Palavras-chave
luxação do quadril - acetábulo - cabeça do fêmur
Introdução
Existe evidência crescente na literatura da associação de alterações na morfologia
óssea da região do quadril e o desenvolvimento de sintomas, além da possibilidade
de evolução para degeneração condral articular. Estas alterações podem estar relacionadas
ao fêmur, ao acetábulo ou a ambos.[1] No lado acetabular, como alterações morfológicas frequentes pode-se encontrar a
sobrecobertura (impacto femoroacetabular [IFA} tipo Pincer) e a deficiência de cobertura
(displasia do desenvolvimento do quadril [DDQ]).[2]
[3]
A sobrecobertura acetabular pode ser global ou focal. Sobrecobertura global é definida
na radiografia anteroposterior (AP) de pelve por ângulo centro-borda (CE)[4] > 40° associado a excesso de cobertura da cabeça femoral pela parede anterior e
posterior do acetábulo.[5] Sobrecobertura focal é definida pela presença de retroversão acetabular, que é uma
alteração morfológica na qual há desvio estrutural do acetábulo no plano sagital em
direção posterolateral. Radiograficamente, a retroversão acetabular é representada
pela presença do sinal do cruzamento das linhas acetabulares.[3]
[6]
[7] Ambas as alterações têm sido associadas ao impacto dinâmico entre o rebordo acetabular
e a transição cabeça-colo femoral, podendo resultar em lesões acetabulares da cartilagem
posteroinferior e do lábio, além de dor.[8]
Na deficiência de cobertura acetabular, uma área de contato reduzida entre a cabeça
femoral e o acetábulo gera força de cisalhamento excessiva na junção condrolabral
acetabular, podendo levar ao surgimento de sintomas e degeneração condral em longo
prazo. Esta deficiência mais comumente é anterossuperior no acetábulo, e o diagnóstico
de DDQ é realizado quando o ângulo CE[4] for < 25° em radiografia AP de pelve.[4]
[9]
Alguns autores têm proposto que os distúrbios do desenvolvimento do quadril não afetam
somente o fêmur proximal e o acetábulo, como é evidenciado em patologias como IFA
e DDQ, mas sim em toda a pelve.[1]
[10] Porém, não há consenso sobre quais deformidades ósseas pélvicas correlacionam-se
com as alterações morfológicas acetabulares. Os presentes autores acreditam que as
alterações estruturais ósseas da pelve e anormalidades acetabulares não são achados
isolados, e fazem parte de um continuum de alterações estruturais do desenvolvimento da pelve.
O objetivo do presente trabalho é avaliar a deformidade dos ossos pélvicos e sua correlação
com o ângulo CE.
Materiais e Métodos
Foi realizado um estudo prospectivo caso-controle entre agosto de 2014 e abril de
2015. O trabalho obteve aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa, e todos os participantes
assinaram o Termo de Consentimento.
Os participantes foram convidados ao estudo voluntariamente. Os critérios de inclusão
foram pacientes consecutivos com idade entre 20 e 60 anos. Os critérios de exclusão
foram: doença metabólica, cirurgia prévia de quadril ou coluna, radiografia evidenciando
artrose de quadril ≥ Tönnis 2, DDQ severa (ângulo CE < 20°),[4]
[9] sobrecobertura acetabular global (ângulo CE > 40° e/ou índice acetabular < 0°),[5] sinal do cruzamento das linhas acetabulares (sugerindo retroversão acetabular),
assimetria de ângulo CE < 5°, deformidades decorrentes de epifisiólise ou Legg-Perthes-Calveé,
e radiografia sem qualidade adequada.[11]
Os pacientes selecionados realizaram radiografia de pelve na incidência AP com os
pés em 15° de rotação interna, com o tubo a 120 cm de distância do filme e com o raio
direcionado ao ponto central entre a borda superior da sínfise púbica e uma linha
horizontal conectando ambas as espinhas ilíacas anterossuperiores. A distância entre
o cóccix e a sínfise púbica, além do seu alinhamento, foram fatores considerados para
avaliar a qualidade das radiografias.[11]
Foram avaliados no estudo radiográfico em ambas as hemipelves: o ângulo CE, índice
acetabular (IA), sinal do cruzamento das linhas acetabulares, mensuração do eixo horizontal
e vertical da hemipelve superior (asas do ilíaco - H1, H2 e V1), mensuração do eixo
horizontal e vertical da hemipelve inferior (ramos ísquio e ílio púbicos - HR e VR).
