ± 2,45
|
8,10 ± 2,85
|
7,10 ± 2,88
|
9,418
|
0,010*
|
|
Dorsiflexão do tornozelo
|
18,08 ± 2,02
|
18,45 ± 1,23
|
13,50 ± 1,08
|
14,30 ± 1,89
|
6,539
|
0,000*
|
|
Torção tibial
|
20,25 ± 5,74
|
17,18 ± 2,90
|
26,70 ± 3,97
|
27,60 ± 3,65
|
1,356
|
0,383
|
Tabela 3
|
Ângulo Q
|
Flexibilidade dos isquiotibiais
|
Postura
|
Dorsiflexão do tornozelo
|
|
Grupos
|
Diferença média (valor de
p
)
|
Diferença média (valor de
p
)
|
Diferença média (valor de
p
)
|
Diferença média (valor de
p
)
|
|
B-C
|
−3,93 (0,000)*
|
−4,81 (0,00)*
|
4,95 (0,000)*
|
2,245 (0,000)*
|
|
B-D
|
−3,13 (0,000)*
|
1,545 (0,002)*
|
−3,81 (0,001)*
|
4,15 (0,000)*
|
|
A-C
|
−2,91 (0,011)*
|
1,433 (0,015)*
|
−4,23 (0,001)*
|
4,58 (0,000)*
|
|
A-D
|
−2,11 (0,011)*
|
0,733 (0,206)
|
−3,23 (0,013)*
|
3,78 (0,000)*
|
|
A-B
|
1,0175 (0,117)
|
0,812 (0,08)
|
0,59 (0,560)
|
0,87 (0,474)
|
|
C-D
|
0,80 (0,346)
|
−0,700(0,248)
|
−1,00 (0,449)
|
0,80 (0,239)
|
Tabela 4
|
Variáveis
|
Grupo A
|
Grupo B
|
Grupo C
|
Grupo D
|
Valor de f
|
Valor de p
|
|
Média ± DP
|
Média ± DP
|
Média ± DP
|
Média ± DP
|
|
|
|
Ângulo Q (graus)
|
15,25 ± 3,60
|
14,48 ± 3,08
|
18,00 ± 2,00
|
17,76 ± 2,97
|
2,274
|
0,100
|
|
Flexibilidade dos isquiotibiais
|
20,5 ± 0,58
|
21,22 ± 1,51
|
19,67 ± 2,52
|
18,60 ± 1,52
|
4,457
|
0,010*
|
|
Postura do pé
|
4,50 ± 1,52
|
3,33 ± 1,77
|
9,00 ± 1,00
|
7,40 ± 1,88
|
11,296
|
0,010*
|
|
Dorsiflexão
do tornozelo
|
18,00 ± 1,00
|
18,41 ± 1,32
|
15,33 ± 0,58
|
13,20 ± 1,64
|
6,147
|
0,030*
|
|
Torção tibial
|
17,75 ± 2,35
|
16,78 ± 3,32
|
26,33 ± 2,77
|
24,40 ± 3,07
|
7,753
|
0,001*
|
Tabela 5
|
Flexibilidade dos isquiotibiais
|
Postura do pé
|
Dorsiflexão do tornozelo
|
Torção tibial
|
|
Grupos
|
Diferença média (valor de p)
|
Diferença média (valor de p)
|
Diferença média (valor de p)
|
Diferença média (valor de p)
|
|
B-C
|
1,55 (0,109)
|
3,08 (0,000)*
|
−5,67 (0,000)*
|
−9,56 (0,001)*
|
|
B-D
|
2,62 (0,002)*
|
−4,07 (0,000)*
|
5,21 (0,000)*
|
−7,62 (0,001)*
|
|
A-C
|
0,83 (0,482)
|
−4,50 (0,04)*
|
2,67 (0,01)*
|
−8,58 (0,013)*
|
|
A-D
|
1,90 (0,074)*
|
−2,90 (0,038)*
|
4,80 (0,000)*
|
−6,65 (0,027)*
|
|
A-B
|
0,72 (0,394)
|
1,1739 (0,285)
|
−0,41 (0,552)
|
0,97 (0,679)
|
|
C-D
|
1,067 (0,348)
|
1,60 (0,280)
|
−2,13 (0,028)*
|
1,93 (0,540)
|
Tabela 6
|
Variáveis
|
Grupo C
|
Grupo D
|
Valor de t
|
Valor de p
|
|
Média ± DP
|
Média ± DP
|
|
|
|
Masculino
|
72 ± 0,14
|
79 ± 2,96
|
1,876
|
0,077
|
|
Feminino
|
78 ± 1,05
|
80 ± 1,55
|
0,527
|
0,617
|
|
Ambos
|
73 ± 1,60
|
79 ± 2,35
|
2,07
|
0,04*
|
Tabela 7
|
Variáveis
|
|
Âgulo-Q
|
Flexibilidade dos isquiotibiais
|
Postura do pé
|
Dorsiflexão do tornozelo
|
Torção tibial
|
|
Gravidade dos sintomas
|
|
|
|
|
|
|
|
Masculino
|
r
|
0.03
|
−0.618
|
−0.130
|
−0.003
|
0.018
|
|
p
|
0.899
|
0.021∗
|
0.585
|
0.991
|
0.939
|
|
Feminino
|
r
|
0.159
|
−0.664
|
−0.525
|
−0.425
|
−0.120
|
|
p
|
0.706
|
0.042*
|
0.181
|
0.294
|
0.778
|
Discussão
As variações no padrão de apresentação da TP observadas neste estudo estão de acordo
com relatos de vários autores de que, embora o diagnóstico clínico seja frequentemente
confirmado por anormalidades morfológicas na ultrassonografia/ressonância magnética
(RM), ainda existem indivíduos com sintomas clínicos que têm resultados de imagens
de ultrassom aparentemente saudáveis/normais.[4]
[5] Isso levou a conflitos sobre qual grupo designar como tendo TP, pois alguns autores
realmente opinaram que as aparições ultrassonográficas na TP nem sempre estão associadas
à dor, nem resultam em dor com o passar do tempo, o que é uma indicação de que os
