CC BY-NC-ND 4.0 · Rev Bras Ortop (Sao Paulo) 2021; 56(05): 567-573
DOI: 10.1055/s-0041-1731655
Artigo de Atualização
Artroscopia

Prevalência e fatores associados à dor e ao histórico de lesões musculoesqueléticas em skatistas

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1   Centro Universitário de Belo Horizonte, Belo Horizonte, MG, Brasil
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Resumo

Objetivo (a) Identificar a prevalência de dor musculoesquelética atual e lesão no último ano e (b) verificar a associação da presença de dor atual e da história de lesão com características demográficas, da prática esportiva e da saúde em skatistas.

Método O presente estudo observacional transversal foi realizado com 64 skatistas que responderam a um questionário abordando características demográficas, da prática esportiva e da saúde. O teste exato de Fisher verificou a associação dessas características com a presença de dor atual e com o relato de lesão no último ano. O teste de qui-quadrado verificou se havia diferença entre a distribuição observada e a esperada para o segmento corporal relatado com dor e com histórico de lesão, e com o tipo de lesão.

Resultados A prevalência de dor foi de 82,8%, sendo a frequência observada maior do que a esperada (p < 0,01) no joelho, no tornozelo, na região lombossacra e no pé. A presença de dor foi associada à faixa etária (p = 0,05) e a tratamento fisioterápico prévio (p < 0,01). A prevalência de lesão no último ano foi de 68,8%, sendo a frequência observada maior do que a esperada (p < 0,01) no joelho, no tornozelo, no punho, na mão, no pé e no ombro. Entorse e fratura apresentaram uma frequência observada maior do que a esperada (p < 0,01). O histórico de lesão foi associado ao uso de equipamento de proteção (p = 0,01), cirurgia prévia (p = 0,02) e tratamento fisioterápico (p = 0,03).

Conclusão A prática de skate apresenta uma prevalência alta de dor e de lesões no último ano. Os achados podem contribuir com o planejamento de estratégias preventivas.


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Introdução

Dados de setores de emergência indicam um grande número de lesões devidas à prática de skate.[1] [2] [3] Este esporte demanda a geração de grande força propulsiva e capacidade de lidar com forças de impacto de alta magnitude.[4] A alta demanda ao sistema musculoesquelético pode contribuir não só com o desenvolvimento de lesões, mas também com o quadro de dor. Poucos estudos investigaram a dor musculoesquelética em skatistas.[5] Este quadro pode alterar o desempenho do atleta e, assim, impactar sua prática esportiva.[6] Apesar disso, observa-se que, comumente, a prática do skate não possui abordagem preventiva, como ocorre em outros esportes. Desta forma, a ampliação do entendimento das lesões e dores musculoesqueléticas em skatistas pode contribuir com o embasamento necessário para o planejamento de ações preventivas.

Características demográficas, da prática esportiva e da saúde podem estar associadas às lesões e dores musculoesqueléticas em skatistas. Características demográficas como sexo e idade do skatista são indicadas em estudos sobre lesões, com sugestão que os mais jovens tendem a se lesionar mais frequentemente.[2] [3] Enquanto estudos indicam que as lesões são comuns em skatistas do sexo masculino,[2] [3] um estudo recente sugere que entorses podem ser mais frequentes no sexo feminino.[7] Características da prática esportiva, como nível de experiência e uso de equipamentos de proteção, também são comumente levantadas em estudos que descrevem o perfil de lesão.[7] [8] [9] Características de atenção à saúde, como realizar atividade preventiva e ter assistência de profissional da saúde, são menos estudadas, apesar de serem relacionadas a lesões no esporte.[10] Assim, estudos sobre lesões e dores musculoesqueléticas em skatistas devem considerar as possíveis associações com características demográficas, da prática esportiva e da saúde.

O skate foi recentemente reconhecido como esporte olímpico e, assim, há necessidade de ampliar as evidências sobre o perfil de lesões.[8] O estabelecimento das características da lesão e de sua extensão é entendido no campo da medicina esportiva como o primeiro passo para o planejamento de ações preventivas.[11] Portanto, os objetivos do presente estudo foram (a) identificar a prevalência de dor musculoesquelética atual e lesão no último ano em skatistas, (b) verificar a associação da presença de dor atual e de lesão no último ano com as características demográficas, da prática esportiva e da saúde de skatistas.


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Métodos

Foi realizado um estudo observacional transversal. A amostra foi recrutada por conveniência, em competições e pistas de skate na região metropolitana de Belo Horizonte, MG. Para participar do presente estudo, o voluntário deveria ser praticante de skate. Participantes menores de idade deveriam obrigatoriamente ter o consentimento do responsável. Foram excluídos os voluntários que praticassem o esporte menos de uma vez por semana. O presente estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da instituição (CAAE 21230919.9.0000.5093) e todos os participantes assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido.

