Palavras-chave
dor - epidemiologia - esportes - sistema musculoesquelético/lesões - skate
Introdução
Dados de setores de emergência indicam um grande número de lesões devidas à prática
de skate.[1]
[2]
[3] Este esporte demanda a geração de grande força propulsiva e capacidade de lidar
com forças de impacto de alta magnitude.[4] A alta demanda ao sistema musculoesquelético pode contribuir não só com o desenvolvimento
de lesões, mas também com o quadro de dor. Poucos estudos investigaram a dor musculoesquelética
em skatistas.[5] Este quadro pode alterar o desempenho do atleta e, assim, impactar sua prática esportiva.[6] Apesar disso, observa-se que, comumente, a prática do skate não possui abordagem
preventiva, como ocorre em outros esportes. Desta forma, a ampliação do entendimento
das lesões e dores musculoesqueléticas em skatistas pode contribuir com o embasamento
necessário para o planejamento de ações preventivas.
Características demográficas, da prática esportiva e da saúde podem estar associadas
às lesões e dores musculoesqueléticas em skatistas. Características demográficas como
sexo e idade do skatista são indicadas em estudos sobre lesões, com sugestão que os
mais jovens tendem a se lesionar mais frequentemente.[2]
[3] Enquanto estudos indicam que as lesões são comuns em skatistas do sexo masculino,[2]
[3] um estudo recente sugere que entorses podem ser mais frequentes no sexo feminino.[7] Características da prática esportiva, como nível de experiência e uso de equipamentos
de proteção, também são comumente levantadas em estudos que descrevem o perfil de
lesão.[7]
[8]
[9] Características de atenção à saúde, como realizar atividade preventiva e ter assistência
de profissional da saúde, são menos estudadas, apesar de serem relacionadas a lesões
no esporte.[10] Assim, estudos sobre lesões e dores musculoesqueléticas em skatistas devem considerar
as possíveis associações com características demográficas, da prática esportiva e
da saúde.
O skate foi recentemente reconhecido como esporte olímpico e, assim, há necessidade
de ampliar as evidências sobre o perfil de lesões.[8] O estabelecimento das características da lesão e de sua extensão é entendido no
campo da medicina esportiva como o primeiro passo para o planejamento de ações preventivas.[11] Portanto, os objetivos do presente estudo foram (a) identificar a prevalência de
dor musculoesquelética atual e lesão no último ano em skatistas, (b) verificar a associação
da presença de dor atual e de lesão no último ano com as características demográficas,
da prática esportiva e da saúde de skatistas.
Métodos
Foi realizado um estudo observacional transversal. A amostra foi recrutada por conveniência,
em competições e pistas de skate na região metropolitana de Belo Horizonte, MG. Para
participar do presente estudo, o voluntário deveria ser praticante de skate. Participantes
menores de idade deveriam obrigatoriamente ter o consentimento do responsável. Foram
excluídos os voluntários que praticassem o esporte menos de uma vez por semana. O
presente estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da instituição (CAAE
21230919.9.0000.5093) e todos os participantes assinaram o termo de consentimento
livre e esclarecido.
Um questionário foi aplicado por 2 pesquisadores durante o 2° semestre de 2019, contendo
perguntas agrupadas em: características demográficas, da prática esportiva e da saúde.
As características demográficas investigadas foram idade e sexo. As características
da prática esportiva investigadas foram: modalidade e categoria descritas pela Confederação
Brasileira de Skate,[12] tempo de prática esportiva, frequência de prática semanal, quantidade de horas por
dia de prática, objetivo da prática (diversão, competição ou ambos) e se o skatista
faz uso de equipamento de proteção durante a prática. As características de saúde
investigadas foram: presença de dor no momento de aplicação do questionário e, caso
afirmativo, a parte do corpo na qual sentia dor; histórico de lesão musculoesquelética
no último ano e, caso afirmativo, a parte do corpo lesionada e o tipo de lesão. A
lesão foi definida como qualquer queixa física devido à prática de skate que resultou
em modificação da prática esportiva ou não participação em treino ou competição.[7]
[13] Para a categorização da parte do corpo que sentia dor e que estava lesionada, assim
como do tipo de lesão, seguiu-se a recomendação do International Olympic Committee Injury and Illness Epidemiology Consensus Group.[14] Além disso, foi investigado se o participante já havia realizado alguma cirurgia
ou tratamento fisioterápico decorrente de lesão gerada pela prática do skate, assim
como se realizava alguma atividade que considerasse preventiva.
