Palavras-chave
osteoartrose - osteotomia - esportes - tíbia
Introdução
Ultimamente, tem ocorrido um aumento do número de adultos jovens que apresentam osteoartrose (OA) do joelho e que, pela idade e atividade funcional, são incompatíveis para a realização de artroplastia total de joelho (ATJ).[1]
[2]
[3]
[4] Mais de 25% das pessoas < 70 anos apresentam OA dos joelhos com expectativa de aumento exponencial futuramente. Atividades esportivas e recreacionais são muito importantes para esse público e a OA acaba limitando sua prática.[5]
A OA unicompartimental (OAUJ) acomete, preferencialmente, o compartimento femorotibial medial e possui graus variados de acometimento, segundo critérios radiográficos definidos por Ahlback. Os sintomas predominantes são a dor que piora com a carga e a deformidade angular progressiva.
Dentre as diversas formas de tratamento da OAUJ destaca-se a osteotomia tibial alta (OTA) indicada para paciente fisiologicamente jovens (< 60 anos), com OA medial isolada, amplitude de movimento (ADM) preservada, ausência de instabilidade ligamentar associada e sintomas mínimos femoropatelares e que apresentaram falha do tratamento conservador. Como contraindicações relativas para a realização da OTA: pacientes > 65 anos, OA avançada, OA tricompartimental, artrite inflamatória, ADM diminuída (< 120°), fumante, obesidade (índice de massa corpórea (IMC) > 30), contratura em flexão > 5°.[5]
Existem três tipos principais de OTA: com cunha de abertura, com cunha de subtração e a cupuliforme. Existem várias vantagens da cunha de abertura em comparação com a cunha de fechamento: maior precisão e facilidade para correção nos planos coronal e sagital; não há necessidade de osteotomia da fíbula ou abordagem da articulação tibiofibular proximal (protegendo o nervo fibular) e preservação do estoque ósseo, facilitando a conversão para ATJ. As desvantagens da cunha de abertura: criação de um defeito ósseo, que, dependendo do tamanho, necessita o uso de enxerto ósseo, risco de pseudoartrose, possibilidade de perda da correção devido ao colapso da síntese, maior tempo sem carga e maior atenção ao slope tibial.[3]
[4]
[6]
[7]
[8]
A técnica foi descrita pela primeira vez em 1961 por Jackson et al.[9] entretanto só se tornou popular a partir de 1965 quando Coventry[10] promoveu a técnica para tratamento da OA medial associada a deformidade em varo. Desde então, ocorreram inúmeros avanços quanto à técnica, fixação e seleção dos pacientes, com diminuição das complicações e melhores resultados.[3]
[4]
[6]
[7]
[8]
A OTA visa diminuir a carga no compartimento afetado e transferi-la para o compartimento sadio, corrigindo a deformidade angular e promovendo a melhora sintomática do joelho afetado.[1]
[2]
[3]
[7]
[8]
Diante das excelentes taxas de sobrevida da OTA[11]
[12]
[13]
[14]
[15]
[16]
[17]
[18]
[19] e dos riscos potenciais da ATJ, como afrouxamento, desgaste do material ou fraturas periprotéticas em pacientes praticantes de atividade de alto impacto,[20] é recomendável optar-se pela primeira em adultos jovens. Johnstone sugeriu que se a osteotomia for indicada para pacientes jovens e o mesmo possa estar apto para retorno ao trabalho e às atividades esportivas. A taxa de retorno ao esporte relatada em pacientes submetidos a ATJ é de apenas 20%.[5]
Embora a técnica da OTA esteja bem descrita, existem poucos estudos que analisam o nível de retorno ao esporte e o resultado clínico após a realização da OTA com cunha de abertura no adulto jovem com OAUJ.[2]
[3]
[22]
O objetivo do presente estudo consiste em avaliar o retorno ao esporte em pacientes jovens e ativos praticantes de alguma modalidade esportiva submetidos a OTA com cunha de abertura através dos escores Lysholm, International Knee Documentation Committee (IKDC, na sigla em inglês), escala analógica da dor e nível de retorno em comparação ao pré-operatório.
