Palavras-chave
ombro - luxação do ombro - artroscopia - procedimentos cirúrgicos minimamente invasivos
Introdução
A instabilidade anterior é a mais frequente das instabilidades do ombro, sendo uma
lesão frequente e potencialmente incapacitante. O tipo de tratamento nas situações
primárias (agudas) e a escolha da técnica cirúrgica são motivo de controvérsia, mas
o entendimento que as falhas ósseas na borda anterior da glenoide são a causa principal
da recorrência da instabilidade fazem surgir procedimentos para reconstrução óssea.[1]
A evolução do tratamento destas condições começa com Bankart,[2] que foi quem descreveu em 1923 a lesão essencial na instabilidade anterior do ombro
e seu reparo com suturas do lábio e do ligamento glenoumeral inferior na borda anterior
da glenoide. Em 1954, Latarjet[3] descreve técnica para tratamento da luxação anterior do ombro realizando a transferência
do processo coracoide para a borda anterior da glenoide e fixando-o com parafuso ([Figura 1]). Posteriormente em 1958, Helfet[4] descreve procedimento semelhante, porém a ponta do processo coracoide era suturada
em partes moles junto à borda anterior da glenoide. Ele denomina este procedimento
como técnica de Bristow em homenagem ao seu professor. Com a popularização do método,
este passou a ser chamado de técnica de Bristow-Latarjet. Em nosso meio, Ferreira
Filho[5] teve papel fundamental com a padronização e divulgação desta técnica.
Fig. 1 Ilustração do procedimento de Latarjet. Trajeto e subsequente osteotomia do processo
coracoide, alinhamento e subsequente passagem dos dois parafusos e posicionamento
final na borda anterior da glenoide.
A cirurgia de Bristow-Latarjet possibilita dois tipos de efeito na estabilização do
ombro[6]: estático pelo enxerto anterior aumentando a superfície da glenoide e o dinâmico
(“sling”), pela ação do tendão conjunto e também por impedir a ascensão do 1/3 inferior
do tendão do subescapular.[7] A técnica, apesar de bastante eficaz na estabilização da articulação, apresenta
um potencial de complicações significativo: neuropraxias do nervo musculocutâneo e
do nervo axilar, problemas relacionados ao enxerto e ao material de síntese e limitação
da rotação externa levando à artrose são algumas das complicações que os pacientes
podem enfrentar.[8]
Com o desenvolvimento dos instrumentais artroscópicos, o mesmo reparo de Bankart e
a mesma capsuloplastia puderam ser feitos por meio de uma cirurgia menos invasiva.
A estabilização artroscópica oferecia inúmeras vantagens em relação à estabilização
aberta: uma visão 360° da articulação, menos complicações relacionadas à abertura
do subescapular, menor perda sanguínea, menor uso de medicamentos no pós-operatório,
além de uma reabilitação mais rápida, manutenção de amplitude de movimentos e estética.[8] Porém, os resultados iniciais de médio e longo prazo mostravam uma alta taxa de
recidiva, de ∼ 15 a 20%. Com o desenvolvimento de instrumentais e âncoras, esta taxa
passou a se assemelhar com a cirurgia aberta, sendo uma escolha do cirurgião a realização
deste procedimento por via aberta ou artroscópica.[9]
Em 2007, foi descrita a realização da técnica de Latarjet[10] por via artroscópica para casos de falha óssea, insuficiência ligamentar, lesão
do tipo avulsão umeral do ligamento glenoumeral (AULG) ou falha de reparo de Bankart.
Em 2010, foram publicados resultados de 41 casos sem complicações neurológicas ou
recidivas, e em 2014 um estudo demonstrou baixa taxa de recidivas em 62 pacientes
com seguimento de 5 anos.[11]
[12] A partir daí, relatos começaram a ser publicados com grupos ao redor do mundo, mostrando
a experiência norte-americana,[13] chinesa,[14] italiana[15] e alemã,[16] reproduzindo a técnica com segurança, sendo tema de recente editorial da revista
Arthroscopy no final de 2017.[17]
O presente estudo objetivou avaliar os resultados de curto prazo e complicações precoces
da cirurgia para correção de luxação anterior no ombro com perda óssea na glenoide
pela técnica de Latarjet por via artroscópica em experiência inicial de um único centro.
