CC BY-NC-ND 4.0 · Rev Bras Ortop (Sao Paulo) 2023; 58(03): 457-462
DOI: 10.1055/s-0042-1748948
Artigo Original
Mão

Uso de smartphones como fator de risco para o desenvolvimento de morbidades no punho e nos dedos[*]

Artikel in mehreren Sprachen: português | English
1   Departamento de Fisioterapia, Faculdade de Integração do Sertão (FIS), Serra Talhada, Pernambuco, Brasil
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1   Departamento de Fisioterapia, Faculdade de Integração do Sertão (FIS), Serra Talhada, Pernambuco, Brasil
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1   Departamento de Fisioterapia, Faculdade de Integração do Sertão (FIS), Serra Talhada, Pernambuco, Brasil
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Suporte Financeiro Os autores declaram que não receberam nenhum apoio financeiro de fontes públicas, comerciais ou sem fins lucrativos para a realização do presente estudo.
 

Resumo

Objetivo Investigar o uso de smartphones em longo prazo como fator de risco para o desenvolvimento de morbidades no nível do punho e dos dedos.

Métodos Realizou-se um estudo descritivo, exploratório, de abordagem quantitativa, para a obtenção de medidas de prevalência com cem acadêmicos usuários de smartphones de uma faculdade privada localizada no sertão de Pernambuco. Foram aplicados um questionário semiestruturado e o Questionário de Síndrome do Túnel do Carpo de Boston (Boston Carpal Tunnel Questionnaire, BCTQ, na sigla em inglês), além da Escala Visual Analógica (EVA) e dos testes de Finkesltein, Phalen, Phalen reverso, e sinal de Tinel no punho.

Resultados A idade média da amostra foi de 22,73 anos, com prevalência de solteiros, de destros, e do sexo feminino. O tempo de uso do smartphone indicado pela maioria dos participantes era entre 5 e 10 anos, e 85% da amostra relatou já ter sentido desconforto no punho e nos dedos durante o uso do aparelho, sendo a dormência o sintoma mais prevalente. Com relação aos testes clínicos, houve prevalência de resultados negativos, e o de Finklestein apresentou maior positividade. Quanto ao BCTQ, dividido em duas escalas, uma de gravidade dos sintomas (escala G) e uma de estado funcional (escala F), a média geral das pontuações foi de 1,61 na escala G, o que indica sintomas de leve a moderados, já a escala F revelou que os sintomas não afetavam a funcionalidade.

Conclusão Foi possível observar uma correlação significativa entre o tempo de uso dos smartphones e a presença de desconforto no punho e nos dedos, o que indica que se trata de um fator de risco para o desenvolvimento de morbidades.


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Introdução

Os séculos XIX e XX foram marcados pelo advento de novas tecnologias da informação e da comunicação; no final da década de 1870, os primeiros telefones causaram uma revolução cultural e comunicacional. Porém, a verdadeira revolução aconteceu no século XXI, em que é possível vivenciar de forma mais intensa o uso das redes sociodigitais e das tecnologias móveis. Um exemplo claro é o smartphone, que atualmente ultrapassa o uso do notebook como ferramenta de acesso à internet, meio de comunicação, ferramenta de trabalho e, além disso, agrega funções de diversos outros aparelhos.[1] [2]

Segundo a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel),[3] o Brasil concluiu o mês de março de 2018 com aproximadamente 236 milhões de celulares, quantidade alta quando comparada à população do país, de cerca de 209,1 milhões de habitantes, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).[4] É fato que o aparelho celular constitui uma valiosa invenção, com diversos fins que facilitam o dia a dia dos ususários; contudo, ao passo que traz benefícios também pode acarretar malefícios físicos, como mostram Guterres et al.,[5] que avaliaram queixas musculoesqueléticas por todo o corpo entre usuários de smartphones e encontraram o pescoço (49,4%) como região mais incidente, seguido dos punhos e das mãos (37,9%).