Análise Estatística
A prevalência de dor no momento de aplicação do questionário, assim como do histórico
de lesão no último ano, foi calculada. O teste exato de Fisher foi realizado para
verificar a associação entre a presença de dor, assim como presença de lesão no último
ano, e as variáveis investigadas no questionário. Na presença de associação significativa,
análise do resíduo ajustado foi realizada para identificar qual célula da tabela de
contingência realizou uma contribuição significativa para o resultado. Nesta análise,
se o valor do resíduo ajustado é além de ± 1,96, há indicação de que o número de casos
na célula da tabela de contingência foi diferente do esperado. O teste de qui-quadrado
goodness of fit foi realizado para verificar se a distribuição observada era diferente da esperada
nas respostas relativas ao segmento do corpo com dor e com história de lesão, assim
como ao tipo de lesão. O nível de significância (α) de 0,05 foi estabelecido para
todos os testes.
Resultados
Sessenta e quatro skatistas participaram do presente estudo. As características demográficas
estão apresentadas na [Tabela 1]. A frequência observada em cada resposta relativa às características da prática
esportiva e de saúde estão apresentadas nas [Tabelas 2] e [3].
Tabela 1
|
n (%)
|
|
Idade
|
|
|
11–16 anos
|
3 (4,7%)
|
|
17–22 anos
|
17 (26,6%)
|
|
23–28 anos
|
16 (25,0%)
|
|
29–34 anos
|
11 (17,2%)
|
|
35–40 anos
|
8 (12,5%)
|
|
41–46 anos
|
6 (9,4%)
|
|
> 46 anos
|
3 (4,7%)
|
|
Sexo
|
|
|
Masculino
|
53 (82,8%)
|
|
Feminino
|
11 (17,2%)
|
Tabela 2
|
n (%)
|
|
n (%)
|
|
Modalidade
|
|
Frequência semanal de treinos
|
|
|
Banks
|
1 (1,6%)
|
1x
|
7 (10,9%)
|
|
Bowl
|
3 (4,7%)
|
2x
|
12 (18,8%)
|
|
Overall
|
9 (14,1%)
|
3x
|
16 (25,0%)
|
|
Park
|
2 (3,1%)
|
4x
|
9 (14,1%)
|
|
Street
|
46 (71,9%)
|
5x
|
11 (17,2%)
|
|
Vertical
|
3 (4,7%)
|
6x
|
5 (7,8%)
|
|
Categoria
|
|
7x
|
4 (6,3%)
|
|
Amador
|
30 (46,9%)
|
Horas por treino
|
|
|
Grand Legend
|
1 (1,6%)
|
< 1 h
|
1 (1,6%)
|
|
Grand Master
|
1 (1,6%)
|
1–2h
|
22 (34,4%)
|
|
Iniciante
|
13 (20,3%)
|
3–4h
|
25 (39,1%)
|
|
Legend
|
4 (6,3%)
|
> 5h
|
16 (25,0%)
|
|
Master
|
4 (6,3%)
|
Objetivos da prática
|
|
|
Mirim
|
1 (1,6%)
|
Competição
|
1 (1,6%)
|
|
Profissional
|
9 (14,1%)
|
Diversão
|
29 (45,3%)
|
|
Vintage
|
1 (1,6%)
|
Diversão e Competição
|
34 (53,1%)
|
|
Tempo de prática esportiva
|
|
Uso de equipamento de proteção
|
|
|
< 1 ano
|
2 (3,1%)
|
Não
|
38 (59,4%)
|
|
1–5 anos
|
15 (23,4%)
|
Sim
|
15 (23,4%)
|
|
6–10 anos
|
10 (15,6%)
|
Só em competições
|
11 (17,2%)
|
|
> 10 anos
|
37 (57,8%)
|
|
|
Tabela 3
|
n (%)
|
|
História de cirurgia devido à lesão por esporte
|
|
|
Não
|
54 (84,4%)
|
|
Sim
|
10 (15,6%)
|
|
História de tratamento fisioterápico
|
|
|
Não
|
28 (43,8%)
|
|
Sim
|
36 (56,3%)
|
|
Realiza atividade que considera como preventiva
|
|
|
Não
|
22 (34,4%)
|
|
Sim
|
42 (65,6%)
|
Dor atual
A prevalência de dor no momento da aplicação do questionário foi de 82,8% (53 skatistas).