Um questionário foi aplicado por 2 pesquisadores durante o 2° semestre de 2019, contendo perguntas agrupadas em: características demográficas, da prática esportiva e da saúde. As características demográficas investigadas foram idade e sexo. As características da prática esportiva investigadas foram: modalidade e categoria descritas pela Confederação Brasileira de Skate,[12] tempo de prática esportiva, frequência de prática semanal, quantidade de horas por dia de prática, objetivo da prática (diversão, competição ou ambos) e se o skatista faz uso de equipamento de proteção durante a prática. As características de saúde investigadas foram: presença de dor no momento de aplicação do questionário e, caso afirmativo, a parte do corpo na qual sentia dor; histórico de lesão musculoesquelética no último ano e, caso afirmativo, a parte do corpo lesionada e o tipo de lesão. A lesão foi definida como qualquer queixa física devido à prática de skate que resultou em modificação da prática esportiva ou não participação em treino ou competição.[7] [13] Para a categorização da parte do corpo que sentia dor e que estava lesionada, assim como do tipo de lesão, seguiu-se a recomendação do International Olympic Committee Injury and Illness Epidemiology Consensus Group.[14] Além disso, foi investigado se o participante já havia realizado alguma cirurgia ou tratamento fisioterápico decorrente de lesão gerada pela prática do skate, assim como se realizava alguma atividade que considerasse preventiva.

Análise Estatística

A prevalência de dor no momento de aplicação do questionário, assim como do histórico de lesão no último ano, foi calculada. O teste exato de Fisher foi realizado para verificar a associação entre a presença de dor, assim como presença de lesão no último ano, e as variáveis investigadas no questionário. Na presença de associação significativa, análise do resíduo ajustado foi realizada para identificar qual célula da tabela de contingência realizou uma contribuição significativa para o resultado. Nesta análise, se o valor do resíduo ajustado é além de ± 1,96, há indicação de que o número de casos na célula da tabela de contingência foi diferente do esperado. O teste de qui-quadrado goodness of fit foi realizado para verificar se a distribuição observada era diferente da esperada nas respostas relativas ao segmento do corpo com dor e com história de lesão, assim como ao tipo de lesão. O nível de significância (α) de 0,05 foi estabelecido para todos os testes.


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Resultados

Sessenta e quatro skatistas participaram do presente estudo. As características demográficas estão apresentadas na [Tabela 1]. A frequência observada em cada resposta relativa às características da prática esportiva e de saúde estão apresentadas nas [Tabelas 2] e [3].

Tabela 1

n (%)

Idade

 11–16 anos

3 (4,7%)

 17–22 anos

17 (26,6%)

 23–28 anos

16 (25,0%)

 29–34 anos

11 (17,2%)

 35–40 anos

8 (12,5%)

 41–46 anos

6 (9,4%)

 > 46 anos

3 (4,7%)

Sexo

 Masculino

53 (82,8%)

 Feminino

11 (17,2%)

Tabela 2

n (%)

n (%)

Modalidade

Frequência semanal de treinos

 Banks

1 (1,6%)

 1x

7 (10,9%)

 Bowl

3 (4,7%)

 2x

12 (18,8%)

 Overall

9 (14,1%)

 3x

16 (25,0%)

 Park

2 (3,1%)

 4x

9 (14,1%)

 Street

46 (71,9%)

 5x

11 (17,2%)

 Vertical

3 (4,7%)

 6x

5 (7,8%)

Categoria

 7x

4 (6,3%)

 Amador

30 (46,9%)

Horas por treino

 Grand Legend

1 (1,6%)

 < 1 h

1 (1,6%)

 Grand Master

1 (1,6%)

 1–2h

22 (34,4%)

 Iniciante

13 (20,3%)

 3–4h

25 (39,1%)

 Legend

4 (6,3%)

 > 5h

16 (25,0%)

 Master

4 (6,3%)

Objetivos da prática

 Mirim

1 (1,6%)

 Competição

1 (1,6%)

 Profissional

9 (14,1%)

 Diversão

29 (45,3%)

 Vintage

1 (1,6%)

 Diversão e Competição

34 (53,1%)

Tempo de prática esportiva

Uso de equipamento de proteção

 < 1 ano

2 (3,1%)

 Não

38 (59,4%)

 1–5 anos

15 (23,4%)

 Sim

15 (23,4%)