A definição do método para aferição dos eixos pélvicos está exemplificada na [Figura 1].
Fig. 1 Exemplificação do método de aferição dos eixos pélvicos bilateralmente. Todas as
linhas (H1, H2, V1, HR e VR) têm como referência a linha entre as gotas de lágrima.
a) H1 e H2 correspondem à aferição do eixo horizontal da hemipelve superior. Inicialmente
é definida uma linha ligando os pontos mais superiores dos tetos acetabulares (linha
supra-acetabular). H1 localiza-se 2 cm acima desta; H2 localiza-se 7 cm acima desta.
b) V1 corresponde à aferição do eixo vertical da hemipelve superior. É a medida do
ponto mais superior do osso ilíaco até a linha supra-acetabular. c) HR corresponde
à aferição do eixo horizontal da hemipelve inferior, tendo como referência um ponto
médio da articulação da sínfise púbica. d) VR corresponde à aferição do eixo vertical
da hemipelve inferior, tendo como referência um ponto médio da aferição HR.
As mensurações do eixo das hemipelves (H1, H2, V1, HR e VR) foram consideradas assimétricas
quando, na comparação de uma hemipelve em relação ao lado contralateral, evidenciou-se
uma diferença > 5 mm.
Os pacientes selecionados foram separados em dois grupos: controle e grupo 1.
No grupo controle foram incluídos pacientes cujos quadris apresentavam ângulo CE com
diferença < 5°, sem sinal do cruzamento das linhas acetabulares. No grupo 1, foram
incluídos pacientes com assimetria do ângulo CE ≥ 5°, na comparação de um quadril
em relação ao lado contralateral, sem sinal do cruzamento das linhas acetabulares.
O objetivo do presente estudo é avaliar a correlação entre a variação do ângulo CE
e a deformidade dos ossos pélvicos (assimetria de H1, H2, V1, HR e/ou VR), comparando-se
ambos os grupos.
A hipótese é de que a presença de variação do ângulo CE correlaciona-se com assimetria
da hemipelve superior (sugerindo alteração rotacional da hemipelve superior).
Para avaliar a homogeneidade entre os grupos, foi aplicado o teste de qui-quadrado
para idade, gênero, ângulo CE e IA. O teste exato de Fisher foi empregado para análise
das variáveis qualitativas intergrupos (H1, H2, V1, HR e VR). No presente estudo,
as diferenças foram consideradas estatisticamente significantes quando p < 0,05. Foi utilizado o software PASW Statistics for Windows, Version 18.0 (SPSS
Inc. Chicago, IL, EUA) na análise estatística. Um total de 50 radiografias foi selecionado
randomicamente para aferição do coeficiente κ. Dois autores, Roos B. D. e Lima E.
M. U., avaliaram as radiografias em tempos distintos com concordância interobservador
de 0,72.
Resultados
O total de pacientes avaliados no período foi de 228 (456 quadris). De acordo com
os critérios estabelecidos, foram incluídos no presente estudo 93 pacientes, sendo
49 do sexo masculino e 44 do sexo feminino. Os pacientes excluídos estão representados
na [Tabela 1]. A idade média foi de 39,9 anos (variando de 20 a 60 anos, desvio padrão [DP] = 10,52),
e o ângulo CE médio do quadril direito foi de 31,5° (variando de 20° a 40°, DP = 5,30)
e do esquerdo foi de 32,3° (variando de 20° a 40°, DP = 5,11). O IA médio foi de 5,14
(variando de 0 a 10, DP = 2,97) no quadril direito e 5,17 (variando de 0 a 10, DP = 3,09)
no quadril esquerdo.