Os segmentos corporais relatados com dor estão apresentados na [Tabela 4]. O teste de qui-quadrado revelou que a distribuição das respostas não era uniforme
e, portanto, era diferente da esperada em relação ao segmento corporal com dor (χ2 [10] = 74,91; p < 0,01). O joelho, o tornozelo, a região lombossacra e o pé apresentaram frequência
observada maior do que a esperada, enquanto os demais segmentos apresentaram frequência
menor do que a esperada.
Tabela 4
|
Segmento corporal
|
n (%)
|
|
Joelho
|
32 (23,0%)
|
|
Tornozelo
|
24 (17,3%)
|
|
Coluna lombossacra
|
23 (16,5%)
|
|
Pé
|
15 (10,8%)
|
|
Punho/Mão
|
10 (7,2%)
|
|
Ombro
|
10 (7,2%)
|
|
Perna
|
8 (5,8%)
|
|
Quadril
|
7 (5,0%)
|
|
Braço
|
4 (2,9%)
|
|
Coxa
|
4 (2,9%)
|
|
Cotovelo
|
2 (1,4%)
|
|
Total
|
139 (100,0%)
|
A presença de dor foi associada à faixa etária (p = 0,05). A análise do resíduo ajustado indicou que, na categoria de entre 11 e 16
anos, houve maior contribuição para essa associação daqueles que não apresentavam
dor (Z = 3,9) e menor contribuição daqueles que apresentavam dor (Z = -3,9). A presença
de dor também foi associada a tratamento fisioterápico prévio (p < 0,01). A análise de resíduo ajustado indicou que entre aqueles que não realizaram
tratamento, houve maior contribuição para esta associação daqueles que não possuíam
dor (Z = 4,1), e menor contribuição daqueles que possuíam dor (Z = - 4,1). Entre aqueles
que realizaram tratamento fisioterápico, houve maior contribuição daqueles que sentem
dor (Z = 4,1) e menor daqueles que não sentem dor (Z = -4,1).
Não foi observada associação entre a presença de dor e as seguintes variáveis: sexo
(p = 0,67), modalidade do skate (p = 0,23), tempo de prática esportiva (p = 0,67), frequência de prática semanal (p = 0,74), horas por dia de prática (p = 0,20), objetivo da prática (p = 0,21), categoria do skatista (p = 0,87), uso de equipamento de proteção (p = 0,47), história de lesão no último ano (p = 0,30), história de cirurgia (p = 1,00), e se o skatista realizou alguma atividade que considerasse que prevenisse
lesões (p = 1,00).
Histórico de lesão no último ano
A prevalência de lesão no último ano foi de 68,8% (44 skatistas). Os segmentos corporais
relatados com história de lesão e o tipo de lesão estão apresentados nas [Tabelas 5] e [6], respectivamente. O teste de qui-quadrado revelou que a distribuição das respostas
não era uniforme e, portanto, esta foi diferente da esperada quanto ao segmento corporal
(χ2 [12] = 48,94; p < 0,01) e ao tipo de lesão (χ2 [6] = 44,39; p < 0,01). A frequência observada foi maior do que a esperada no joelho, no tornozelo,
no punho, na mão, no pé e no ombro, enquanto nos demais segmentos, ela foi menor do
que a esperada. Já o tipo de lesão apresentou frequência observada maior do que a
esperada para entorse, fratura e para aqueles que não conseguiram especificar, enquanto
nos demais tipos a frequência foi menor do que a esperada.