Materiais e Métodos
Este é um estudo retrospectivo, de série de casos realizado em um único centro. Os
participantes analisados no presente estudo realizaram o procedimento cirúrgico em
questão entre 2015 e 2017, e foram seguidos por no mínimo 6 meses após o procedimento.
O referido estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos,
sob o CAAE 88372518.2.0000.5485.
Foram incluídos no presente estudo pacientes com os seguintes critérios: com defeitos
ósseos na borda anterior da glenoide > 20% ou “engaging” Hill-Sachs (avaliados por
meio de ressonância magnética [RM] ou tomografia computadorizada [TC]) e questionário
Instability Severity Index Score (ISIS)[18] > 6 ou casos de falha no reparo de Bankart; casos submetidos à cirurgia de Latarjet
por via artroscópica; mínimo de 6 meses de seguimento. Pacientes com lesão do manguito
rotador ou com fraturas do terço proximal do úmero não foram incluídos. No total foram
incluídos 30 pacientes.
No presente trabalho, foram avaliadas intercorrências relacionadas ao procedimento.
Além disso, foram coletadas as complicações precoces do procedimento, assim como a
necessidade de nova intervenção cirúrgica. Os dados foram coletados a partir de prontuário
médico. Não houve cálculo amostral por se tratar de estudo de grupo único e não comparativo.
As informações que foram coletadas segundo os desfechos descritos foram apresentadas
através de estatística descritiva para descrever e resumir o conjunto de dados.
Técnica Cirúrgica
Os pacientes foram operados na posição em cadeira de praia, com uma leve inclinação
da cabeça para o lado contralateral e colocação dos campos que permitam uma exposição
do tórax mais medial. O posicionamento do portal posterior, em linha com a articulação,
é fundamental para o adequado posicionamento do portal M e o correto ângulo para fixação
do enxerto na glenoide. Os portais utilizados foram os descritos por Lafosse e estão
ilustrados na [Figura 2].
Fig. 2 Portais artroscópicos para realização do Latarjet artroscópico. Figura A. Posicionamento
do portal posterior (em linha com a articulação). Figura B. Portais mostrados na imagem
em sentido horário: (M) mid-sub; (P) peitoral; (C) coracoide; (A) anterior; (AL) ântero-lateral.
A cirurgia pode ser descrita em etapas:
1. Identificação da lesão de Bankart e abertura do espaço rotador (visualização: portal
posterior; portal de trabalho: anterior)
A cirurgia se inicia com o portal posterior com o detalhe que o mesmo deve ser posicionado
em linha com a articulação. Realizamos a identificação da lesão de Bankart ([Figura 3]), o desbridamento da borda anterior da glenóide e a abertura do intervalo dos rotadores
até a visualização da borda lateral do processo coracóide.
Fig. 3 Identificação da lesão labral com visualização pelo portal posterior (L) utilizando
o portal posterior. (G) Glenoide. (L) Labrum.
2. Preparo da borda anterior da glenoide, dissecção do tendão conjunto e realização
dos portais midsub e peitoral (visualização: portal anterolateral; portal de trabalho:
anterior)
Neste passo, passamos a ocupar o espaço anterior do ombro. Com a utilização do portal
anterolateral preparamos a borda anterior da glenoide ([Figura 4]), limpando todo o lábio residual e podemos visualizar o intervalo entre o tendão
conjunto e o deltoide, assim como entre o tendão conjunto e o subescapular. Neste
passo, identificamos os nervos axilar e musculocutâneo e liberamos as aderências laterais
do tendão conjunto.
Fig. 4 Visualização da borda anterior da glenoide (G) pelo portal ântero-lateral.
O próximo passo foi a realização do portal midsub que é realizado 1,0 cm acima da
prega axilar e em linha com o processo coracoide. Por meio deste portal, podemos visualizar
adequadamente o processo coracoide desde sua porção lateral até sua porção medial,
assim como o tendão do músculo subescapular em toda a sua extensão craniocaudal.
Neste passo, realizamos também, de dentro para fora, o portal peitoral ou “suicida”
por onde será feito o split do subescapular e a passagem do enxerto com fixação na
borda anterior da glenóide.
Este passo é de fundamental importância para a adequada fixação do enxerto na borda
anterior da glenóide, uma vez que a colocação do mesmo muito lateral resultará em
uma posição lateral do enxerto e consequente impacto com a cabeça umeral.