Material e métodos
O estudo foi realizado no Centro de Traumatologia do Esporte, no período de julho de 2017 até janeiro de 2018, com a aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa da instituição.
Descrição da Amostra
Foram avaliados 12 pacientes com média de idade de 34,3 anos (30-44), 2 mulheres e 10 homens com IMC médio de 28,8 Kg/m2 (24,4–33,7 Kg/m2). O grau de ADM no pré-operatório variou de 90° até 132° (média 108,3°) e o valor do eixo mecânico do membro inferior afetado variou de 6,4° de varo até 2° de valgo, com média de 3,4 ± 2,2° de varo.
Seis eram praticantes de corrida de rua (metragens variando de 5 a 21 quilômetros), quatro praticantes de futebol de campo, um de handebol e um praticante de artes marciais (artes marciais mistas [MMA, na sigla em inglês]).
Foram incluídos pacientes adultos com idades entre 20 e 55 anos, com OA grau II e III segundo critérios de Ahlback, IMC < 35, com ADM > 90° e afastamento do esporte há pelo menos 3 meses.
Foram excluídos pacientes submetidos a cirurgia prévia no joelho afetado; portadores de artrose bicompartimental ou tricompartimental; deformidade em varo > 15°; presença de instabilidade ligamentar sintomática; pacientes diabéticos, fumantes e pacientes com artrites inflamatórias.
Descrição dos Procedimentos
Todos os pacientes foram submetidos a tratamento clínico prévio por, no mínimo, 6 meses antes da realização da cirurgia. Todos os pacientes foram submetidos ao procedimento de OTA utilizando-se método de cunha de abertura com utilização de placa tipo Puddu[23] e submetidos ao mesmo protocolo de reabilitação.
Foi realizado o planejamento pré-operatório com a utilização de radiografias panorâmicas longas com análise dos eixos mecânico e anatômico, permitindo o cálculo do tamanho da cunha a ser executada, conforme o método descrito por Noyes e Dugdale.[24]
[25]
A OTA foi realizada com o objetivo de se manter neutro o eixo de carga do membro inferior, associada à hipercorreção em torno de 2° a 5° de valgo, de modo que o eixo mecânico passe lateralmente ao centro da articulação do joelho, idealmente entre a porção média e lateral do côndilo lateral (62%), discretamente lateral à eminência intercondilar lateral.[3]
[24]
Foram realizadas cunhas de abertura de até 15 mm, sendo que até 10 mm utilizou-se somente o espaçador da placa e de 10 a 15 mm foi acrescentado enxerto autólogo tricortical da crista ilíaca ipsilateral.
A carga só foi liberada após consolidação radiográfica da fratura. Os questionários também foram aplicados em todos os casos antes da cirurgia e após 6 semanas, 3 meses, 6 meses e 12 meses de pós-operatório. Foram aplicados os questionários IKDC e Lysholm para avaliação do retorno ao esporte, atividades diárias, parâmetros clínicos e satisfação pessoal para cada paciente. Ainda foi aplicada a escala analógica de dor no período pré- e pós-operatório com 6 meses.
Através da avaliação de radiografias panorâmicas longas anteroposterior, foram registrados os valores do eixo anatômico (eixo femorotibial) e mecânico do membro inferior no pré-operatório e pós-operatório e o grau de artrose seguindo os critérios de Ahlback.
Foi questionado aos pacientes o nível de retorno ao esporte: não retornou ao esporte; retornou em nível muito abaixo do pré-operatório; retornou em nível pouco abaixo do pré-operatório; retornou em nível igual ao pré-operatório e retornou em nível superior ao pré-operatório.
Na análise estatística, utilizou-se a correlação de Spearman para medir o grau de relação entre todas as variáveis quantitativas em todos os momentos: arco de movimento, eixo anatômico, escala analógica de dor, tempo de consolidação, índice de Lysholm, pontuação no IKDC e IMC.