resultados de imagem nem sempre se correlacionam com a presença de resultados histopatológicos.[5]
[6]
[25]
[26] Nossos resultados mostraram que a maioria dos participantes era assintomática, especialmente
aqueles que não apresentavam sintomas clínicos ou ultrassonografias positivas. No
entanto, a predisposição de esses participantes desenvolverem TP subsequentemente
não pode ser descartada, como observado por Fredberg et al[27] que as anormalidades ultrassonográficas na TP assintomática poderiam se resolver,
permanecer inalteradas ou se expandir; daí a importância deste estudo em identificar
variáveis biomecânicas que possam indicar uma predisposição para a condição.
Relação entre Apresentação de TP e Variáveis Biomecânicas
Stephen et al[28] haviam relatado anteriormente que um ângulo Q alto era um fator preditivo significativo
de TP, e isso pode explicar por que nossos resultados mostraram que o ângulo Q foi
significativamente maior em participantes com sintomas clínicos e características
ultrassonográficas do que nos outros grupos. Um ângulo Q anormalmente alto aumenta
a tração lateral do músculo quadríceps na patela, causando desalinhamento do mecanismo
extensor, que pode resultar em TP.[19]
[29] Alguns estudos, por outro lado, não encontraram diferenças no ângulo Q entre os
indivíduos de controle e os com TP, como observado com os resultados de nossas participantes
femininas, que não mostraram diferenças significativas no ângulo Q entre os diferentes
grupos.[2]
[30] Isso pode ser devido ao fato de que as mulheres normalmente têm ângulos Q maiores
do que os homens, o que pode ter resultado em mecanismos compensatórios biomecânicos
que mitigaram o impacto do ângulo Q no desenvolvimento da TP. Isso é corroborado por
estudos recentes, nos quais o ângulo Q não apresentou relação com a intensidade da
dor e a capacidade funcional em mulheres com síndrome da dor femoropatelar (SDFP),
nem foi fator preditivo de TP.[31]
[32 ]
A flexibilidade dos isquiotibiais apareceu como um fator significativo nas diferentes
apresentações de TP no presente estudo. Nossos resultados também mostraram uma forte
relação entre a diminuição da flexibilidade dos isquiotibiais e a gravidade dos sintomas
tanto nos participantes masculinos quanto nos femininos. Participantes sem TP apresentaram
flexibilidade significativamente maior do que aqueles com TP sintomática, o que também
está de acordo com os achados de Cook e Purdam,[33] que encontraram diferenças na flexibilidade entre sujeitos com TP e os controles.
A rigidez muscular predispõe ao desenvolvimento de lesões por uso excessivo dos membros
inferiores, incluindo a TP, pois a diminuição da flexibilidade altera a mecânica da
articulação do joelho, aumentando a tensão do tendão durante os movimentos articulares,
resultando em sobrecarga do tendão.[34] Demonstrou-se recentemente que a flexibilidade dos isquiotibiais também afeta a
relação ângulo-torque para os flexores do joelho, resultando em um aumento na flexão
do joelho durante a postura, que é uma variável preditiva da TP.[35] Esses resultados sugerem que as intervenções destinadas a melhorar a flexibilidade
dos músculos da coxa, particularmente os isquiotibiais, podem facilitar a redução
dos sintomas da TP e ser um importante componente das estratégias preventivas e de
reabilitação desse transtorno.[34] Observa-se também, a partir de nossos resultados, que não houve diferenças significativas
na flexibilidade dos isquiotibiais entre os grupos assintomáticos e no grupo com resultados
ultrassonográficos e também sintomas clínicos de TP, principalmente nas mulheres.