3. Esqueletização e Preparo do Processo coracoide (visualização: portal midsub; portais
de trabalho: peitoral e coracoide)
A correta visualização do processo coracoide ([Figura 5]) é fundamental para o processo de esqueletização, liberando-o de suas inserções
ligamentares e musculares.
Fig. 5 Visualização do processo coracoide pelo portal midsub e esqueletização medial e lateral.
(T) Tendão conjunto.
A soltura do tendão do músculo peitoral menor é uma etapa delicada que deve ser feita
cuidadosamente, pois o nervo musculocutâneo encontra-se imediatamente posterior ao
mesmo. A completa liberação do tendão conjunto de suas aderências e vinculas é importante
para sua adequada mobilização e transferência na etapa seguinte.
Após a esqueletização do processo coracoide foram feitos os furos no processo coracoide
usando guia alfa e beta (DePuy Synthes, Warsaw, IN, EUA) e a colocação de dois Top
Hats deslizantes (DePuy Synthes, Warsaw, IN, EUA). Estes implantes permitem o deslizamento
dos parafusos com a compressão do processo coracoide contra a borda anterior da glenoide.
Após a esqueletização e preparo, o processo coracoide é osteotomizado na sua base
com o uso de osteótomo.
4. Split do subescapular (visualização: portal midsub; portal de trabalho: peitoral)
O próximo passo foi o “split” do músculo subescapular ([Figura 6]) que deve ser feito entre os 2/3 superiores e o 1/3 inferior, com a identificação
do nervo axilar e a sua proteção.
Fig. 6 Split do tendão subescapular (S) com visualização pelo portal midsub. (H) Cabeça
humeral.
5. Transferência e Fixação do Processo Coracoide (visualização: portais midsub, anterolateral
e posterior; portal de trabalho: peitoral)
Com o uso de dois guias ([Figura 7]) tubulares canulados que atravessam uma cânula dupla, o processo coracoide é fixado
e assim pode ser mobilizado como um joystick. Com o processo coracoide estabilizado,
podemos atravessar o mesmo pelo split realizado no subescapular. Como os guias são
canulados, uma vez encontrada a posição adequada, o enxerto é fixado na borda anterior
da glenoide com dois fios de Kirschner.
Fig. 7 Preparação do coracoide (C) com visualização pelo portal Midsub. (α β) Guias alfa
e beta.
Esta etapa ainda é realizada sem um adequado guia de posicionamento na borda anterior
da glenoide. Alguns parâmetros devem ser obedecidos, tais como o paralelismo entre
os fios passados pelo enxerto e a posição do enxerto na borda anterior da glenoide,
que deve estar abaixo da linha do equador, alinhado com a superfície articular, evitando
enxertos posicionados muito mediais ou laterais.
Uma vez encontrado o adequado posicionamento do enxerto na borda anterior da glenoide,
os guias canulados são retirados, e podemos proceder à brocagem e passagem dos parafusos
([Figura 8]). Como a broca apresenta medida de comprimento, podemos aferir o tamanho dos parafusos
a serem utilizados assim que a mesma transpassa a cortical posterior da glenoide.
Na nossa experiência, o tamanho destes parafusos varia entre 32 e 36 mm dependendo
do tamanho do paciente e do posicionamento na glenoide.
Fig. 8 Fixação do coracoide (C) na borda anterior da glenoide (G) com parafusos passados
pela cânula dupla (cd) através de trabalho pelo portal peitoral.
Nosso protocolo de pós-operatório inclui imobilização em tipoia e mobilidade passiva
assim que permitido pela dor e mantida por até 6 semanas, quando se inicia o fortalecimento.
Os pacientes são liberados para a prática de atividade física em média após 4 meses
e um controle de TC para a identificação da consolidação do enxerto.
Nos 10 primeiros pacientes, o procedimento foi feito de maneira artroscópica com subsequente
exposição aberta do sítio cirúrgico para checagem e ajustes necessários. Os 20 casos
seguintes foram feitos de maneira totalmente artroscópica.
Resultados
O tempo de seguimento foi de no mínimo 6 meses, variando de 6 a 26 meses; não houve
exclusão de nenhum paciente operado por advento de outra lesão não relacionada. No
grupo estudado, 26.7% (8/30) dos pacientes eram do gênero feminino e a média de idade
foi de 34 anos (de 19 a 55 anos, mínimo e máximo).