O teste de Mann-Whitney foi utilizado para comparar o grau de artrose para algumas variáveis quantitativas: eixo anatômico pré-operatório, ganho de pontos na escala analógica de dor, índice Lysholm, resultado do questionário IKDC e tempo de consolidação. Os resultados foram expressos como média e desvio padrão (DP).
Resultados
Observou-se correção do eixo anatômico: variação de 3,6° a 9° de valgo (média 6,38 ± 1,4°). O tempo de consolidação radiográfica variou de 7 a 11 semanas (média 9,16 semanas). Este valor foi correlacionado com os sintomas do paciente e o tempo no qual foi iniciada a carga parcial progressiva.
Em relação ao escore de Lysholm, a pontuação média dos 12 pacientes estudados foi de 83,8 ± 8,2 pontos, do qual houve uma variação entre 70 e 94 pontos (p < 005). Nesta avaliação, 7 pacientes (58,33%) obtiveram resultados bons e 5 pacientes (41,66%) apresentaram resultados regulares.
Avaliando-se o questionário IKDC após a padronização para o sistema percentil, obteve-se uma média de 75,8 ± 9,8 com variação entre 62% e 84% (p < 0,05).
Um dos pacientes evoluiu com retardo de consolidação, sendo necessário novo procedimento para colocação de enxerto autólogo após 6 meses do procedimento inicial, evoluindo satisfatoriamente após o período de 1 ano do procedimento inicial.
Dos pacientes estudados, um paciente retornou ao esporte em nível muito abaixo do pré-operatório, oito pacientes retornaram em nível pouco abaixo do pré-operatório, dois pacientes retornaram no mesmo nível do pré-operatório e um paciente retornou em nível acima do pré-operatório.
Comparando-se o ganho de ADM e escala analógica de dor no pré- e pós-operatório, verificamos que existe diferença estatisticamente significante entre os momentos para as duas variáveis. A média da escala analógica de dor caiu de 6,83 para 3,53 e a média de ADM aumentou de 108,33° para 123,92° (p < 0,001) ([Tabela 1]).
Tabela 1
Momento
|
Média
|
Mediana
|
Desvio Padrão
|
Q1
|
Q3
|
n
|
IC
|
Valor-p
|
Arco de movimento
|
Pré
|
108,33
|
105,0
|
12,64
|
101,5
|
115,0
|
12
|
7,15
|
< 0,001
|
Pós
|
123,92
|
124,0
|
7,49
|
119,5
|
130,0
|
12
|
4,24
|
Eixo anatomico
|
Pré
|
−3,32
|
−3,9
|
2,75
|
−5,4
|
−2,0
|
12
|
1,56
|
< 0,001
|
Pós
|
6,38
|
6,5
|
1,89
|
4,8
|
8,0
|
12
|
1,07
|
Escala analógica dor
|
Pré
|
6,83
|
6,4
|
1,12
|
6,0
|
7,9
|
12
|
0,64
|
< 0,001
|
Pós
|
3,53
|
3,4
|
0,77
|
3,1
|
4,1
|
12
|
0,44
|
Utilizou-se a correlação de Spearman para medir o grau de relação entre todas as variáveis quantitativas em todos os momentos. O teste de correlação foi utilizado para validar as correlações e os valores foram expressos em porcentagem. Nesta escala, considera-se o valor de 0 a 20% como uma correlação péssima; 20 a 40% ruim; 40 a 60% regular; 60 a 80% boa e 80 a 100% ótima.
Através dessa análise ([Tabela 2]), verificou-se que existem algumas correlações estatisticamente significantes: entre eixo anatômico pré e o escore Lysholm no valor de + 65,4%, ou seja, quanto maior a deformidade no pré-operatório, melhor foi o resultado obtido no escore subjetivo de Lysholm; entre eixo anatômico pré e o ganho na escala analógica de dor + 48,5%; entre o eixo anatômico pré e o resultado do questionário IKDC + 48,5%. Uma correlação inversamente proporcional entre o eixo anatômico pré e o ganho de ADM - 42,4%, ou seja, quanto maior era a deformidade no pré-operatório, menor foi o ganho de ADM (p < 0,001).
