CC BY-NC-ND 4.0 · Rev Bras Ortop (Sao Paulo) 2023; 58(06): e869-e875
DOI: 10.1055/s-0043-1768694
Artigo Original | Original Article

Falha óssea na glenoide – Uma avaliação retrospectiva dos desfechos funcionais após cirurgia de bloqueio ósseo para instabilidade anterior do ombro em atletas de alta demanda

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Paulo Henrique Schmidt Lara
1   Médico Ortopedista e Traumatologista do Centro de Traumatologia do Esporte (CETE), Universidade Federal de São Paulo, São Paulo, SP, Brasil
,
Gabriel Massarico Gonçalves
2   Residente de Ortopedia e Traumatologia do Departamento de Ortopedia e Traumatologia da Escola Paulista de Medicina, Universidade Federal de São Paulo, São Paulo, SP, Brasil
,
Alexandre Figueiredo Zobiole
1   Médico Ortopedista e Traumatologista do Centro de Traumatologia do Esporte (CETE), Universidade Federal de São Paulo, São Paulo, SP, Brasil
,
Eli Henrique Rodrigues da Silva
2   Residente de Ortopedia e Traumatologia do Departamento de Ortopedia e Traumatologia da Escola Paulista de Medicina, Universidade Federal de São Paulo, São Paulo, SP, Brasil
,
1   Médico Ortopedista e Traumatologista do Centro de Traumatologia do Esporte (CETE), Universidade Federal de São Paulo, São Paulo, SP, Brasil
,
Paulo Santoro Belangero
1   Médico Ortopedista e Traumatologista do Centro de Traumatologia do Esporte (CETE), Universidade Federal de São Paulo, São Paulo, SP, Brasil
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Resumo

Objetivo Avaliar a relação do tamanho do defeito ósseo da glenoide no arco de movimento, nos resultados funcionais e nas complicações em pacientes atletas de alta performance submetidos a cirurgia de bloqueio ósseo para instabilidade anterior do ombro.

Método Estudo retrospectivo no qual foram avaliados os resultados pós-operatórios de atletas submetidos a cirurgia de bloqueio ósseo para instabilidade anterior do ombro. Em 5 anos foram 41 ombros operados, sendo 20 deles com até 15% de defeito ósseo e 21 com defeitos entre 15% e 25%.

Resultados Não houve diferença estatisticamente significativa com relação a complicações pós-operatórias, novas luxações, e na taxa de retorno ao esporte. Os critérios quantitativos avaliados – arcos de movimento e escores funcionais – também não apresentaram diferença estatisticamente significativa entre os grupos.

Conclusão O tamanho do defeito ósseo por si só não parece afetar os resultados funcionais e as complicações desses procedimentos, sendo uma técnica segura tanto para defeitos pequenos, quanto para os maiores.


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Introdução

A escolha do melhor tratamento para uma doença é um desafio constante para o cirurgião ortopedista, bem como o desenvolvimento de métodos efetivos para a determinação dessas escolhas. Instabilidade anterior traumática do ombro é uma doença comum,[1] especialmente em atletas jovens, o que leva à discussão a respeito de diversas técnicas possíveis para o seu tratamento. O objetivo desses procedimentos é alcançar um ombro estável e funcional, e prevenir o desenvolvimento de osteoartrose, algo particularmente importante quando tratamos de atletas que irão buscar um retorno para a atividade de alta performance.

A falha óssea da glenoide (do inglês "Glenoid Bone Loss" ou GBL) é um parâmetro que vem sendo considerado fator de risco para falhas no reparo artroscópico da instabilidade anterior do ombro.[2] [3] [4] [5] [6] [7] [8] [9] Atletas de contato apresentam piores taxas de recorrência e pior prognóstico decorrente da progressão da instabilidade anterior do ombro após cirurgia de Bankart, geralmente levando a necessidade de cirurgias de enxertia óssea da glenoide, especialmente quando o defeito ósseo da glenoide é maior que 20-25%.[10] [11] No entanto, Dekker et al.[3] demonstraram que defeitos maiores que 15% da superfície da glenoide já aumentam significativamente essas taxas em pacientes ativos.

O objetivo desse estudo foi avaliar se os pacientes com defeitos ósseos maiores do que 15% apresentariam piores resultados em relação a arco de movimento, complicações e resultados funcionais em relação a falhas ósseas menores, em pacientes atletas de alta demanda submetidos a cirurgias de bloqueio ósseo.