 6–10 anos

10 (15,6%)

 Só em competições

11 (17,2%)

 > 10 anos

37 (57,8%)

Tabela 3

n (%)

História de cirurgia devido à lesão por esporte

 Não

54 (84,4%)

 Sim

10 (15,6%)

História de tratamento fisioterápico

 Não

28 (43,8%)

 Sim

36 (56,3%)

Realiza atividade que considera como preventiva

 Não

22 (34,4%)

 Sim

42 (65,6%)

Dor atual

A prevalência de dor no momento da aplicação do questionário foi de 82,8% (53 skatistas). Os segmentos corporais relatados com dor estão apresentados na [Tabela 4]. O teste de qui-quadrado revelou que a distribuição das respostas não era uniforme e, portanto, era diferente da esperada em relação ao segmento corporal com dor (χ2 [10] = 74,91; p < 0,01). O joelho, o tornozelo, a região lombossacra e o pé apresentaram frequência observada maior do que a esperada, enquanto os demais segmentos apresentaram frequência menor do que a esperada.

Tabela 4

Segmento corporal

n (%)

Joelho

32 (23,0%)

Tornozelo

24 (17,3%)

Coluna lombossacra

23 (16,5%)

15 (10,8%)

Punho/Mão

10 (7,2%)

Ombro

10 (7,2%)

Perna

8 (5,8%)

Quadril

7 (5,0%)

Braço

4 (2,9%)

Coxa

4 (2,9%)

Cotovelo

2 (1,4%)

Total

139 (100,0%)

A presença de dor foi associada à faixa etária (p = 0,05). A análise do resíduo ajustado indicou que, na categoria de entre 11 e 16 anos, houve maior contribuição para essa associação daqueles que não apresentavam dor (Z = 3,9) e menor contribuição daqueles que apresentavam dor (Z = -3,9). A presença de dor também foi associada a tratamento fisioterápico prévio (p < 0,01). A análise de resíduo ajustado indicou que entre aqueles que não realizaram tratamento, houve maior contribuição para esta associação daqueles que não possuíam dor (Z = 4,1), e menor contribuição daqueles que possuíam dor (Z = - 4,1). Entre aqueles que realizaram tratamento fisioterápico, houve maior contribuição daqueles que sentem dor (Z = 4,1) e menor daqueles que não sentem dor (Z = -4,1).

Não foi observada associação entre a presença de dor e as seguintes variáveis: sexo (p = 0,67), modalidade do skate (p = 0,23), tempo de prática esportiva (p = 0,67), frequência de prática semanal (p = 0,74), horas por dia de prática (p = 0,20), objetivo da prática (p = 0,21), categoria do skatista (p = 0,87), uso de equipamento de proteção (p = 0,47), história de lesão no último ano (p = 0,30), história de cirurgia (p = 1,00), e se o skatista realizou alguma atividade que considerasse que prevenisse lesões (p = 1,00).


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Histórico de lesão no último ano

A prevalência de lesão no último ano foi de 68,8% (44 skatistas). Os segmentos corporais relatados com história de lesão e o tipo de lesão estão apresentados nas [Tabelas 5] e [6], respectivamente. O teste de qui-quadrado revelou que a distribuição das respostas não era uniforme e, portanto, esta foi diferente da esperada quanto ao segmento corporal (χ2 [12] = 48,94; p < 0,01) e ao tipo de lesão (χ2 [6] = 44,39; p < 0,01). A frequência observada foi maior do que a esperada no joelho, no tornozelo, no punho, na mão, no pé e no ombro, enquanto nos demais segmentos, ela foi menor do que a esperada. Já o tipo de lesão apresentou frequência observada maior do que a esperada para entorse, fratura e para aqueles que não conseguiram especificar, enquanto nos demais tipos a frequência foi menor do que a esperada.

Tabela 5

Segmento corporal

n (%)

Joelho

14 (21,9%)

Tornozelo

13 (20,3%)

Punho/Mão

8 (12,5%)

7 (10,9%)

Ombro

6 (9,4%)

Coluna lombossacra

4 (6,3%)

Quadril/Virilha

3 (4,7%)

Cabeça

3 (4,7%)

Perna

2 (3,1%)

Coxa

1 (1,6%)

Tronco

1 (1,6%)

Cotovelo

1 (1,6%)

Antebraço

1 (1,6%)

Braço

1 (1,6%)

Total

64 (100,0%)

Tabela 6

Tipo de lesão

n (%)

Entorse articular (ruptura ligamentar ou episódio de instabilidade aguda)

22 (42,3%)

Fratura

11 (21,2%)

Lesão em cartilagem

4 (7,7%)