Anatomicamente, o punho é considerado uma das articulações mais complexas do corpo, pois realiza os movimentos de flexão, extensão, desvio ulnar, desvio radial e, ainda, circundunção. Já a mão é a extremidade distal do membro superior (MS) considerada a principal parte funcional do esqueleto apendicular superior. As articulações carpometacarpais são formadas pela segunda fileira dos ossos carpais e pelos ossos metacarpais. Já as articulações metacarpofalangeanas são formadas pelos metacarpos e pelas falanges proximais, e realizam os movimentos de flexão, extensão, hiperextensão, adução e abdução. Por fim, as articulações interfalangeanas estão localizadas entre as falanges, e permitem os movimentos de flexão e extensão.[6] [7]

O polegar é o primeiro dedo, e que apresenta a maior funcionalidade; a sua articulação carpometacarpal é formada pelo trapézio e pela base do primeiro metacarpo, e permite os movimentos de flexão, extensão, adução, abdução, oposição, reposição e circundução. Embora apresentem grande mobilidade, os polegares não foram projetados para realizar esforços excessivos, como os necessários para manusear o dispositivo móvel, de modo que o nível de esforço exigido pode variar de acordo com o modo e a velocidade da digitação.[8]

Quando se trata de MSs, a maior prevalência de sintomas decorrentes de esforços repetitivos ocorre nas mãos, devido à repetição do movimento, à vibração, ao uso de ferramentas manuais, às forças elevadas, e às posturas inadequadas, que podem causar desconforto, sensação de peso, dor, dormência, formigamento, e diminuição da funcionalidade e da força.[9] Entre estas disfunções, prevalecem a síndrome de De Quervain e a síndrome do túnel do carpo.[10]

Apesar de a associação entre movimentos repetitivos e morbidades musculoesqueléticas ser um fato, existem poucos estudos na literatura que associem estss patologias com o uso de smartphones. Esses problemas de saúde física podem ser prevenidos ou retardados quando os aparelhos são utilizados com moderação e da forma correta; para tanto, faz-se necessário que a população e os profissionais da saúde tenham consciência dos riscos a que estão expostos para que sejam formuladas estratégias e medidas preventivas. Desse modo, o objetivo desta pesquisa foi investigar o uso de smartphones em longo prazo como fator de risco para o desenvolvimento de morbidades no nível do punho e dos dedos.


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Materiais e Métodos

Foi realizado um estudo descritivo, exploratório e de abordagem quantitativa para a obtenção de medidas de prevalência entre usuários de smartphone. A pesquisa foi feita em uma instituição de Ensino Superior, e a amostra foi composta por cem acadêmicos. O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa, com parecer consubstanciado de número 2.889.152 na etapa anterior à coleta de dados.

Foram incluídos os indivíduos que estavam matriculados na instituição durante o período da pesquisa, que fizessem uso de smartphone havia mais de 5 anos, e que estivessem na faixa etária entre 21 e 30 anos. Foram excluídos aqueles que realizavam qualquer tipo de atividade remunerada além dos fins acadêmicos, ou que apresentavam diagnóstico de doença reumáticas pré-instalada.

Após a apresentação do estudo aos participantes e a assinatura do termo de consentimento livre e esclarecido, iniciou-se a coleta de dados, realizada em três etapas. A primeira delas foi o preenchimento de um questionário semiestruturado ([Apêndice A, material suplementar], disponível apenas on-line)[11] com perguntas fechadas, em que o participante assinalava apenas uma alternativa, exceto naquelas questões que informavam serem possíveis múltiplas respostas. Este questionário teve o intuito de coletar informações relativas ao perfil sociodemográfico dos voluntários e à rotina do uso do aparelho celular. Também verificou-se a presença de dor no momento da avaliação por meio da Escala Visual Analógica (EVA).

A segunda etapa foi a aplicação do Questionário de Síndrome do Túnel do Carpo de Boston (Boston Carpal Tunnel Questionnaire, BCTQ, na sigla em inglês) para quantificar seis domínios críticos: dor, parestesias, adormecimento, fraqueza, sintomas noturnos, e estados funcionais globais. O BCQT é dividido em duas escalas, uma de gravidade dos sintomas (escala G) e uma de estado funcional (escala F). Na escala G, encontram-se 11 questões de múltipla escolha com pontuações de 1 a 5: 1 ponto representa ausência de sintoma, e 5 pontos, sintomas graves. A pontuação total da escala é calculada pela média das pontuações nos 11 itens individuais. A escala F aborda 8 atividades corriqueiras, também com pontuações de 1 a 5, em que 1 ponto representa nenhuma dificuldade, e 5, que o indivíduo não consegue realizar a atividade; a pontuação total é dada pela média das pontuações nos 8 itens.