Tabela 1
|
Critérios de exclusão
|
Excluídos
|
|
Cirurgia prévia de quadril ou coluna
|
6
|
|
Artrose ≥ Tönnis 2
|
12
|
|
DDQ severa
|
8
|
|
Sobrecobertura acetabular global
|
14
|
|
Sinal do cruzamento das linhas acetabulares
|
60
|
|
Assimetria de ÂCE 1 ou 2°
|
11
|
|
Assimetria de ÂCE + Retroversão acetabular unilateral
|
9
|
|
EPF ou Legg-Perthes-Calveé
|
3
|
|
Radiografia sem qualidade adequada
|
12
|
|
Total
|
135
|
Um total de 38 pacientes foi incluído no grupo controle, com média das mensurações
dos eixos H1, H2, V1, HR e VR representadas na [Tabela 2]. Com relação à H1, foi constatada aferição assimétrica em 4 casos (10,5%), à H2
em 5 (13,1%), à V1 em 7 (18,4%), à HR em 5 (13,1%), e à VR em 1 caso (2,63%).
Tabela 2
|
Grupos
|
|
H1 D
|
H1 E
|
H2 D
|
H2 E
|
V1 D
|
V1 E
|
HR D
|
HR E
|
VR D
|
VR E
|
|
Controle
|
1
|
71
|
71
|
94
|
93
|
101
|
102
|
67
|
67
|
67
|
68
|
|
2
|
57
|
65
|
91
|
92
|
92
|
91
|
96
|
92
|
55
|
51
|
|
3
|
55
|
58
|
85
|
87
|
103
|
100
|
90
|
88
|
80
|
79
|
|
4
|
51
|
52
|
86
|
89
|
95
|
98
|
93
|
91
|
58
|
57
|
|
5
|
43
|
43
|
90
|
80
|
115
|
115
|
80
|
88
|
55
|
55
|
|
6
|
49
|
49
|
97
|
98
|
112
|
112
|
90
|
90
|
57
|
57
|
|
7
|
66
|
67
|
88
|
88
|
110
|
110
|
76
|
76
|
68
|
69
|
|
8
|
55
|
61
|
92
|
100
|
126
|
124
|
91
|
100
|
66
|
68
|
|
9
|
50
|
50
|
111
|
113
|
134
|
134
|
83
|
84
|
60
|
60
|
|
10
|
73
|
75
|
108
|
106
|
133
|
131
|
91
|
91
|
65
|
67
|
|
11
|
88
|
88
|
106
|
106
|
131
|
139
|
81
|
90
|
77
|
77
|
|
12
|
64
|
62
|
100
|
99
|
131
|
133
|
85
|
85
|
53
|
53
|
|
13
|
72
|
72
|
102
|
100
|
126
|
121
|
76
|
78
|
88
|
90
|
|
13
|
58
|
60
|
105
|
105
|
137
|
137
|
90
|
88
|
51
|
53
|
|
15
|
57
|
60
|
110
|
115
|
105
|
107
|
87
|
85
|
75
|
73
|
|
16
|
55
|
57
|
85
|
87
|
133
|
134
|
85
|
83
|
52
|
50
|
|
17
|
78
|
78
|
108