Lesão muscular

3 (5,8%)

Tendinopatia

2 (3,8%)

Lesão por estresse em osso

1 (1,9%)

Não soube informar

9 (17,3%)

Total

52 (100,0%)

A presença de lesão no último ano foi associada ao uso de equipamento de proteção (p = 0,01). A análise do resíduo ajustado indicou que, na resposta uso somente em competição, houve maior contribuição para essa associação daqueles que não possuíam histórico de lesão (Z = 3,3) e menor contribuição daqueles que possuíam histórico de lesão (Z = - 3,3). Houve também associação entre o histórico de lesão e história de cirurgia devido à lesão por skate (p = 0,02). A análise do resíduo ajustado indicou que entre aqueles que não relataram histórico de cirurgia, houve maior contribuição para associação daqueles que não tinham histórico de lesão (Z = 2,3) e menor contribuição daqueles com histórico de lesão (Z = - 2,3). Já entre aqueles que relataram histórico de cirurgia, houve maior contribuição para associação daqueles com história de lesão (Z = 2,3) e menor contribuição daqueles sem história de lesão (Z = - 2,3).

A presença de lesão no último ano também foi associada a tratamento fisioterápico prévio (p = 0,03). A análise do resíduo ajustado indicou que entre aqueles que não realizaram fisioterapia, houve maior contribuição para associação daqueles que não tinham histórico de lesão (Z = 2,3), e menor contribuição daqueles com histórico de lesão (Z = - 2,3). Já entre aqueles que realizaram fisioterapia, houve maior contribuição para associação daqueles com histórico de lesão (Z = 2,3), e menor contribuição daqueles sem histórico de lesão (Z = - 2,3).

Não foi observada associação entre a presença de lesão no último ano e as seguintes variáveis: faixa etária (p = 0,83), sexo (p = 0,73), modalidade do skate (p = 0,79), tempo de prática esportiva (p = 0,97), frequência de prática semanal (p = 0,16), horas por dia de prática (p = 0,47), objetivo da prática (p = 0,20), categoria do skatista (p = 0,86) e realização de alguma atividade que o skatista considerasse que prevenisse lesões (p = 0,58).


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Discussão

O presente estudo identificou a prevalência de dor musculoesquelética atual e de lesão esportiva no último ano em skatistas e também verificou a associação da presença de dor e lesão com as características demográficas, da prática esportiva e da saúde. A prevalência de dor foi alta e mais frequente no joelho, no tornozelo, na região lombossacra e no pé. A comparação destes achados com outros é restrita devido ao número limitado de estudos sobre dor musculoesquelética em skatistas. Os resultados corroboram parcialmente outro estudo que não identificou associação da prática de skate com dor em três segmentos corporais investigados: ombro, coluna cervical e lombar.[5] Desta forma, a alta prevalência de dor, principalmente nos membros inferiores, reforça o entendimento de que o skate é um esporte que oferece grande sobrecarga ao sistema musculoesquelético.

A categoria entre 11 e 16 anos apresentou menor associação com o relato de dor. Outros estudos indicam maior hospitalização nessa faixa etária e hipotetizam que o motivo seria a pior coordenação motora entre os jovens.[8] [15] Possivelmente, os skatistas mais jovens procuram atendimento por traumas ao invés de lesões por overuse. Além disso, a categoria entre 11 e 16 anos foi uma das que apresentaram menor quantidade de skatistas recrutados. Como a amostragem utilizada foi não-probabilística, os skatistas recrutados podem apresentar alguma característica da população super-representada ou sub-representada.[16] Assim, futuros estudos podem verificar se alguma outra característica influenciou a associação identificada.

A presença de dor teve ainda associação com tratamento fisioterápico prévio. Devido ao desenho transversal do presente estudo, não é possível verificar se a dor estava presente antes ou se surgiu após o tratamento fisioterápico. A associação identificada pode sugerir que os fatores relacionados à presença de dor sejam similares ao da condição musculoesquelética que levou o skatista a ser tratado por fisioterapeuta.