Tabela 2
|
|
|
ADM
|
|
Eixo anatômico
|
|
Escala Analógica Dor
|
Tempo de consolidação
|
Índice
|
Índice
|
|
|
Pré
|
Pós
|
Ganho
|
Pré
|
Pós
|
Ganho
|
Pré
|
Pós
|
Ganho
|
|
Lysholm
|
IKDC
|
Pós
|
Corr
|
76.50%
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
ADM
|
valor-p
|
0.004
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
Ganho
|
Corr
|
−67.00%
|
−19.70%
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
valor-p
|
0.017
|
0.539
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
Pré
|
Corr
|
57.90%
|
58.00%
|
−42.40%
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
valor-p
|
0.049
|
0.048
|
0.169
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
Eixo
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
Pós
|
Corr
|
21.40%
|
11.30%
|
−8.70%
|
35%
|
|
|
|
|
|
|
|
|
Anatômico
|
valor-p
|
0.503
|
0.727
|
0.789
|
0.264
|
|
|
|
|
|
|
|
|
Ganho
|
Corr
|
−56.10%
|
−74.50%
|
32.70%
|
−87.90%
|
−4.60%
|
|
|
|
|
|
|
|
|
valor-p
|
0.058
|
0.005
|
0.299
|
<0,001
|
0.888
|
|
|
|
|
|
|
|
Pré
|
Corr
|
7.80%
|
−3.40%
|
−19.80%
|
−32.50%
|
4.40%
|
21.20%
|
|
|
|
|
|
|
|
valor-p
|
0.810
|
0.917
|
0.538
|
0.303
|
0.892
|
0.506
|
|
|
|
|
|
|
Escala analógica
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
Pós
|
Corr
|
7.20%
|
−7.80%
|
−20.90%
|
3.20%
|
−43.80%
|
−1.20%
|
17.20%
|
|
|
|
|
|
dor
|
valor-p
|
0.824
|
0.811
|
0.514
|
0.922
|
0.155
|
0.97
|
0.594
|
|
|
|
|
|
Ganho
|
Corr
|
0.90%
|
−6.10%
|
−5.30%
|
48.50%
|
−3.90%
|
−27.50%
|
−87.90%
|
15.70%
|
|
|
|
|
|
valor-p
|
0.978
|
0.874
|
0.869
|
0.110
|
0.905
|
0.388
|
< 0,001
|
0.626
|
|
|
|
|
Tempo de consolidação
|
Corr
|
50.80%
|
61.20%
|
−37.60%
|
34.40%
|
−47.50%
|
−58.30%
|
−19.90%
|
24.60%
|
19.60%
|
|
|
|
|
valor-p
|
0.092
|
0.035
|
0.228
|
0.274
|
0.119
|
0.047
|
0.536
|
0.441
|
0.541
|
|
|
|
Índice Lysholm
|
Corr
|
64.60%
|
52.80%
|
−52.90%
|
65.40%
|
11.10%
|
−67.40%
|
9.80%
|
33.70%
|
9.00%
|
30.80%
|
|
|
|
valor-p
|
0.023
|
0.077
|
0.077
|
0.021
|
0.731
|
0.016
|
0.763
|
0.284
|
0.781
|
0.331
|
|
|
Índice IKDC
|
Corr
|
60.80%
|
53.40%
|
−23.80%
|
43.90%
|
45.60%
|
−36.40%
|
44.90%
|
−3.70%
|
−32.00%
|
−6.50%
|
54.90%
|
|
|
valor-p
|
0.036
|
0.074
|
0.456
|
0.153
|
0.136
|
0.244
|
0.144
|
0.909
|
0.311
|
0.842
|
0.064
|
|
IMC
|
Corr
|
−39.20%
|
−45.20%
|
−12.00%
|
−52.20%
|
−51.90%
|
34.60%
|
7.10%
|
14.20%
|
−5.10%
|
12.70%
|
−12.00%
|
−68.80%
|
|
valor-p
|
0.208
|
0.140
|
0.709
|
0.082
|
0.084
|
0.271
|
0.827
|
0.659
|
0.875
|
0.693
|
0.711
|
0.044
|
Outras correlações observadas que também merecem destaque foram entre o valor do IMC e o resultado do IKDC - 58,8% e entre a ADM no pré-operatório e o resultado do IKDC + 60,8.