Tabela 5
|
Segmento corporal
|
n (%)
|
|
Joelho
|
14 (21,9%)
|
|
Tornozelo
|
13 (20,3%)
|
|
Punho/Mão
|
8 (12,5%)
|
|
Pé
|
7 (10,9%)
|
|
Ombro
|
6 (9,4%)
|
|
Coluna lombossacra
|
4 (6,3%)
|
|
Quadril/Virilha
|
3 (4,7%)
|
|
Cabeça
|
3 (4,7%)
|
|
Perna
|
2 (3,1%)
|
|
Coxa
|
1 (1,6%)
|
|
Tronco
|
1 (1,6%)
|
|
Cotovelo
|
1 (1,6%)
|
|
Antebraço
|
1 (1,6%)
|
|
Braço
|
1 (1,6%)
|
|
Total
|
64 (100,0%)
|
Tabela 6
|
Tipo de lesão
|
n (%)
|
|
Entorse articular (ruptura ligamentar ou episódio de instabilidade aguda)
|
22 (42,3%)
|
|
Fratura
|
11 (21,2%)
|
|
Lesão em cartilagem
|
4 (7,7%)
|
|
Lesão muscular
|
3 (5,8%)
|
|
Tendinopatia
|
2 (3,8%)
|
|
Lesão por estresse em osso
|
1 (1,9%)
|
|
Não soube informar
|
9 (17,3%)
|
|
Total
|
52 (100,0%)
|
A presença de lesão no último ano foi associada ao uso de equipamento de proteção
(p = 0,01). A análise do resíduo ajustado indicou que, na resposta uso somente em competição,
houve maior contribuição para essa associação daqueles que não possuíam histórico
de lesão (Z = 3,3) e menor contribuição daqueles que possuíam histórico de lesão (Z = -
3,3). Houve também associação entre o histórico de lesão e história de cirurgia devido
à lesão por skate (p = 0,02). A análise do resíduo ajustado indicou que entre aqueles que não relataram
histórico de cirurgia, houve maior contribuição para associação daqueles que não tinham
histórico de lesão (Z = 2,3) e menor contribuição daqueles com histórico de lesão
(Z = - 2,3). Já entre aqueles que relataram histórico de cirurgia, houve maior contribuição
para associação daqueles com história de lesão (Z = 2,3) e menor contribuição daqueles
sem história de lesão (Z = - 2,3).
A presença de lesão no último ano também foi associada a tratamento fisioterápico
prévio (p = 0,03). A análise do resíduo ajustado indicou que entre aqueles que não realizaram
fisioterapia, houve maior contribuição para associação daqueles que não tinham histórico
de lesão (Z = 2,3), e menor contribuição daqueles com histórico de lesão (Z = - 2,3).
Já entre aqueles que realizaram fisioterapia, houve maior contribuição para associação
daqueles com histórico de lesão (Z = 2,3), e menor contribuição daqueles sem histórico
de lesão (Z = - 2,3).
Não foi observada associação entre a presença de lesão no último ano e as seguintes
variáveis: faixa etária (p = 0,83), sexo (p = 0,73), modalidade do skate (p = 0,79), tempo de prática esportiva (p = 0,97), frequência de prática semanal (p = 0,16), horas por dia de prática (p = 0,47), objetivo da prática (p = 0,20), categoria do skatista (p = 0,86) e realização de alguma atividade que o skatista considerasse que prevenisse
lesões (p = 0,58).
Discussão
O presente estudo identificou a prevalência de dor musculoesquelética atual e de lesão
esportiva no último ano em skatistas e também verificou a associação da presença de
dor e lesão com as características demográficas, da prática esportiva e da saúde.
A prevalência de dor foi alta e mais frequente no joelho, no tornozelo, na região
lombossacra e no pé. A comparação destes achados com outros é restrita devido ao número
limitado de estudos sobre dor musculoesquelética em skatistas. Os resultados corroboram
parcialmente outro estudo que não identificou associação da prática de skate com dor
em três segmentos corporais investigados: ombro, coluna cervical e lombar.[5] Desta forma, a alta prevalência de dor, principalmente nos membros inferiores, reforça
o entendimento de que o skate é um esporte que oferece grande sobrecarga ao sistema
musculoesquelético.
A categoria entre 11 e 16 anos apresentou menor associação com o relato de dor. Outros
estudos indicam maior hospitalização nessa faixa etária e hipotetizam que o motivo
seria a pior coordenação motora entre os jovens.[8]
[15] Possivelmente, os skatistas mais jovens procuram atendimento por traumas ao invés
de lesões por overuse. Além disso, a categoria entre 11 e 16 anos foi uma das que apresentaram menor quantidade
de skatistas recrutados. Como a amostragem utilizada foi não-probabilística, os skatistas
recrutados podem apresentar alguma característica da população super-representada
ou sub-representada.[16] Assim, futuros estudos podem verificar se alguma outra característica influenciou
a associação identificada.
A presença de dor teve ainda associação com tratamento fisioterápico prévio. Devido
ao desenho transversal do presente estudo, não é possível verificar se a dor estava
presente antes ou se surgiu após o tratamento fisioterápico. A associação identificada
pode sugerir que os fatores relacionados à presença de dor sejam similares ao da condição
musculoesquelética que levou o skatista a ser tratado por fisioterapeuta.