|
109
|
132
|
127
|
91
|
90
|
69
|
67
|
|
18
|
62
|
60
|
126
|
124
|
137
|
143
|
88
|
87
|
60
|
61
|
|
19
|
72
|
70
|
100
|
100
|
142
|
142
|
80
|
82
|
80
|
80
|
|
20
|
57
|
55
|
105
|
105
|
151
|
141
|
96
|
97
|
59
|
59
|
|
21
|
60
|
60
|
103
|
102
|
112
|
112
|
84
|
82
|
77
|
76
|
|
22
|
58
|
59
|
94
|
92
|
110
|
110
|
94
|
86
|
67
|
66
|
|
23
|
56
|
56
|
98
|
97
|
97
|
98
|
89
|
89
|
77
|
77
|
|
24
|
51
|
53
|
102
|
101
|
110
|
110
|
98
|
98
|
78
|
78
|
|
25
|
50
|
50
|
98
|
98
|
111
|
112
|
89
|
91
|
57
|
56
|
|
26
|
56
|
57
|
88
|
88
|
110
|
110
|
76
|
76
|
69
|
69
|
|
27
|
65
|
68
|
86
|
88
|
104
|
101
|
89
|
88
|
81
|
80
|
|
28
|
50
|
52
|
87
|
90
|
95
|
97
|
93
|
93
|
58
|
56
|
|
29
|
50
|
50
|
112
|
113
|
134
|
134
|
83
|
83
|
60
|
61
|
|
30
|
64
|
65
|
108
|
108
|
132
|
131
|
90
|
89
|
66
|
67
|
|
31
|
64
|
63
|
99
|
98
|
132
|
133
|
85
|
86
|
54
|
53
|
|
32
|
58
|
60
|
105
|
105
|
137
|
137
|
82
|
84
|
53
|
54
|
|
33
|
55
|
57
|
85
|
86
|
130
|
131
|
85
|
85
|
52
|
51
|
|
34
|
82
|
82
|
100
|
100
|
140
|
138
|
81
|
82
|
77
|
77
|
|
35
|
56
|
55
|
103
|
102
|
112
|
112
|
82
|
80
|
76
|
76
|
|
36
|
55
|
54
|
99
|
100
|
97
|
96
|
90
|
90
|
77
|
77
|
|
37
|
63
|
64
|
102
|
101
|
107
|
109
|
95
|
95
|
75
|
75
|
|
38
|
80
|
80
|
100
|
99
|
140
|
142
|
80
|
80
|
82
|
82
|
|
Média
|
60.68
|
61.53
|
99.05
|
119.89
|
119.84
|
86.34
|
86.55
|
66.61
|
66.45
|
98.89
|
|
Desvio Padrão
|
10.212
|
10.01
|
9.291
|
16.256
|
16.045
|
6.671
|
6.5
|
10.612
|
10.84
|
9.282
|
No grupo 1, foram incluídos 55 pacientes. A média das mensurações dos eixos H1, H2,
V1, HR e VR estão representadas na [Tabela 3]. Com relação à H1, foi constatada aferição assimétrica em 24 casos (43,6%), à H2
em 50 (90,9%), à V1 em 28 (50,9%), à HR em 16 (29,09%), e à VR em 8 casos (14,5%)
([Figura 2]).
