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DOI: 10.1055/s-0043-1776132
Comparação entre procedimentos cirúrgicos no tratamento da infecção de prótese do quadril
Article in several languages: português | EnglishResumo
Objetivo Comparar a taxa de cura, o tempo de recuperação e a pontuação na escala funcional de Merle d'Aubigné-Postel (EFMA) entre a cirurgia em tempo único (C1T) e a cirurgia em dois tempos (C2T) no tratamento de infecções protéticas do quadril, considerando as características sociodemográficas e clínicas dos pacientes.
Materiais e Métodos Foi realizado um estudo retrospectivo num único centro, entre 2011 e 2014, com um total de 37 casos estudados, sendo 26 tratados com C1T e 11 com C2T. Foram comparadas a taxa de cura, o tempo de recuperação e a pontuação EFMA entre os dois grupos, bem como as características sociodemográficas e clínicas dos pacientes. Foram também consideradas as complicações cirúrgicas e o agente infeccioso mais comum.
Resultados O grupo C1T teve uma recuperação funcional mais rápida do que o grupo C2T, mas não houve diferenças significativas na taxa de cura, nas complicações cirúrgicas ou na pontuação EFMA. No entanto, o grupo C1T era significativamente mais jovem, o que pode ter influenciado os resultados. Staphylococcus spp. foi o agente infeccioso mais comum (62%).
Conclusão Embora a C2T pareça ser superior em termos de cura de infecção, a C1T pode ser preferível para uma recuperação funcional mais rápida. No entanto, as características individuais dos pacientes devem ser consideradas na escolha do tratamento. São necessárias mais pesquisas com um tamanho de amostra maior para confirmar estes resultados.
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Palavras-chave
artroplastia de quadril - infecções relacionadas a próteses - próteses de quadril - recuperação funcional - reoperaçãoIntrodução
A infecção associada à artroplastia total constitui um problema sério nos dias de hoje. Estima-se que a infecção surge no pós-operatório de 1 a 7% de todas as artroplastias totais, e que acarreta custos monetários significativos.[1]
Anualmente, são realizadas no mundo mais de um milhão de artroplastias totais do quadril.[2] Vários estudos apontam para um aumento deste número devido ao aumento da esperança de vida. Verifica-se ainda um acréscimo ao longo do tempo do risco de infecção, o que se traduzirá num aumento absoluto de infecções periprotéticas.[2] [3] [4] [5] [6]
A infecção protética do quadril é a principal causa de cirurgia de revisão do quadril, a seguir às causas de origem mecânica, o que reforça a necessidade de se encontrar soluções que maximizem a sua taxa de cura e diminuam as suas repercussões, tanto a nível da função e qualidade de vida do paciente, quanto a nível financeiro.[5] [7]
Existem diferentes estratégias de tratamento da infecção protética do quadril, incluindo a substituição da prótese em tempo único (C1T) versus em dois tempos (C2T), a terapia supressiva e cirurgias definitivas de controlo da infecção, como a amputação ou a operação de Girdlestone.[4] [8]
No entanto, não há um consenso no tratamento da infecção protética, dada a escassez de ensaios clínicos controlados e randomizados que comparem diretamente as diferentes estratégias de tratamento, ao contrário do que acontece, por exemplo, para o tratamento da osteomielite ou da artrite séptica.[9] [10]
No entanto, o tratamento C2T é considerado por muitos autores o padrão-ouro para o tratamento da infecção protética do quadril.[10] [11] [12] Num primeiro tempo, é feito desbridamento cirúrgico, explantação da artroplastia e é colocado um espaçador de polimetilmetacrilato impregnado de antibióticos.[11] [13] É realizada antibioterapia, que pode durar de 4 a 6 semanas, não existindo ainda um consenso nesta duração[4] [14] e, quando os parâmetros analíticos de infecção normalizam, é realizada artroplastia de revisão.[15] Contudo, não existem estudos suficientes que abordem o seguimento destes doentes a longo termo.[11]
Mais recentemente, tem vindo a ser estudado o sucesso do C1T. Está já demonstrada a sua superioridade em termos de resultados funcionais.[12] Este tratamento consiste na exérese de implantes e tecidos infetados e imediata colocação de nova prótese, seguida de tratamento antibiótico.[15] Os doentes podem começar uma recuperação física imediata concomitante. Porém, isto não parece ser verdade para a taxa de sucesso na cura das infecções.[12]
Alguns estudos parecem indicar que, para agentes infecciosos mais sensíveis, doentes com boas condições sistémicas e locais (ausência de fistulização ou danos tecidulares severos), o C1T pode ser a melhor opção.[15]
O presente estudo visa comparar as duas estratégias cirúrgicas no tratamento da infecção protética do quadril: a) C1T e b) C2T. Serão analisadas a taxa de cura e a recuperação da função nestes pacientes e, tendo em conta as características de cada paciente (por exemplo, sexo, idade, comorbilidades, cirurgias prévias).