Nos 10 primeiros casos, o procedimento foi feito de maneira artroscópica com subsequente
exposição aberta do sítio cirúrgico previamente planejada para checagem e ajustes
necessários, sendo que não houve conversão dos casos para a realização do procedimento
em si, mas sim para checagem e garantia de conformidade dos reparos. As principais
dificuldades técnicas observadas e corrigidas nos primeiros casos foram: (1) split
muito superior do subescapular; (2) perfuração e preparo do coracoide não alinhado
com o eixo do mesmo; (3) posicionamento lateral do enxerto.
Estas dificuldades foram encontradas principalmente pelo posicionamento inadequado
dos portais. O portal midsub permite a visualização do tendão do subescapular em toda
a sua extensão com a realização do split na altura mais adequada. O portal peitoral
(também denominado de portal suicida) realizado em linha com a articulação é fundamental
para o adequado posicionamento do enxerto na borda anterior da glenoide. Nos primeiros
casos da nossa curva de aprendizado, por receio da realização destes dois portais,
estes dois passos da cirurgia poderiam ter sido dificultados. A partir do 11o caso, passamos a realizar o procedimento totalmente por via artroscópica, e aí sim,
puderam-se observar algumas complicações inerentes à curva de aprendizado. As complicações
aconteceram nos casos de número 6, 11, 12, 14, e 20. Vale ressaltar que do 21° ao
30° casos não foram observadas complicações.
O número total de complicações foi de 5 eventos (16,7%), sendo 1 intra-operatória
(3.3%), 2 eventos pós-operatórios transitórios (6,7%) e 2 eventos pós-operatórios
que levaram a um novo procedimento cirúrgico de forma eletiva (6,7%). Nenhum paciente
teve mais de uma complicação, totalizando 5 casos (16,7%). Nenhum caso teve sangramento
inesperado no ato cirúrgico, tampouco houve hematoma observado no pós-operatório.
As suturas evoluíram como o esperado e nenhuma deiscência ocorreu. Nenhuma infecção
foi observada, sendo profunda ou de ferida operatória.
Em 1 caso (3,3%) ocorreu fratura do processo coracoide no momento de fixação do enxerto
na borda anterior da glenoide e optamos por converter a artroscopia para cirurgia
aberta. O fragmento residual foi suficiente para manter um parafuso fixando o enxerto.
Por motivo de segurança, optamos pela conversão para cirurgia aberta para checagem
e finalização do procedimento. Este caso foi o 20° caso da série. Dois casos (6,7%)
apresentaram neuropraxia do músculo cutâneo, que foi revertida com o período de fisioterapia,
sem sequelas e nem necessidade de medicações. Dois pacientes (6,7%) evoluíram com
limitação da rotação externa por posicionamento muito lateral dos parafusos. Para
tais casos houve necessidade de nova intervenção para retirada do material de síntese
e “emagrecimento” da borda lateral do enxerto para liberação articular. Os casos evoluíram
de maneira satisfatória após tal procedimento.
Não houve caso de recidiva na amostra durante o tempo de seguimento estudado. Vale
lembrar que um seguimento maior pode trazer os resultados definitivos deste procedimento.
Discussão
É consenso na literatura que a cirurgia de Bristow-Latarjet é ferramenta útil dentro
do arsenal do tratamento cirúrgico das instabilidades glenoumerais, ocupando papel
importante no tratamento dos pacientes com lesões ósseas, lesões Hill-Sachs do tipo
“engaging”, lesões HAGL, em pacientes jovens e envolvidos em esportes de contato ou
nas recidivas das lesões de Bankart.[19]
[20] Os estudos mostram bons resultados apesar de incidência de complicações que preocupam
tanto em curto, médio ou longo prazo.