Tabela 3
|
Grupos
|
|
H1 D
|
H1 E
|
H2 D
|
H2 E
|
V1 D
|
V1 E
|
HR D
|
HR E
|
VR D
|
VR E
|
|
Inclinação Acetabular
|
1
|
45
|
45
|
90
|
80
|
100
|
99
|
105
|
105
|
68
|
66
|
|
2
|
84
|
81
|
90
|
92
|
170
|
170
|
76
|
76
|
72
|
70
|
|
3
|
60
|
50
|
110
|
100
|
100
|
100
|
80
|
80
|
72
|
74
|
|
4
|
50
|
45
|
100
|
94
|
100
|
105
|
96
|
96
|
64
|
63
|
|
5
|
62
|
62
|
107
|
100
|
113
|
115
|
87
|
87
|
72
|
72
|
|
6
|
55
|
50
|
104
|
100
|
102
|
104
|
88
|
88
|
77
|
75
|
|
7
|
53
|
58
|
72
|
89
|
105
|
109
|
75
|
73
|
63
|
70
|
|
8
|
60
|
54
|
92
|
86
|
112
|
110
|
88
|
86
|
67
|
66
|
|
9
|
56
|
57
|
110
|
117
|
110
|
115
|
97
|
107
|
64
|
62
|
|
10
|
50
|
50
|
90
|
98
|
100
|
100
|
70
|
74
|
67
|
65
|
|
11
|
73
|
64
|
107
|
97
|
112
|
112
|
69
|
70
|
65
|
65
|
|
12
|
57
|
51
|
92
|
93
|
107
|
107
|
80
|
79
|
70
|
68
|
|
13
|
50
|
58
|
92
|
97
|
128
|
123
|
90
|
92
|
47
|
47
|
|
13
|
82
|
73
|
114
|
110
|
134
|
139
|
93
|
90
|
77
|
77
|
|
15
|
69
|
69
|
120
|
124
|
138
|
143
|
90
|
80
|
84
|
75
|
|
16
|
55
|
60
|
118
|
128
|
146
|
145
|
88
|
87
|
52
|
50
|
|
17
|
52
|
58
|
76
|
80
|
127
|
124
|
89
|
89
|
59
|
59
|
|
18
|
70
|
70
|
112
|
119
|
135
|
138
|
90
|
90
|
58
|
60
|
|
19
|
55
|
48
|
115
|
100
|
128
|
108
|
85
|
83
|
40
|
42
|
|
20
|
67
|
83
|
116
|
120
|
136
|
136
|
75
|
66
|
55
|
53
|
|
21
|
61
|
62
|
118
|
109
|
135
|
143
|
85
|
75
|
87
|
72
|
|
22
|
51
|
40
|
85
|
92
|
124
|
127
|
83
|
86
|
57
|
57
|
|
23
|
49
|
49
|
148
|
123
|
144
|
146
|
95
|
93
|
60
|
60
|
|
24
|
80
|
82
|
104
|
97
|
119
|
120
|
73
|
75
|
85
|
83
|
|
25
|
47
|
46
|
82
|
88
|
118
|
116
|
86
|
84
|
57
|
55
|
|
26
|
53
|
53
|
101
|
96
|
109
|
132
|
82
|
84
|
75
|
73
|
|
27
|
69
|
69
|
102
|
98
|
138
|
129
|
92
|
90
|
60
|
58
|
|
28
|
62
|
60
|
95
|
94
|
134
|
135
|
95
|
94
|
62
|
61
|
|
29
|
42
|
42
|
94
|
102
|
144
|
149
|
102
|
95
|
72
|
67
|
|
30
|
55
|
55
|
98
|
90
|
145
|
153
|
94
|
92
|
85
|
84
|
|
31
|
60
|
60
|
75
|
81
|
113
|
112
|
82
|
83
|
85
|
73
|
|
32
|
62
|
55
|
104
|
94
|
98
|
104
|
70
|
62
|
66
|
64
|
|
33
|
57
|
61
|
102
|
108
|
108
|
104
|
86
|
88
|
77
|
77
|
|
34
|
60
|
61
|
96
|
102
|
102
|
102
|
68
|
68
|
72
|
72
|
|
35
|
44
|
44
|
83
|
91
|
97