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Materiais e Métodos
Foi realizado um estudo observacional, transversal, retrospectivo, descritivo-analítico em utentes submetidos a cirurgia de revisão de prótese do quadril por diagnóstico de infecção protética, de acordo com os critérios da Musculoskeletal Infection Society,[7] entre janeiro de 2011 e dezembro de 2014 (inclusive), num hospital terciário de referência. O critério de inclusão foi infecção periprotética do quadril, com critério de exclusão aplicado nos casos em que não houve explantação de todos os componentes da prótese do quadril com colocação de prótese de revisão do quadril. Foram identificados 242 episódios de cirurgia de revisão de substituição do quadril na base de dados da instituição, dos quais foram selecionados 37 pacientes com diagnóstico de infecção periprotética do quadril. Destes, 26 foram submetidos a C1T (grupo C1T) e 11 a C2T (grupo C2T). Foram colecionados dados como idade, sexo, tempo de evolução da infecção protética, estado de cura da infecção, lateralidade da infecção, agente infeccioso, comorbilidades relevantes,[16] história de cirurgias prévias no local da infecção, complicações cirúrgicas no tratamento da infecção, tempo de recuperação até ao estado funcional e pontuação na Escala Funcional de Merle dAubigné-Postel[17] (EFMA, registada após um ano de seguimento).
Os dados foram analisados através do IBM SPSS Statistics for Windows, versão 22 (IBM Corp., Armonk, NY, Estados Unidps). Os gráficos foram produzidos no GraphPad Prism versão 6.01, (GraphPad Software, La Jolla, Califórnia, EUA). Para todas as variáveis contínuas, foi avaliada a presença de distribuição gaussiana em todos os grupos, usando o teste de Shapiro-Wilk. Para comparação entre grupos, foram utilizados os seguintes testes: teste t para amostras independentes, teste U de Mann-Whitney, Exato de Fisher bicaudal e respetivas medidas de magnitude de efeito. Os resultados foram considerados estatisticamente significativos se p < 0.05, com um intervalo de confiança (IC) de 95%.
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Resultados
Entre 2011 e 2014, 37 casos de cirurgia de tratamento de infecção protética do quadril foram incluídos. Destes, 26 foram C1T e 11 foram C2T.
Uma análise comparativa das características sociodemográficas e clínicas da amostra foi realizada ([Tabelas 1]–[2]). O grupo C2T é significativamente mais jovem do que o grupo C1T, com uma magnitude de efeito moderada. Na instituição, evita-se C2T em pacientes mais velhos, devido ao impacto negativo na recuperação funcional. Isso será considerado na análise dos resultados.
Variáveis |
Total |
C1T |
C2T |
U |
Valor de p |
r |
---|---|---|---|---|---|---|
n = 37 (100%) |
n = 26 (70,3%) |
n = 11 (29,7%) |
||||
Mediana (AIQ) |
Mediana (AIQ) |
Mediana (AIQ) |
||||
Idade a (em anos) |
74 (18.0) |
77 (16.0) |
64 (18.0) |
83.0 |
0.046 |
0.33 |
n (%) |
n (%) |
n (%) |
Valor de p [b] |
φ |
||
Sexo |
||||||
Masculino |
21 (56.8) |
15 (57.7) |
6 (54.5) |
1.000 |
0.029 |
|
Feminino |
16 (43.2) |
11 (42.3) |
5 (45.5) |
Variáveis |
Total |
C1T |
C2T |
Valor de p [a] |
Φ |
---|---|---|---|---|---|
n = 37 (100%) |
n = 26 (70,3%) |
n = 11 (29,7%) |
|||
n (%) |
n (%) |
n (%) |
|||
Infecção [b] |
|||||
Implante primário |
14 (37,8) |
10 (38,5) |
4 (36,4) |
1,000 |
0,020 |
Implante de revisão |
23 (62,2) |
16 (61,5) |
7 (63,6) |
||
0[#] |
|||||
Número de cirurgias prévias [c] |
|||||
0 |
12 (32,4) |
8 (30,8) |
4 (36,4) |
1,000 |
0,055 |
≥ 1 |
25 (67,6) |
18 (69,2) |
7 (63,6) |
||
0[#] |
|||||
Tempo de infecção [d] |
|||||
< 4 semanas |
6 (16,2) |
6 (23,1) |
0 (0,00) |
0,151 |
0,286 |
≥ 4 semanas |
31 (83,8) |
20 (76,9) |
11 (100) |
||
0[#] |
|||||
Lateralidade [e] |
|||||
Esquerda |
16 (43,2) |
14 (53,8) |
2 (18,2) |
0,071 |
0,329 |
Direita |
21 (56,8) |
12 (46,2) |
9 (81,8) |
||
0[#] |
|||||
Agente infeccioso (resistência [f] ) |
|||||
Baixa |
13 (38,2) |
10 (41,7) |
3 (30,0) |
0,704 |
0,109 |
Alta |
21 (61,8) |
14 (58,3) |
7 (70,0) |
||
3[#] |
|||||
Comorbilidades (Índice de Charlson [g] ) |
|||||
0 |
14 (37,8) |
10 (38,5) |
4 (36,4) |
1,000 |
0,020 |
≥ 1 |
23 (62,2) |
16 (61,5) |
7 (63,6) |
||
0[#] |
|||||
Complicações [h] |
|||||
Ausência |
29 (78,4) |
21 (80,8) |
8 (72,7) |
0,672 |
0,089 |
Presença |
8 (21,6) |
5 (19,2) |
3 (27,3) |
||
0[#] |
A maioria das infecções ocorreu em implantes de revisão, durou ≥ 4 semanas e foi causada por agentes resistentes. A maioria dos casos apresentou comorbilidades com um índice de Charlson ≥1.[16] No período perioperatório, apenas 21,6% apresentaram complicações cirúrgicas. Não houve diferenças estatisticamente significativas nos parâmetros clínicos entre os dois grupos.
Não houve mortalidade associada à infecção periprotética. Cinco doentes faleceram por causas não relacionadas.
O grupo C1T apresentou menor taxa de cura do que o grupo C2T ([Fig. 1]), mas não houve associação estatisticamente significativa entre procedimento cirúrgico e taxa de cura.