A prevalência de lesões no último ano também foi alta, mas inferior às encontradas em outros estudos.[7] [17] As lesões ocorreram mais frequentemente no joelho, no tornozelo, no punho, na mão, no pé e no ombro. Este resultado corrobora estudos que indicam que a maioria das lesões ocorre nos membros inferiores[7] [15] [17] e superiores.[8] [18] [19] [20] Nos membros inferiores, as lesões no joelho são geralmente o resultado de impacto direto, de sobrecarga (por exemplo, dor patelofemoral), assim como de lesões do menisco e do ligamento cruzado.[18] Estas lesões, provavelmente, são o resultado das características dos gestos esportivos, os quais demandam muito do mecanismo extensor do joelho.[20] [21] Estes gestos envolvem ainda salto (por exemplo, ollie) e mudanças de direção que incluem movimentos rotacionais no joelho (por exemplo, body varial), padrão tipicamente associado a lesões ligamentares e de menisco.[22] [23] A literatura indica ainda que um dos mecanismos de lesão de tornozelo é quando ele fica preso entre a prancha do skate e o chão ou, ainda, por colisão com veículos.[8] Nos membros superiores, há destaque para a região do punho e da mão,[8] [19] [24] comumente lesionados devido à queda sobre o membro superior com o cotovelo e punho estendidos.[8] [9] Além disso, as lesões do tipo entorse e fratura foram as mais frequentes, o que corrobora outros achados.[2] [7] [8] [15] [20] [24] A literatura sugere que as entorses ocorrem frequentemente no tornozelo devido às manobras realizadas.[23] Assim, o histórico de lesão reforça que a prática de skate possui um perfil de lesões graves ao sistema musculoesquelético.

A ausência de lesão no último ano foi associada ao uso de equipamento de proteção durante competições. Este resultado corrobora a recomendação do uso destes equipamentos como estratégia preventiva.[8] Apesar disso, muitos skatistas optam por não usar equipamento de proteção.[9] Desta forma, apesar de argumentos comuns para o não uso, como desconforto e aparência,[8] os resultados reforçam que o uso deve ser encorajado. Destaca-se que os equipamentos de proteção podem não ser suficientes para prevenir todas as lesões, como as de alta magnitude de carga (por exemplo, entorses severas de joelho).

Os skatistas que relataram ter realizado cirurgia e fisioterapia tiveram maior associação com a história de lesão. Estes achados reforçam a interpretação de que, possivelmente, os fatores que levaram ao desenvolvimento de lesão favoreceram também o surgimento da condição musculoesquelética que levou o skatista a procurar assistência em saúde. Além disso, não foi identificada associação entre a realização de atividade que o skatista considerasse preventiva e a presença de lesão ou dor. Apesar disso, estudos indicam que treino para a melhora do desempenho físico e da estabilidade articular dinâmica é uma estratégia para evitar e minimizar as lesões em skatistas.[8] Um dos motivos para não se observar essa associação podem ser crenças relativas a o que seria atividade preventiva, uma vez que foram observados relatos de que alongamento seria uma estratégia preventiva. O baixo conhecimento do que é considerado atividade preventiva reforça a importância de maior suporte de profissionais de saúde por meio de ações educativas e de avaliações para rastreamento de possíveis fatores causais.

O presente estudo apresenta algumas limitações. A maior parte dos skatistas recrutados era da modalidade street. Além disso, o registro de lesão pode apresentar viés de memória,[16] no qual os skatistas tendem a reportar somente as lesões que mais impactaram sua prática. A restrição de lesões no último ano ao invés de em um período maior foi a estratégia adotada para minimizar este viés. Além disso, o registro de dor atual foi investigado por meio de questionário aplicado em pistas e competições de skate. A investigação desta variável em outros momentos poderia resultar em achados distintos. Assim, futuros estudos prospectivos que considerem maior participação de outras modalidades e a influência de diferentes contextos podem contribuir para o entendimento da dor e das lesões em skatistas.


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Conclusão

A alta prevalência de dor atual e de lesão no último ano corroboram o entendimento de que o skatista está exposto a diversos riscos em sua prática. A dor foi mais frequente no joelho, no tornozelo, na região lombossacra e no pé, estando associada com faixa etária e com tratamento fisioterápico prévio. A lesão no último ano foi mais frequente no joelho, no tornozelo, no punho, na mão, no pé e no ombro. Os tipos de lesão mais comuns foram entorse e fratura. A história de lesão foi associada ao uso de equipamento de proteção a cirurgia e tratamento fisioterápico prévios.


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Conflito de Interesses

Os autores declaram não haver conflito de interesses.

Nota

Trabalho desenvolvido no Centro Universitário de Belo Horizonte (UniBH), Belo Horizonte, MG, Brasil


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Endereço para correspondência

Thiago Ribeiro Teles Santos, PhD
Centro Universitário de Belo Horizonte (UniBH)
Av. Prof. Mário Werneck, 1685, Buritis, Belo Horizonte, Minas Gerais
Brasil   

Publikationsverlauf

Eingereicht: 05. Januar 2021

Angenommen: 08. März 2021

Artikel online veröffentlicht:
28. Oktober 2021

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