|
97
|
77
|
76
|
65
|
65
|
|
36
|
72
|
72
|
119
|
124
|
137
|
143
|
90
|
82
|
83
|
81
|
|
37
|
55
|
61
|
120
|
128
|
145
|
145
|
87
|
87
|
51
|
45
|
|
38
|
52
|
59
|
75
|
80
|
127
|
123
|
89
|
89
|
72
|
71
|
|
39
|
67
|
67
|
113
|
119
|
135
|
139
|
92
|
90
|
58
|
60
|
|
40
|
56
|
48
|
110
|
100
|
128
|
108
|
85
|
83
|
41
|
42
|
|
41
|
66
|
83
|
116
|
121
|
136
|
136
|
71
|
67
|
54
|
44
|
|
42
|
61
|
63
|
117
|
109
|
136
|
143
|
85
|
76
|
74
|
72
|
|
43
|
51
|
41
|
86
|
92
|
124
|
127
|
82
|
86
|
60
|
60
|
|
44
|
49
|
48
|
140
|
123
|
144
|
144
|
95
|
95
|
58
|
58
|
|
45
|
80
|
82
|
104
|
96
|
119
|
121
|
73
|
74
|
85
|
83
|
|
46
|
48
|
46
|
82
|
89
|
118
|
116
|
87
|
84
|
55
|
58
|
|
47
|
54
|
53
|
101
|
95
|
109
|
132
|
82
|
84
|
74
|
73
|
|
48
|
70
|
69
|
102
|
98
|
138
|
129
|
92
|
91
|
59
|
58
|
|
49
|
44
|
42
|
94
|
101
|
143
|
149
|
98
|
92
|
65
|
66
|
|
50
|
50
|
50
|
98
|
89
|
145
|
153
|
94
|
93
|
70
|
69
|
|
51
|
60
|
61
|
76
|
81
|
113
|
113
|
83
|
83
|
75
|
73
|
|
52
|
62
|
55
|
104
|
93
|
98
|
104
|
70
|
62
|
62
|
61
|
|
53
|
57
|
62
|
101
|
108
|
108
|
104
|
86
|
86
|
72
|
72
|
|
54
|
61
|
61
|
96
|
101
|
103
|
103
|
68
|
66
|
60
|
63
|
|
55
|
45
|
44
|
83
|
92
|
97
|
96
|
77
|
77
|
60
|
59
|
|
Média
|
58.49
|
58.04
|
100.51
|
122.44
|
123.62
|
84.85
|
83.45
|
66.8
|
64.29
|
100.93
|
|
Desvio Padrão
|
10.011
|
11.41
|
13.179
|
17.359
|
18.27
|
9.093
|
9.867
|
11.453
|
10.544
|
15.608
|
Fig. 2 Exemplificação de caso do grupo 1. a) Evidencia-se assimetria das aferições do eixo
horizontal da hemipelve superior (H1 e H2). b) Evidencia-se assimetria da aferição
do eixo vertical da hemipelve superior (V1). c) Evidencia-se simetria das aferições
dos eixos horizontal e vertical da hemipelve inferior (HR e VR).
Os grupos foram considerados homogêneos, por não apresentarem diferença com relação
a gênero, idade, ângulo CE e IA (p = 0,086). Na comparação entre o grupo controle e o grupo 1 ([Tabela 4]), observou-se diferença estatisticamente significativa para a assimetria das mensurações
H1 (p < 0,001), H2 (p < 0,001) e V1 (p = 0,005). Para as medidas HR e VR, não observou-se diferença estatisticamente significativa
(p = 0,082; p = 0,077).