Através do teste de Mann-Whitney, concluiu-se que não existe diferença estatisticamente significante entre os graus de artrose para as variáveis analisadas: eixo anatômico pré-operatório, ganho de pontos na escala analógica de dor, Lysholm, IKDC e tempo de consolidação ([Tabela 3]).
Tabela 3
Grau de Artrose (Ahlback)
|
Média
|
Mediana
|
Desvio Padrão
|
Q1
|
Q3
|
n
|
IC
|
valor-p
|
Eixo anatômico pré-operatório
|
Grau II
|
−2,80
|
−2,2
|
3,55
|
−6,2
|
−1,2
|
5
|
3,11
|
0,808
|
Grau III
|
−3,69
|
−4,2
|
2,25
|
−4,8
|
−3,5
|
7
|
1,67
|
Dor Ganho
|
Grau II
|
−3,48
|
−4,0
|
0,98
|
−4,0
|
−3,0
|
5
|
0,86
|
0,935
|
Grau III
|
−3,17
|
−3,2
|
1,34
|
−4,2
|
−2,5
|
7
|
0,99
|
Indice Lysholm
|
Grau II
|
82,00
|
82,0
|
9,27
|
76,0
|
90,0
|
5
|
8,13
|
0,624
|
Grau III
|
85,14
|
88,0
|
8,07
|
80,0
|
90,0
|
7
|
5,98
|
Indice IKDC
|
Grau II
|
78,40
|
80,0
|
5,18
|
74,0
|
82,0
|
5
|
4,54
|
0,414
|
Grau III
|
74,00
|
76,0
|
8,16
|
69,0
|
79,0
|
7
|
6,05
|
Tempo de consolidação
|
Grau II
|
9,40
|
10,0
|
1,34
|
8,0
|
10,0
|
5
|
1,18
|
0,618
|
Grau III
|
9,00
|
9,0
|
1,29
|
8,5
|
9,5
|
7
|
0,96
|
Discussão
Há diversos questionamentos quanto ao resultado e a capacidade dos pacientes submetidos ao procedimento de OTA retornarem efetivamente à prática de esportes, além da possibilidade de praticar as atividades de vida diária e recreacionais sem limitações e sem dor.
A OTA com cunha de abertura para tratamento de OAUJ e mau alinhamento apresenta excelentes ou bons resultados na literatura: Hernigou et al.[13] relataram 81% de resultados excelentes ou bons após 10 anos de seguimento com 53 pacientes. Aglietti et al.[26] acompanharam 61 pacientes clinicamente até 21 anos após realização de OTA e observaram que 79% deles não tiveram nenhuma dor ou apresentavam dor leve no joelho operado.
Em relação à prática desportiva após OTA, alguns estudos prévios da literatura mostraram bons resultados com altas taxas de retorno. Salzmann et al.[22] encontraram em sua amostra que 90,9% dos pacientes estavam participando de esportes e atividades recreativas, comparado com 87,9% antes da cirurgia. O índice de Lysholm e a escala visual analógica de dor aumentaram significativamente, de 42,4 para 69,6 e de 6,9 para 2,9, respectivamente (p < 0,01).
Faschingbauer et al.[21] analisaram a taxa de retorno ao trabalho e ao esporte em 51 pacientes submetidos a OTA. Segundo os autores, 92.3% retornaram aos níveis de atividade física semelhantes ao pré-operatório e observaram uma troca de atividades de alto impacto para atividades de baixo impacto. Além disso, notaram uma diminuição na duração da atividade esportiva e na quantidade das modalidades esportivas.