A prevalência de lesões no último ano também foi alta, mas inferior às encontradas
em outros estudos.[7]
[17] As lesões ocorreram mais frequentemente no joelho, no tornozelo, no punho, na mão,
no pé e no ombro. Este resultado corrobora estudos que indicam que a maioria das lesões
ocorre nos membros inferiores[7]
[15]
[17] e superiores.[8]
[18]
[19]
[20] Nos membros inferiores, as lesões no joelho são geralmente o resultado de impacto
direto, de sobrecarga (por exemplo, dor patelofemoral), assim como de lesões do menisco
e do ligamento cruzado.[18] Estas lesões, provavelmente, são o resultado das características dos gestos esportivos,
os quais demandam muito do mecanismo extensor do joelho.[20]
[21] Estes gestos envolvem ainda salto (por exemplo, ollie) e mudanças de direção que incluem movimentos rotacionais no joelho (por exemplo,
body varial), padrão tipicamente associado a lesões ligamentares e de menisco.[22]
[23] A literatura indica ainda que um dos mecanismos de lesão de tornozelo é quando ele
fica preso entre a prancha do skate e o chão ou, ainda, por colisão com veículos.[8] Nos membros superiores, há destaque para a região do punho e da mão,[8]
[19]
[24] comumente lesionados devido à queda sobre o membro superior com o cotovelo e punho
estendidos.[8]
[9] Além disso, as lesões do tipo entorse e fratura foram as mais frequentes, o que
corrobora outros achados.[2]
[7]
[8]
[15]
[20]
[24] A literatura sugere que as entorses ocorrem frequentemente no tornozelo devido às
manobras realizadas.[23] Assim, o histórico de lesão reforça que a prática de skate possui um perfil de lesões
graves ao sistema musculoesquelético.
A ausência de lesão no último ano foi associada ao uso de equipamento de proteção
durante competições. Este resultado corrobora a recomendação do uso destes equipamentos
como estratégia preventiva.[8] Apesar disso, muitos skatistas optam por não usar equipamento de proteção.[9] Desta forma, apesar de argumentos comuns para o não uso, como desconforto e aparência,[8] os resultados reforçam que o uso deve ser encorajado. Destaca-se que os equipamentos
de proteção podem não ser suficientes para prevenir todas as lesões, como as de alta
magnitude de carga (por exemplo, entorses severas de joelho).
Os skatistas que relataram ter realizado cirurgia e fisioterapia tiveram maior associação
com a história de lesão. Estes achados reforçam a interpretação de que, possivelmente,
os fatores que levaram ao desenvolvimento de lesão favoreceram também o surgimento
da condição musculoesquelética que levou o skatista a procurar assistência em saúde.
Além disso, não foi identificada associação entre a realização de atividade que o
skatista considerasse preventiva e a presença de lesão ou dor. Apesar disso, estudos
indicam que treino para a melhora do desempenho físico e da estabilidade articular
dinâmica é uma estratégia para evitar e minimizar as lesões em skatistas.[8] Um dos motivos para não se observar essa associação podem ser crenças relativas
a o que seria atividade preventiva, uma vez que foram observados relatos de que alongamento
seria uma estratégia preventiva. O baixo conhecimento do que é considerado atividade
preventiva reforça a importância de maior suporte de profissionais de saúde por meio
de ações educativas e de avaliações para rastreamento de possíveis fatores causais.
O presente estudo apresenta algumas limitações. A maior parte dos skatistas recrutados
era da modalidade street. Além disso, o registro de lesão pode apresentar viés de memória,[16] no qual os skatistas tendem a reportar somente as lesões que mais impactaram sua
prática. A restrição de lesões no último ano ao invés de em um período maior foi a
estratégia adotada para minimizar este viés. Além disso, o registro de dor atual foi
investigado por meio de questionário aplicado em pistas e competições de skate. A
investigação desta variável em outros momentos poderia resultar em achados distintos.
Assim, futuros estudos prospectivos que considerem maior participação de outras modalidades
e a influência de diferentes contextos podem contribuir para o entendimento da dor
e das lesões em skatistas.
Conclusão
A alta prevalência de dor atual e de lesão no último ano corroboram o entendimento
de que o skatista está exposto a diversos riscos em sua prática. A dor foi mais frequente
no joelho, no tornozelo, na região lombossacra e no pé, estando associada com faixa
etária e com tratamento fisioterápico prévio. A lesão no último ano foi mais frequente
no joelho, no tornozelo, no punho, na mão, no pé e no ombro. Os tipos de lesão mais
comuns foram entorse e fratura. A história de lesão foi associada ao uso de equipamento
de proteção a cirurgia e tratamento fisioterápico prévios.