Tabela 4
|
H1
|
H2
|
V1
|
VR
|
HR
|
|
|
Assimetria
|
Sim
|
Não
|
Sim
|
Não
|
Sim
|
Não
|
Sim
|
Não
|
Sim
|
Não
|
Total
|
|
Inclinação
|
24
|
31
|
50
|
5
|
28
|
27
|
0
|
0
|
16
|
39
|
55
|
|
Acetabular
|
85.70%
|
47.70%
|
90.90%
|
13.20%
|
77.80%
|
47.40%
|
0.00%
|
0.00%
|
76.20%
|
54.20%
|
59.10%
|
|
Controle
|
4
|
34
|
5
|
33
|
8
|
30
|
0
|
0
|
5
|
33
|
38
|
|
14.30%
|
52.30%
|
9.10%
|
86.80%
|
12.20%
|
52.60%
|
0.00%
|
0.00%
|
13.80%
|
45.80%
|
40.90%
|
|
Total
|
28
|
65
|
55
|
38
|
36
|
57
|
0
|
0
|
21
|
69
|
88
|
|
100%
|
100%
|
100%
|
100%
|
100%
|
100%
|
100%
|
100%
|
100%
|
100%
|
100%
|
|
Significância
|
p = 0,001
|
p < 0,001
|
p = 0,005
|
p = 000
|
p = 0,82
|
|
Discussão
Existe evidência crescente na literatura da associação de alterações morfológicas
ósseas na região do quadril e o desenvolvimento de sintomas, além da possibilidade
de evolução para degeneração condral articular. Estas alterações podem estar relacionadas
ao fêmur, ao acetábulo ou a ambos.[1] No lado acetabular, como alterações morfológicas frequentes pode-se encontrar a
sobrecobertura (IFA) e a deficiência de cobertura (DDQ).[2]
[3]
Alguns autores têm proposto que os distúrbios do desenvolvimento do quadril não afetam
somente o fêmur proximal e o acetábulo, como é evidenciado em patologias como IFA
e DDQ, mas sim em toda a pelve.[1]
[10] Porém, não há consenso sobre quais deformidades ósseas pélvicas correlacionam-se
com alterações morfológicas acetabulares. Os presentes autores acreditam que o melhor
entendimento destes dismorfismos pode levar à maior facilidade no diagnóstico das
patologias articulares do quadril.
Fujii et al,[13] realizaram um trabalho avaliando o alinhamento rotacional no plano axial do osso
ilíaco em tomografias computadorizadas (TCs) de pacientes portadores de DDQ, e questionaram:
se a deformidade rotacional estava presente na DDQ; se os ângulos de rotação correlacionavam-se
com a versão e inclinação acetabulares; e se os ângulos de rotação correlacionavam-se
com a região de deficiência do acetábulo. Os resultados evidenciaram que a rotação
interna (RI) do terço superior da hemipelve (osso ilíaco cranialmente à espinha iliaca
ântero-inferior [EIAI]) correlaciona-se com o diagnóstico de DDQ.[12] A RI do osso ilíaco em pacientes portadores de DDQ também foi observada por autores
como Kumeta et al[13] e Suzuki,[14] e acredita-se que com esta deformidade o acetábulo tende a rodar anterossuperiormente,
resultando em diminuição da cobertura anterossuperior e aumento da cobertura posterior.
Também, Fujii et al[12] correlacionaram a rotação externa do terço inferior da hemipelve (entre o osso ilíaco
e o ramo ísquiopúbico) com retroversão acetabular em pacientes portadores de DDQ.
Este achado é corroborado por Kalberer et al,[15] que observaram a proeminência da espinha isquiática em pacientes com retroversão
do acetábulo.
Estas observações sugerem que alterações estruturais ósseas da pelve e anormalidades
acetabulares não são achados isolados, e fazem parte de um continuum de alterações estruturais do desenvolvimento.
No presente trabalho, evidenciou-se correlação entre a variação do ângulo CE e assimetria
da hemipelve superior. Assim como Fujii et al,[12] podemos constatar que os dismorfismos da hemipelve superior, decorrentes de distúrbios
do desenvolvimento ósseo, podem influenciar na morfologia acetabular. Porém, buscamos
analisar estes achados em um grupo de pacientes sem DDQ severa (ÂCE < 20°).
Segundo nosso conhecimento, este é o primeiro estudo que busca estabelecer correlações
entre dismorfismos pélvicos e variação do ângulo CE, no percentil 90 para ângulo CE
da população geral (20–40°).[16]
Conclusão
No presente trabalho, evidenciou-se correlação entre a variação do ângulo CE e assimetria
da hemipelve superior. Estes achados sugerem que os dismorfismos da hemipelve superior,
decorrentes de distúrbios do desenvolvimento ósseo, podem influenciar na morfologia
acetabular.