Os dados da amostra foram analisados e tabulados utilizando programa Statistical Package for the Social Sciences (IBM SPSS Statistics for Windows, IBM Corp., Armonk, NY, Estados Unidos), versão 22.0, e realizou-se uma análise descritiva, com média, mínima, máxima, desvio padrão (DP) e distribuição percentual, respeitando a especificidade de cada variável. Para se obter a significância entre as variáveis, utilizou-se o teste do Qui-quadrado com intervalo de confiança de 95% (IC95%; p < 0,05), e os resultados foram apresentados por meio de tabelas.


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Resultados

Na [Tabela 1], é possível observar o perfil sociodemográfico dos participantes, e nela pode-se constatar que a idade média dos acadêmicos foi de 22,73 anos (DP: ± 2,296). Com relação ao gênero, houve prevalência do feminino (69%). Ainda é possível observar que houve predominância de acadêmicos destros (89%).

Tabela 1

Variáveis

Categorias

n

%

Média

Desvio padrão

Idade

22,73 anos

 ± 2,296

Gênro

Feminino

69

69

Masculino

31

31

Dominância

Destra

89

89

Canhota

11

11

A [Tabela 2] indica que a maioria dos acadêmicos (57%) apresentava de 5 a 10 anos de uso dos aparelhos, que 33% relataram realizar pausas de até 20 minutos durante a utilização, e que apenas 22% relataram não realizá-las. Quanto à distribuição de tempo diário, 28% utilizavam o smartphone por mais de 10 horas. E em relação à principal atividade realizada, 84% responderam “digitar”.

Tabela 2

Variáveis

Categorias

n

%

Tempo de uso

5–10 anos

57

57

10–15 anos

33

33

Mais de 15 anos

10

10

Tempo de uso diário

Mais de 10 horas

28

28

5–8 horas

28

28

8–10 horas

19

19

Outros

25

25

Pausas durante o uso

Até 20 minutos

33

33

30 minutos a 1 hora

27

27

Não realizo

22

22

Outras

18

18

Principal atividade que realiza

Digitar

84

84

Falar

8

8

Outras

8

8

A [Tabela 3] descreve o modo de manuseio e digitação mais frequentes, e verificou-se que 51% dos indivíduos seguravam o aparelho apenas com a mão direita, e 71% digitavam utilizando as duas mãos.

Tabela 3

Variáveis

Categorias

n

%

Maneira como segura o aparelho

Com a mão direita

51

51

Com as duas mãos

45

45

Com a mão esquerda

4

4

Forma como digita

Com as duas mãos

71

71

Apenas com uma das mãos

29

29

Na [Tabela 4], pode-se evidenciar uma correlação positiva entre o tempo de uso e a presença de desconforto (p = 0,000), de modo que 89,3% dos acadêmicos que afirmaram utilizar o celular por mais de 10 horas diárias relataram já ter sentido algum desconforto durante o uso, assim como em todas as outras variáveis de tempo. Desse modo, confirma-se que o uso diário de smartphones pode causar desconforto no punho e nos dedos, independentemente da quantidade de anos de uso, pois até aqueles que utilizavam por menos tempo relataram desconforto.

Tabela 4

Variáveis

Categorias

n

%

Já sentiu algum desconforto durante o uso?

Sim

85

85

Não

15

15

Em quais regiões?

Punho

54

26,3

Polegar

49

23,9

Mão

28

13,7

Antebraço

20

9,8

Outras

54

26,3

Características do sintoma

Dormência

43

30,7

Formigamento

34

24,3

Dor

30

21,4

Outras

33

23,6

Escala Visual Analógica

Com dor – 24% (n = 24)

Moderada

13

54,2

Leve

11

45,8

Sem dor

76

76

Quando indagados se já sentiram algum desconforto nos MSs durante o uso do smartphone, 85% da amostra relatou que sim. Ao analisar as regiões mais expostas às sintomatologias, houve prevalência do punho (26,3%) e do polegar (23,9%). Com relação às características desses sintomas 30,7% relataram sentir dormência, 24,3%, formigamento, e 21,4%, dor. Usou-se a EVA para quantificar a dor, e apenas 24% da amostra relataram dor e, destes, 54,2% relataram sintomas moderados.

Os acadêmicos autorrelataram dormência e formigamento como os principais desconfortos, sendo mais prevalentes no punho, no polegar, e na mão, sinais de possível síndrome do túnel do carpo e síndrome de De Quervain ou, ou uma predisposição a estas.