As principais complicações são sangramento, neuroapraxias do musculocutâneo e axilar,
problemas relacionados ao enxerto (fraturas ou solturas de material de síntese) e
a excessiva limitação da rotação externa que pode levar a artrose.[10]
[11] Baseado na literatura recente, a cirurgia de Latarjet, quando realizada por via
artroscópica, tem um risco de lesões nervosas entre 0 e 1,6%, significativamente menor
que a cirurgia aberta. Acreditamos que isso ocorre pela direta visualização das estruturas
neurovasculares, menor necessidade de afastamento, além de menor tração direta sobre
o enxerto, uma vez que o mesmo não é tracionado para fora da articulação para o seu
preparo. O estudo de Zhu et al[14] confirma que uma indicação para o Latarjet artroscópico é o seu menor risco de lesões
nervosas ou vasculares.
Outro ponto importante é o posicionamento do enxerto: quando colocado muito lateral
pode levar à excessiva restrição da rotação externa e artrose, enquanto o posicionamento
muito alto ou medial pode levar a altas taxas de recidiva. A literatura mostra que
o mau posicionamento do enxerto varia entre 20 e 67% na cirurgia aberta e entre 4
e 24% quando a cirurgia é realizada por via artroscópica.[21]
[22]
[23] Acreditamos que a visão aumentada proporcionada pelo artroscópio aliado à possibilidade
de olharmos por diversos ângulos faz com que o posicionamento seja mais preciso na
técnica artroscópica.
No nosso entendimento, o cirurgião e equipe devem estar treinados para realizar a
cirurgia por via aberta, ter conhecimento e familiaridade com o instrumental artroscópico,
e a cirurgia pode e deve ser convertida para aberta a qualquer sinal de perigo para
o paciente ou dificuldade técnica que ponha em risco a precisão e o resultado final.
Para qualquer procedimento, a transição da cirurgia aberta para a artroscopia é um
processo com uma curva de aprendizado e um aprimoramento contínuo. A curva de aprendizado
do Latarjet artroscópico tem sido demonstrada na literatura, mas também existe para
o Latarjet aberto. Autores[15]
[24]
[25] relatam que entre 18 a 30 casos são necessários para o cirurgião e a equipe sentirem
segurança no procedimento, e foi bastante semelhante com a nossa experiência, na qual
a checagem sistemática por via aberta foi realizada nos 10 primeiros casos com alguns
ajustes necessários, seguindo por 20 casos totalmente artroscópicos com cinco complicações
nos 10 primeiros casos e nenhuma complicação nos 10 casos finais da série. A técnica
artroscópica demanda certa experiência prévia com artroscopia, mas foi possível obter
um número baixo de complicações mesmo em uma experiência inicial.
Particularmente nesta cirurgia, o trabalho em equipe é fundamental. Um conhecimento
da técnica por parte de toda a equipe, assim como um adequado controle dos parâmetros
de pressão e fluxo por parte do anestesista é fundamental para não aumentar excessivamente
o tempo cirúrgico e para o sucesso do procedimento. Com a evolução da técnica e instrumentais,
as complicações tendem a se minimizar, como mostram os estudos recentes, e podemos
ter uma técnica bastante eficaz para a estabilização da articulação glenoumeral com
pequenas taxas de complicações. Aliado a isso, os novos estudos que estão sendo realizados
avaliando posicionamento do enxerto, ângulo de fixação dos parafusos e análise da
reabsorção do enxerto só trazem melhorias e um melhor entendimento da técnica e do
que acontece com nossos pacientes no longo prazo.
Dentre as principais vantagens da técnica artroscópica, podemos citar o mais preciso
posicionamento do enxerto junto à borda anterior da glenoide, a adequada visualização
das estruturas neurovasculares e o tratamento das lesões associadas, além das vantagens
inerentes às cirurgias minimamente invasivas (menos dor no pós-operatório, menor taxa
de infecção e mais rápida reabilitação, além de ser esteticamente mais aceitável).[8]
[9]
Assim como em outros artigos da literatura contemporâneos,[13] este estudo apresentou resultados de curto a médio prazo de um grupo de pacientes
tratados através de Latarjet artroscópico por grupo de cirurgiões em início de curva
de aprendizado. Estudos subsequentes devem mostrar resultados de longo prazo sobre
a aplicação de Latarjet por via artroscópica para correção de luxação anterior do
ombro com perda óssea glenoidal.
Conclusão
Os resultados preliminares encontrados no presente estudo com o uso da técnica de
Latarjet artroscópico no tratamento da instabilidade anterior do ombro são animadores.
A incidência de complicações foi baixa em relação a lesões de estruturas neurovasculares
no posicionamento do enxerto.