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Metodologia

Trata-se de um estudo retrospectivo dos exames de tomografia computadorizada dos participantes de um estudo prospectivo prévio dos autores desse estudo, no qual os participantes foram randomizados em dois grupos para cirurgia (Bristow e Latarjet), e acompanhados por cinco anos. Foram 19 ombros no grupo da cirurgia de Bristow e 22 no grupo da cirurgia de Latarjet, em um total de 37 pacientes. Ao final do seguimento, foram avaliados retrospectivamente os exames de tomografia dos participantes, realizados no pré-operatório, e destes calculados as falhas ósseas da glenoide (FOG) pelo método de comparação contralateral ([Fig. 1]).[12] A partir destes dados, os pacientes foram novamente divididos em outros dois grupos conforme os valores obtidos: FOG menor que 15% e FOG maior que 15%, mas iguais ou menores que 25%. No primeiro grupo, foram 20 ombros, enquanto o segundo grupo contemplou 21 ombros.

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Fig. 1 Medida linear da falha óssea da glenoide pelo método de comparação contralateral. “D” representa a largura da glenoide intacta “a)”. “D” é transposto para o lado com falha óssea “b)” e a distância até a borda da glenoide “d” é obtida. O tamanho da falha óssea é expressa como d/D x 100 (%).

Foram coletados dados demográficos como idade, gênero, peso, IMC, e aspectos clínicos qualitativos: hiperfrouxidão do ombro, categoria do atleta (profissional versus amador), o lado do membro dominante e do lesionado, tipo de procedimento realizado, e o mecanismo da lesão. Quando a luxação ocorreu após trauma direto no ombro, foi considerado como mecanismo traumático; quando não, como atraumático.

Os critérios de inclusão foram: instabilidade anterior do ombro sem história de procedimentos prévios no ombro, alta demanda esportiva (estipulado pelos pesquisadores como atletas que treinam mais de sete horas por semana e que participam de competições em seus esportes, distribuídos conforme [Tabela 1]), até 25% de perda óssea na glenoide pela tomografia computadorizada, e pelo menos 60 meses de seguimento pós-operatório. Critérios de exclusão foram: procedimento cirúrgico prévio no ombro em questão, lesões associadas como roturas do manguito rotador ou SLAP (pacientes direcionados à artroscopia), paciente com mais de 25% de perda óssea na glenoide (indicada cirurgia com enxerto de ilíaco de Eden-Hybinett) ou que não completaram o seguimento pós-operatório mínimo de cinco anos. Os pacientes que apresentavam quadro clínico sugestivo de lesões associadas, como lesões do manguito rotador e lesão SLAP, foram submetidos a Ressonância Nuclear Magnética antes da inclusão e excluídos do estudo caso confirmadas as lesões.

Tabela 1

Esporte

Atletas

Futebol

9

Rodeio

9

Handebol

4

Jiu Jitsu

4

Muay Thai

2

Artes marciais diversas

2

Rugby

2

Voleibol

2

Boxe

1

Boxe chinês

1

Motocross

1

Antes da cirurgia, o ombro acometido passou por avaliação radiográfica (incidências AP e Perfil) e estudo por tomografia computadorizada bilateral em todos os participantes, sendo medida posteriormente a FOG pelo método contralateral,[12] variando nessa amostra entre 10 e 25%. Nas imagens foi avaliado também o “Glenoid Track”, com lesões On-track ou Off-track.[12]

Os pacientes foram avaliados tanto no pré quanto no pós-operatório conforme um protocolo previamente definido (Anexo 1). As avaliações funcionais e de arco de movimento (ADM) iniciais e de seguimento pós-operatório foram realizadas por fisioterapeutas independentes, em momentos diferentes das avaliações pós-operatórias de rotina pela equipe cirúrgica. Foram avaliados: grau de rotação lateral ativa e passiva, elevação ativa e passiva, escala analógica visual de dor (EVA), Escala de Avaliação dos Resultados do Ombro do Esportista (EROE)[13] (do inglês “Athletic Shoulder Outcome Rating Scale” - ASORS); Western Ontario Shoulder Instability Index (WOSI)[14]; e a American Shoulder and Elbow Surgeons Standardized Shoulder Assessment (ASES).[15] Ao longo de seguimento foram registradas também as complicações (eventos não esperados durante o seguimento, incluindo instabilidade residual, exceto as luxações), as novas luxações, e o retorno à prática da mesma atividade esportiva.

O EROE é um questionário que reflete a estabilidade do ombro, arco de movimento, função para atividades diárias, e dor. Menos de 50 pontos indicam resultados ruins, 51 a 74 resultados típicos, 75 a 89 resultados bons, e 90 a 100 resultados excelentes.

O WOSI é um questionário que indica a qualidade de vida em pacientes com instabilidade anterior do ombro, sendo pior a qualidade de vida quanto maior o valor, indo de 0 (excelente) a 210 (muito ruim).