A [Tabela 5] apresenta as médias das pontuações na escala G do BCTQ; os sintomas foram separados, e calculou-se a média de cada um. A média geral dos sintomas foi de 1,61 (DP: ± 0,485) o que indica sintomas leves, visto que a pontuação 1 significa sem sintomas, e 2, sintomas moderados. Tomando-se os sintomas individualmente, observa-se que o formigamento obteve a maior média, de 1,68 (DP: ± 0,657), seguido de dor, com média de 1,65 (DP: ± 0,560), fraqueza, com 1,59 (DP: ± 0,727), e dificuldade para pegar objetos, com a menor média, de 1,11 (DP: ± 0,423).

Tabela 5

Variáveis

Média

Desvio padrão

Média geral na escala G

1,61

 ± 0,485

Média de formigamento

1,68

 ± 0,657

Média de dor

1,65

 ± 0,560

Média de fraqueza

1,59

 ± 0,727

Média de dificuldade para pegar objetos

1,11

 ± 0,423

Quanto à dificuldade para pegar objetos, a média na escala G foi de 1,11 (DP: ± 0,423) e houve correlação positiva (p = 0,000) com a média geral da escala F, o que mostra que os indivíduos praticamente não tinham dificuldade para pegar objetos, e confirma que nesta amostra a sintomatologia não afeta a qualidade de vida, provavelmente por conta das morbidades leves.

Por fim, na escala F, apresentada na [Tabela 6], avaliou-e o quanto esses sintomas afetam as atividades de vida diária dos indivíduos, e também foram calculadas as médias das pontuações de acordo com cada tarefa: a habilidade de carregar sacos de supermercado obteve maior média (1,63; DP: ± 0,85), e as habilidades de tomar banho e se vestir, a menor média (1,08; DP: ± 0,34).

Tabela 6

Variáveis

Média

Desvio padrão

Média geral na escala F

1,43

 ± 0,493

Habilidade de carregar sacos do supermercado

1,63

 ± 0,816

Habilidade de segurar o telefone

1,61

 ± 0,827

Habilidade de realizar trabalhos domésticos

1,60

 ± 0,912

Habilidade de abrir uma tampa de recipiente de vidro

1,50

 ± 0,870

Habilidade de escrever

1,49

 ± 0,771

Habilidade de segurar um livro enquanto lê

1,40

 ± 0,663

Habilidade de abotoar as roupas

1,14

 ± 0,348

Habilidade de tomar banho e se vestir

1,08

 ± 0,338


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Discussão

A idade média dos participantes foi de 22,73 anos de idade, similar à de outros estudos acerca do uso de smartphones por universitários, como o de Xie et al.,[12] em que a idade média foi de 23,9 anos. A prevalência do gênero feminino no presente estudo também foi observada na pesquisa de Taufiq et al.,[13] que avaliaram a associação entre a síndrome de De Quervain e a digitação excessiva nos smartphones entre 137 estudantes de medicina, dos quais 80% eram do gênero feminino. Ali et al.[14] observaram que de 300 acadêmicos (94%) eram destros, taxa similar à do presente estudo. Não se encontrou na literatura um fator que explique o motivo de a maioria da população ser destra, mas pode haver associação com fatores genéticos, anatômicos e culturais.[15]

Pereira et al.[16] realizaram uma pesquisa em que se aplicou um questionário on-line ª cem indivíduos para avaliar a relação entre o uso de smartphones e a síndrome do túnel do carpo, e os autores verificaram que metade dos participantes utilizavam smartphones havia mais de cinco anos, assim como neste estudo. No que diz respeito à realização de pausas, 58% dos participantes não as realizavam durante a utilização. Este dado não corrobora com a presente pesquisa, visto que a porcentagem daqueles que não realizavam pausas neste estudo foi menor.

Quanto à distribuição de tempo diário, Guterres et al.[5] verificaram que a maioria da sua amostra (22%) utilizava por mais de 10 horas, assim como neste estudo. Eapen et al.[17] verificaram a prevalência de traumas cumulativos em MSs de usuários de celular, e observaram que 96,5% dos entrevistados utilizavam o celular para digitação de mensagens de texto.

Gold et al.[18] realizaram uma pesquisa observacional sobre as posturas e os estilos de digitação no celular, e verificaram que 46,1% dos participantes seguravam o smartphone com as duas mãos, e 36,2%, com a mão direita, e que 82,3% digitavam utilizando o polegar, assim como no presente estudo.