Isso sugere que a redução da flexibilidade dos isquiotibiais observada nos grupos
assintomáticos poderia predispor à tendinopatia, e, assim, protocolos preventivos
de flexibilidade dos isquiotibiais são necessários até mesmo em participantes que
não apresentam sintomas ultrassonográficos ou clínicos de TP.[36]
Resultados de estudos anteriores mostraram uma amplitude reduzida de dorsiflexão do
tornozelo em indivíduos com TP, como visto nos resultados do presente estudo tanto
para participantes do sexo masculino quanto do feminino.[4]
[8] A combinação da dorsiflexão do tornozelo com a contração excêntrica dos músculos
da panturrilha é importante para absorver as forças dos membros inferiores ao aterrissar,
pois a redução da dorsiflexão do tornozelo pode aumentar o risco de TP ao prejudicar
a capacidade do atleta de dissipar forças para a extremidade inferior, fazendo, dessa
forma, o tendão da patela suportar cargas maiores.[4]
[10]
[37] Assim, um dos objetivos no manejo da TP é abordar a cadeia cinética para ajudar
a modificar a carga no tendão para diminuir os sintomas.[4]
[36] Existem alguns indícios de que grandes momentos de torção tibial externa combinados
com ângulos de flexão profundos do joelho durante um salto e um pouso aumentam o risco
de TP, pois a excessiva torção externa da tíbia exerce um efeito drástico sobre a
cinemática do joelho.[23]
[38] Os resultados deste estudo corroboram essa afirmação, uma vez que participantes
do sexo feminino com TP apresentaram ângulos de torção tibiais externos significativamente
maiores. Diversas opções compensatórias que são escolhas biomecanicamente ineficientes,
como rotação interna do quadril, adução do pé, e ligeira flexão do joelho, são adotadas
por esses indivíduos, resultando em um aumento da carga no tendão patelar.[23]
[38] Neal et al[39] relataram que o pé pronado é considerado um fator de risco potencial para várias
lesões por uso excessivo dos membros inferiores, pois pode alterar o potencial de
absorção de carga do pé e influenciar o início da TP. Os resultados deste estudo mostraram
pés relativamente mais pronados em participantes com TP sintomática em comparação
com seus pares nos outros grupos, embora um resultado contrário de de Groot et al.[15] tenha indicado que uma postura pronada do pé não estava associada a dor ou anormalidades
de imagem.
Gravidade dos Sintomas nos Diferentes Grupos
A gravidade dos sintomas foi significativamente maior no grupo com apenas sintomas
clínicos em comparação com o que apresentou sintomas clínicos e também anomalias ultrassonográficas.
Isso corrobora os relatos anteriores de alguns autores, de que as características
ultrassonográficas da TP não conferem necessariamente um maior risco ou gravidade
dos sintomas.[4]
[5] Isso pode ser explicado pelo fato de as anormalidades ultrassonográficas serem aspectos
característicos da TP em estágio final, que no modelo contínuo são menos associados
aos sintomas de dor.[40] Além disso, em cada um dos grupos sintomáticos, os resultados mostraram uma tendência
para maiores índices de gravidade em mulheres, o que pode ser atribuído a melhores
mecanismos de compensação em comparação com os que foram relatados em atletas do sexo
masculino.[41] Além disso, apesar de não significativos, os achados deste estudo mostraram uma
tendência à diminuição da gravidade dos sintomas, correlacionada com uma maior amplitude
de dorsiflexão do tornozelo e um pé mais pronado, especialmente em mulheres, embora
seja uma correlação moderada (r = -0.525; p = 0.181). Isso está de acordo com os trabalhos de Backman e Danielson[37] e de de Groot et al.[15] que opinaram que um pé levemente pronado e uma maior flexibilidade do tornozelo
poderiam atenuar mais as cargas mecânicas no tendão da patela.
Limitações do Estudo
Este estudo não investigou a possibilidade de haver indivíduos assintomáticos com
características histopatológicas de TP, nem a base genética para o padrão de apresentação
desse transtorno. Pesquisas futuras envolvendo estudos de coorte, com amostragem de
tamanho maior, atletas amadores e investigando a base genética para a apresentação
diferente da TP são recomendados.
Conclusão
Nossos resultados sugerem que a redução da flexibilidade dos isquiotibiais, o aumento
da pronação do pé, e a redução da amplitude de dorsiflexão do tornozelo foram significativas
em participantes com TP sintomática, mas apenas um aumento na flexibilidade dos isquiotibiais
esteve fortemente relacionado à redução dos sintomas dolorosos tanto entre os participantes
do sexo masculino quanto os do sexo feminino. Assim, tentativas de modificar esses
fatores biomecânicos por meio de protocolos preventivos e de reabilitação podem ajudar
a reduzir a incidência de TP e seu impacto em atletas de esportes que envolvem saltos.