O ASES é um questionário que indica dor e função do ombro, variando de 0 a 100, com maiores valores indicando melhores resultados.

As cirurgias foram feitas com os pacientes em posicionamento de cadeira de praia sob bloqueio de plexo braquial e sedação, em hospital dia. Foi realizado acesso cirúrgico anterior ao processo coracoide, com extensão de 5 cm pelo intervalo deltopeitoral. Após dissecção romba e exposição do coracoide, a osteotomia foi realizada conforme as técnicas de Bristow ou Latarjet, sendo o enxerto fixado com um ou dois parafusos de pequenos fragmentos, respectivamente, conforme as descrições das técnicas.

O protocolo de reabilitação envolveu três semanas de imobilização com tipoia simples para ombro em todos os casos, seguida de fisioterapia para aumento progressivo da mobilidade passiva e ativa. Exercícios de fortalecimento se iniciaram com oito a doze semanas, e retorno ao esporte foi liberado quatro a cinco meses após a cirurgia, quando o paciente apresentava ausência de dor e de instabilidade para realizar o esporte praticado antes da cirurgia.

Para a análise estatística utilizou-se métodos não paramétricos. O Teste de Qui-Quadrado foi utilizado para comparação da distribuição de fatores qualitativos entre os grupos, enquanto para fatores quantitativos foi utilizado o Teste de Mann-Whitney. O teste de Kolmogorov-Smirnov foi utilizado para avaliar a normalidade da distribuição e esta não foi assegurada para as variáveis quantitativas de desfecho principal. O nível de significância adotado foi de 95%, sendo a relevância estatística das comparações demonstrada por um p-valor ≤0,05.


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Resultados

Um total de 41 ombros operados e avaliados nesse estudo, sendo 20 com falha óssea na glenoide ≤15%, e 21 ombros com falha >15% e ≤25%. Não houve diferença estatisticamente significativa com relação à idade, gênero, altura, peso, índice de massa corporal (IMC), hiperfrouxidão no ombro, categoria do atleta – amador ou profissional, membro dominante, membro lesionado e no mecanismo da lesão. Houve semelhança também com relação à distribuição do tipo de procedimento realizado nos indivíduos de cada grupo (Bristow ou Latarjet), evitando esse possível viés. Observa-se, porém, que pacientes com defeito ósseo maior apresentaram maior número de luxações prévias do ombro e de lesões Off-track ([Tabelas 2] e [3]). Não houveram casos de hiper frouxidão generalizada nessa amostra.

Tabela 2

≤15%

>15% e ≤25%

Total

p-valor

N = 20

N = 21

Categoria

Amador

14

11

25

0,248

Profissional

6

10

16

Hiperfrouxidão do Ombro

Não

16

18

34

0,627

Sim

4

3

7

Membro Dominante

Direito

18

21

39

0,137

Esquerdo

2

0

2

Membro Lesionado

Direito

13

11

24

0,412

Esquerdo

7

10

17

Mecanismo da Lesão

Atraumatico

5

3

8

0,387

Traumatico

15

18

33

Gênero

Feminino

2

2

4

0,959

Masculino

18

19

37

Procedimento realizado

Bristow

9

11

20

0,636

Latarjet

11

10

21

Glenoid Track

Off-track

7

18

25

0,001

On-track

13

3

16

Tabela 3

Média

Desvio Padrão

P-valor

Idade

≤15%

24,8

6,6

0,200

>15% e ≤25%

28,0

7,4

Peso

≤15%

79,1

9,5

0,556

>15% e ≤25%

76,9

6,9

Altura

≤15%

1,78

0,04

0,530

>15% e ≤25%

1,77

0,06

IMC

≤15%

24,9

2,3

0,584

>15% e ≤25%

24,5

1,5

Episódios de luxação

≤15%

5,8

5,9

0,004

>15% e ≤25%

9,2

5,7

Quanto ao resultado após seguimento e reabilitação, não houve diferença estatisticamente significativa na quantidade de complicações pós-operatórias, em novas luxações, e na taxa de retorno ao esporte ([Tabela 4]). Ainda, não houve diferença estatística entre os grupos para o ADM, EROE, ASES e WOSI, sendo que, apesar de a dor pré-operatória ter sido menor no grupo de maior FOG, esta não apresentou diferença significativa ao final do seguimento, conforme a escala analógica visual de dor (EVA) ([Tabela 5]).