Xie et al.[12] realizaram um estudo eletromiográfico, e verificaram que os MSs tinham atividade aumentada quando da digitação com apenas uma mão, de modo que exigiam maior amplitude e mais movimentos repetitivos para o polegar; portanto, esses autores sugerem que o smartphone deve ser segurado com as duas mãos e usando os dois polegares, para não sobrecarregar as musculaturas e prevenir morbidades.

Nos estudos sobre o manuseio do smartphone, verificou-se que, para evitar essas morbidades nos MSs, deve-se limitar o tempo de uso diário, utilizar as duas mãos para segurar o aparelho e os dois polegares para manuseá-lo, realizar pausas frequentes, evitar digitar em alta velocidade, e apoiar os antebraços durante a digitação.[14] [19] O tempo de uso diário observado no presente estudo assemelha-se ao do estudo de Oliveira,[20] em que 72,11% daqueles que utilizavam o aparelho por mais de 10 horas sentiam desconforto, com prevalência da presença de desconforto independentemente do tempo de uso diário.

Em relação ao desconforto nos MSs durante o uso do smartphone, o presente estudo corrobora com a pesquisa realizada por Oliveira,[20] em que 71,2% dos universitários relataram desconforto no punho e nos dedos. Eapen et al.[17] observaram que 53% queixaram-se de desconforto no polegar, e 13%, no punho. Além disso, afirmam[17] que vários sintomas estão associados às lesões por esforço repetitivo, sendo os mais importantes dor (principal sintoma, com prevalência de 61,7%) e desconforto e/ou formigamento. Sendo, assim os sintomas relatados no presente estudo corroboram com os principais sintomas descritos na literatura, mas não corroboram com a máxima, visto que a literatura mostra a dor como principal sintoma, que ficou em terceiro lugar no presente estudo.

No estudo de Oliveira,[20] 71,15% dos participantes relataram dor, e a maioria graduou-a como moderada (75,2%), taxa similar à do presente estudo. Oliveira[20] obteve média geral de 1,82, também considerada leve. Entre os sintomas isolados a dor prevaleceu com maior média (2,04), seguido de formigamento (1,72), fraqueza (1,64), e dificuldade para pegar objetos (1,31), não corroborando quanto o sintoma mais prevalente, porém assemelha-se com os valores médios em faixas semelhantes e com o sintoma menos prevalente.

Comparando a dificuldade para pegar objetos observada no presente estudo com a de Oliveira,[20] em que a média foi de 1,31, observa-se que foi similar, pois ambas as amostras apresentaram dificuldade leve. Os resultados d escala F corroboram os da literatura, que mostra que os sintomas não afetam a funcionalidade e as atividades de vida diária do indivíduo, como no estudo de Pereira et al.,[16] em que os participantes relataram não sentir grandes problemas ou dificuldades no ato de manusear o celular.


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Conclusão

Diante do exposto, conclui-se que existe associação significativa entre o tempo de uso diário dos smartphones e a presença de desconforto, sendo o smartphone um fator de risco para o desenvolvimento de morbidades no nível do punho e dos dedos. Ademais, sugere-se a realização de novos estudos que investiguem, além da sintomatologia de forma subjetiva, a capacidade física de modo quantitativo, assim como a biomecânica da digitação associada à atividade muscular, para que possam ser desenvolvidas medidas preventivas mais específicas uma vez que, perante os resultados apresentados, a taxa de lesões por esforço repetitivo associadas ao smartphone tende a crescer.


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Conflito de Interesses

Os autores declaram não haver conflito de interesses.

Agradecimentos

Aos colegas Taciane, Vinícius e Letycia, pelo apoio para a concretização deste trabalho.

* Trabalho desenvolvido na Faculdade de Integração do Sertão (FIS), Serra Talhada, Pernambuco, Brasil


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Endereço para correspondência

Vinícius José Guimarães do Carmo
Praça Pires Ribeiro 61, Centro, São José do Belmonte, 56950-000, Pernambuco – PE
Brasil   

Publikationsverlauf

Eingereicht: 04. Januar 2022

Angenommen: 14. März 2022

Artikel online veröffentlicht:
29. Juni 2023

© 2023. Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia. This is an open access article published by Thieme under the terms of the Creative Commons Attribution-NonDerivative-NonCommercial License, permitting copying and reproduction so long as the original work is given appropriate credit. Contents may not be used for commecial purposes, or adapted, remixed, transformed or built upon. (https://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/4.0/)

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