Para um índice de Charlson ≥ 1, a taxa de cura do grupo C2T foi superior à do grupo C1T, enquanto para doentes sem comorbilidades (índice de Charlson nulo), ocorreu o contrário ([Fig. 2]), mas não houve significância estatística.


Pela [Fig. 3], verificou-se que, para os implantes primários, há um aumento na taxa de cura para o grupo C2T comparado com o grupo C1T, se bem que não existe significância estatística. Nos casos de implante de revisão, a taxa de cura ronda os 70%.


Nos casos sem procedimentos cirúrgicos prévios no local da infecção, a C2T apresentou um aumento de 25% na taxa de cura em relação à C1T ([Fig. 4A]), mas sem significância estatística. Nos casos com procedimentos cirúrgicos prévios, a taxa de cura rondou os 70% nos 2 grupos ([Fig. 4B]).


Alguns autores reportam risco acrescido de infecção periprotética a partir dos 75 anos.[18] A taxa de cura foi comparada entre pacientes com ≥ 75 anos e < 75 anos ([Fig. 5A]), mas a associação encontrada não foi estatisticamente significativa. A taxa de cura foi 18% menor para o grupo ≥ 75 anos em comparação com o grupo < 75 anos, mas o fato de o grupo C1T ser significativamente menos jovem e apresentar taxa de cura ligeiramente menor do que o grupo C2T pode ser fator confundidor. Nenhum dos tipos de cirurgia mostrou vantagem estatisticamente significativa consoante a idade ([Fig. 5B-C]).


A taxa de cura foi superior para o sexo feminino, todavia sem significância estatística ([Fig. 6]).


O grupo C1T teve uma recuperação funcional mais rápida do que o grupo C2T ([Fig. 7]). Esta diferença, estatisticamente significativa, manteve-se para os dois grupos etários: < 75 anos e ≥ 75 anos ([Fig. 8]).




Não houve diferenças estatisticamente significativas na pontuação da EFMA entre os dois grupos, C1T e C2T ([Fig. 9]).


Na [Tabela 3] encontram-se os agentes infecciosos por ordem decrescente de frequência. Os Staphylococci foram os mais comuns, com proporções semelhantes às da literatura.[2] [4] [9] [19] [20] [21] Houve 3 casos (8,1%) de infecção por Staphylococcus aureus resistente à meticilina (MRSA) e 5 casos (13.5%) por S. epidermidis resistente à meticilina (MRSE).
Organismo |
n (%) |
---|---|
Staphylococcus aureus |
12 (32,4) |
Staphylococci coagulase-negativos |
11 (29,7) |
Polimicrobianoa |
7 (18,9) |
Gram-negativos |
4 (10,8) |
Organismo não identificado |
3 (8,1) |
Total |
37 (100) |
Para investigar possíveis diferenças na taxa de cura consoante a resistência do agente infeccioso, foram criadas duas categorias ([Fig. 10A]). Houve um aumento estatisticamente não significativo de cerca de 5% na taxa de cura para agentes com baixa resistência. Não houve diferenças estatisticamente significativas no tempo de recuperação funcional entre as duas categorias de resistência ([Fig. 10B]).