Tabela 4

≤15%

>15% e ≤25%

Total

P-valor

N

%

N

%

N

%

Complicação

Não

16

80%

18

85,7%

34

83%

0,627

Sim

4

20%

3

14,3%

7

17%

Novas Luxações

Não

19

95%

20

95,2%

39

95%

0,972

Sim

1

5%

1

4,8%

2

5%

Retorno ao Esporte

Não

4

20%

4

19,0%

8

20%

0,939

Sim

16

80%

17

81,0%

33

80%

Tabela 5

≤15%

>15% e ≤25%

P-valor

Média

DP

Média

DP

Rotação lateral passiva

Pré

74,8

1,2

74,5

1,5

0,336

5 anos

66,3

6,0

66,0

6,0

0,788

Rotação lateral ativa

Pré

71

4,2

71,7

4,6

0,503

5 anos

60,5

4,8

60,2

5,6

0,743

Elevação passiva

Pré

178,0

3,0

176,9

5,1

0,679

5 anos

176,5

2,9

175,7

4,0

0,627

Elevação ativa

Pré

174,1

6,7

173,3

8,9

0,978

5 anos

170,3

7,2

167,1

7,0

0,169

EVA

Pré

2,7

1,17

1,76

1,04

0,009

5 anos

1,05

0,89

0,71

0,90

0,195

ASES

Pré

53,1

5,2

52,4

5,6

0,917

5 anos

80,2

4,0

80,7

4,5

0,674

EROE

Pré

40,7

20,1

45,4

14,6

0,557

5 anos

78,7

8,5

74,2

7,9

0,107

WOSI

Pré

153,8

24,7

148,3

24,6

0,522

5 anos

40,5

7,6

43,2

8,7

0,323


#

Discussão

O principal achado desse estudo foi demonstrar que a FOG dentro dos limites estudados não alterou resultados esperados para a cirurgia de bloqueio ósseo na instabilidade anterior do ombro em atletas de alto rendimento. Percebe-se que a cirurgia de bloqueio ósseo por Bristow ou Latarjet trará, de forma constante, poucas complicações, poucos casos de instabilidade recorrente, bom resultado funcional e pouca limitação do ADM do ombro acometido tanto para FOG pequenas, quanto para maiores até 25%.

A falha óssea na glenoide é citada por diversos autores como fator de risco para recorrência de instabilidade, e muitos estudos tentam avaliar acerca de um valor limítrofe para o tamanho dessa lesão a partir do qual esse risco seria maior.[3] [4] [5] [6] [9] [16] Jeon et al.[16] trazem um valor limítrofe de 15 a 20% de falha óssea, concluindo que a melhora da dor e os desfechos clínicos são satisfatórios tanto na cirurgia de Bankart quanto de Latarjet, porém que o bloqueio ósseo apresenta menor taxa de recorrência e menor limitação da rotação lateral nessa população. Burkhart e De Beer[4] mostram 67% de recorrência de instabilidade em pacientes com lesão significativa da glenoide (Hill-sachs engajada ou glenoide em “pêra invertida”), concluindo que o reparo artroscópico é contraindicado nesses pacientes. Nosso estudo vem confirmar que mesmo uma falha óssea pequena pode ser bem tratada com cirurgias de bloqueio ósseo, sem prejuízo funcional para o paciente. Este fato é relevante nesse grupo de pacientes (atletas de alta demanda), nos quais o retorno ao esporte no mesmo nível pré-lesão é importante, assim como a não ocorrência de novas luxações.

Dekker et al.[3] demonstraram que em pacientes submetidos a cirurgia de Bankart com lesões ósseas da glenoide maiores que 15%, este foi um fator de risco importante para recorrência de instabilidade e apresentaram piores resultados funcionais (WOSI e ASES). Comparando com nosso trabalho, obtivemos resultados funcionais estatisticamente iguais entre os grupos, mais semelhantes ao de maior falha óssea por Dekker (GBL > 15%), porém com menor taxa de recorrência de instabilidade e de novas luxações. Shaha et al.[6] também trazem essa diferença no escore WOSI para pacientes submetidos à técnica de Bankart, com um corte de GBL de 13,5%; o autor obteve significativamente melhores resultados em falhas menores, além de menor taxa de recorrência de instabilidade nesses pacientes. Comparando nossos resultados a esse último autor, obtivemos WOSI estatisticamente igual entre os grupos, mais semelhante ao de menor falha óssea por Saha et al.[6] (<13,5%), com taxa de recorrência também semelhante aos casos com menor falha óssea.