Hoorntje et al.[27] realizaram uma revisão sistemática sobre o tema e encontraram uma taxa de retorno ao esporte em estudos com boa metodologia e baixo risco de viés (11 estudos) de 82%. Também reportaram uma taxa de sobrevivência de 87 a 99% com 5 anos e de 66 a 84% com 10 anos após OTA. Os estudos diferiram bastante quanto à avaliação da atividade esportiva (nível de prática).
Ekhtiari et al.[28] realizaram outra revisão sistemática visando analisar o retorno ao trabalho e ao esporte após OTA. Incluíram 11 estudos com 250 pacientes com idade média de 46,2 anos. O método de cunha de abertura foi o mais utilizado. Um total de 87,2% dos pacientes retornou à atividade esportiva e 78,6% retornaram no mesmo nível ou nível acima. Entre os atletas competitivos, 54% retornaram às competições. Aproximadamente 90% dos pacientes que retornaram ao trabalho e atividades esportivas o fizeram dentro de 1 ano. Um total de 7% foram submetidos a ATJ com uma média de tempo de 6,7 anos. Vários métodos foram utilizados para mensurar o nível de atividade física.
Em outro estudo com essa mesma temática, Bastard et al.[29] analisaram retrospectivamente 30 pacientes com seguimento médio de 1,3 anos e observaram que todos os pacientes retornaram ao esporte dentro de um ano, 73,3% no nível pré-cirurgia e 23,3% em nível acima.
W-Dahl et al.[30] acompanharam por 10 anos 79 pacientes submetidos a OTA. Após 10 anos, 25 pacientes foram submetidos a ATJ. Os autores concluíram que é uma excelente solução para pacientes jovens com OA, apresentando moderada degeneração ao longo do tempo e propiciando a possibilidade de atividade física e qualidade de vida. Após 2 anos da OTA, os pacientes aumentaram sua atividade física, com mais da metade ativo em esportes como golfe, dança, caminhada e hidroginástica. Após 10 anos, quase metade ainda se encontrava ativa nas mesmas atividades.
Nosso estudo corrobora esses achados e demonstra que há bons resultados funcionais após a OTA com cunha de abertura. Comparando-se a correção do eixo anatômico, observamos que houve correção satisfatória de 3,31 ± 1,2° de varo para média de 6,38 ± 1,8° de valgo. Um dos pacientes não obteve a hipercorreção, e nesse caso houve um alinhamento para 3,6° de valgo. Os piores resultados funcionais são referentes a este paciente com pontuação de Lysholm 70 e IKDC 62%. Deve-se enfatizar a importância do planejamento pré-operatório adequado, cálculo do eixo anatômico e mecânico e programação do tamanho da cunha a ser executada, que repercutirá diretamente no resultado esperado.
Analisando-se especificamente os resultados do índice de Lysholm e o questionário subjetivo IKDC, foi observado um resultado significante, sendo que 7 pacientes (58,33%) apresentaram resultado bom de Lysholm e para IKDC média percentual de 75,8 ± 9,8 (p < 0,05) com índice que alcançou 84%.
Houve uma melhora significante no ganho de ADM e na pontuação referente à escala analógica de dor. O presente estudo reforça o uso da OTA com cunha de abertura com obtenção de bons resultados e a possibilidade do retorno ao nível de atividade próximo ao nível pré-operatório.
O presente estudo apresenta algumas limitações: amostra pequena; falta de grupo controle; tempo de seguimento curto que pode interferir no nível de retorno ao esporte e falta de avaliação da periodicidade, intensidade e volume de treino. O estudo apresenta os resultados preliminares e visa acrescentar mais pacientes para avaliação futura e resultado estatístico mais significante.
Conclusão
A OTA de cunha de adição como forma de tratamento para OA medial isolada demonstra resultados clínicos e funcionais favoráveis e permite o retorno ao esporte.