Este estudo demonstrou um resultado geral de 5% de novas luxações e 17% de complicações dos procedimentos, não havendo diferença significativa entre os grupos com diferentes FOG; este resultado é comparável a estudos de bloqueio ósseo encontrados na literatura, como Dauzère et al.[17] com 7,3 de complicações clínicas e 17% de radiológicas, e Butt et al.[18] com 6% de recorrência de instabilidade, 2,8% de novas luxações, e 3,3% de novas subluxações. Outro dado obtido que encontra sustentação na literatura é a taxa de retorno ao esporte. Tanto Dauzère et al.[17] quanto Bohu et al.[19] chegaram a uma taxa de 73% de retorno ao esporte em pacientes submetidos a técnica de Laterjet, enquanto nosso trabalho indicou um valor de 80%.

Uma limitação desse estudo é seu desenho retrospectivo a partir de dados coletados com outra finalidade; entretanto, toda coleta de dados pós-operatórios foi realizada de forma prospectiva, o que reduz em grande parte as possibilidades de vieses relacionados. O número amostral pode parecer pequeno, entretanto vale ressaltar a homogeneidade da amostra e o subgrupo específico do qual fazem parte: atletas de alta demanda.

Os principais pontos positivos desse estudo são: seguimento por um período de 5 anos, o grupo homogêneo de atletas de alta demanda e, também, o fato de ser um dos primeiros estudos a avaliar se o tamanho do defeito da glenoide afetaria os resultados funcionais nesses atletas.


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Conclusão

O tamanho do defeito ósseo por si só não parece afetar os resultados funcionais e as complicações desses procedimentos, sendo uma técnica segura tanto para defeitos ósseos da glenoide ≤ 15% quanto para defeitos entre 15% e 25%.


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Anexo 1

PROTOCOLO ESTUDO

BLOQUEIO ÓSSEO

  • 1) CIRURGIA DE BLOQUEIO ÓSSEO (BRISTOW-LATARJET)

    PRÉ-OPERATÓRIO

    • RADIOGRAFIAS

    • TOMOGRAFIA COMPUTADORIZADA BILATERAL

    • AMPLITUDE DE MOVIMENTO

    • QUESTIONÁRIOS: EROE, EVA, ASES, WOSI

      3 SEMANAS:

    • INÍCIO FISIOTERAPIA

      4 SEMANAS:

    • AMPLITUDE DE MOVIMENTO

    • QUESTIONÁRIO EVA

      8 SEMANAS:

    • AMPLITUDE DE MOVIMENTO

    • QUESTIONÁRIO EVA

    • INÍCIO FORTALECIMENTO MUSCULAR

      12 SEMANAS:

    • AMPLITUDE DE MOVIMENTO

    • QUESTIONÁRIO EVA

    • CONSIDERAR RETORNO AO ESPORTE

      6 MESES:

    • AMPLITUDE DE MOVIMENTO

    • QUESTIONÁRIOS: EROE, EVA, ASES, WOSI

      1 ANO E ANUALMENTE ATÉ 5 ANOS

    • AMPLITUDE DE MOVIMENTO

    • QUESTIONÁRIOS: EROE, EVA, ASES, WOSI


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Conflito de Interesses

Os autores declaram não haver conflito de interesses.

Suporte Financeiro

Não houve suporte financeiro de fontes públicas, comerciais, ou sem fins lucrativos.


Estudo desenvolvido no Centro de Traumatologia do Esporte (CETE), Departamento de Ortopedia e Traumatologia da Escola Paulista de Medicina, Universidade Federal de São Paulo, SP, Brasil.


  • Referências

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  • 3 Dekker TJ, Peebles LA, Bernhardson AS. et al. Risk Factors for Recurrence After Arthroscopic Instability Repair-The Importance of Glenoid Bone Loss >15%, Patient Age, and Duration of Symptoms: A Matched Cohort Analysis. Am J Sports Med 2020; 48 (12) 3036-3041
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Endereço para correspondência

Gabriel Massarico Gonçalves
Rua Estado de Israel
713–Vila Clementino, São Paulo, SP
Brasil, 04022-002   

Publikationsverlauf

Eingereicht: 15. Juli 2022

Angenommen: 23. November 2022

Artikel online veröffentlicht:
08. Dezember 2023

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Fig. 1 Medida linear da falha óssea da glenoide pelo método de comparação contralateral. “D” representa a largura da glenoide intacta “a)”. “D” é transposto para o lado com falha óssea “b)” e a distância até a borda da glenoide “d” é obtida. O tamanho da falha óssea é expressa como d/D x 100 (%).
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Fig. 1 Linear measurement of the glenoid bone gap using the contralateral comparison method. D represents the width of the intact glenoid (a). The transposition of D to the side with bone loss (b) generates the distance to the edge of the glenoid (d). The expression d/D x 100 (%) represents the bone loss.