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Discussão
A maioria dos casos de revisão da prótese do quadril por infecção pertence ao sexo masculino ([Tabela 1]) o que vai de encontro com estudos prévios.[6] Para além disso, conforme os dados do presente trabalho, apesar de não existir significância estatística, a taxa de cura é menor no sexo masculino e, consequentemente, a taxa de recidiva de infecção é maior ([Fig. 6]). Estas duas informações corroboram a hipótese de que o sexo masculino é um fator de risco para infecção protética do quadril,[3] [22] apesar de existirem dados contraditórios na literatura.[10] [18]
No presente trabalho, não houve falecimentos relacionados com qualquer dos tipos de cirurgia em estudo. Estudos prévios em idosos apontam para uma mortalidade associada à infecção protética do quadril de cerca de 8%.[23] Seria necessária uma amostra de maior calibre para poder avaliar este parâmetro.
Apesar de a idade poder ser fator confundidor, a diferença na taxa de cura entre os dois tipos de cirurgia ([Fig. 1]) é coerente com a literatura. Um estudo retrospectivo com 92 pacientes compara a C1T e a C2T, com taxas de cura de 56,8 e 94,5%, respectivamente.[8] Uma metanálise indica 3% de risco adicional de reinfecção para a C1T.[10] No entanto, outra metanálise mais ampla e recente sugere taxas de cura similares para ambos os tipos de cirurgia, rondando 92%.[24] Porém, a fiabilidade destes dados é questionável, dado que não existem ensaios clínicos randomizados que comparem diretamente a eficácia dos procedimentos.[24]
Um trabalho descreve aumento do risco de infecção periprotética para índices de Charlson ≥ 1.[18] Contudo, nenhum estudo compara os dois procedimentos tendo em conta as comorbilidades. O presente trabalho aponta para a utilização favorável da C2T em pacientes que apresentam uma ou múltiplas comorbilidades, e para a utilização da C1T na ausência de comorbilidades ([Fig. 2]).
Pela [Tabela 2], pode-se verificar que a maioria dos pacientes foi intervencionada no local da infecção para além da artroplastia primária. Estes pacientes parecem apresentar um risco superior de infecção ([Figs. 3 e 4]), pois, para além do risco de infecção próprio associado a cada cirurgia, um procedimento destes causa lesões na microvasculatura e leva à fibrose, o que fragiliza a resposta imune local, podendo levar à exacerbação de uma infecção indolente, até aí insignificante.[12] Para os doentes que, para além da artroplastia primária, nunca foram operados no mesmo local, parece haver uma vantagem na taxa de cura na escolha da C2T. No entanto, não parece haver superioridade associada a qualquer um dos tipos de cirurgia nos pacientes com história prévia de cirurgia no local infectado.
Com os dados do presente trabalho, não é possível encontrar um claro benefício em algum dos dois tipos de cirurgia consoante a idade ([Figs. 5 e 6]). Acresce o fato de esta ser significativamente diferente entre os dois grupos ([Tabela 1]). Alguns autores defendem que a idade é fator de risco para infecção protética, mas existem dados contraditórios.[23] [25]
Pela [Fig. 7], pode-se verificar que a C2T está associada a um aumento estatisticamente significativo no tempo de recuperação até ao estado funcional, comparativamente com a C1T. No entanto, olhando para a [Fig. 8], percebe-se também que a diferença no tempo de recuperação entre os 2 tipos de cirurgias é menor para idades ≥ 75 anos. Para além de haver uma maior confiança na diferença estatística apresentada, a sua magnitude de efeito é maior para idades < 75 anos. Estes dados parecem sugerir que há um esbatimento do efeito da C2T no tempo de recuperação para idades mais avançadas (ou seja, ≥75 anos). Portanto, parece haver vantagem em considerar o tempo de recuperação até ao estado funcional como critério de escolha de tratamento (C1T versus C2T), principalmente para idades < 75 anos.
No presente projeto, não existiram diferenças no nível de atividade funcional final destes pacientes, de acordo com a pontuação na EFMA. Outros estudos reportam médias de 13.1 até 15.4 pontos após a C2T e em média 13.8 após a C1T nesta escala.[13] [21] [26] [27] Porém, nenhum dos estudos compara as pontuações entre dos dois tipos de cirurgia diretamente.
Complicações cirúrgicas aumentam o risco de infecção periprotética. Um estudo relaciona fratura intraoperatória na artroplastia do joelho com risco acrescido de infecção.[28] Outros estudos indicam que hemorragia ou hematoma intraoperatórios estão associados a um maior risco de infecção periprotética.[3] [4] Os dados do presente trabalho ([Tabela 2]) mostram um aumento de 8% no grupo C2T, comparado com o grupo C1T, na taxa de complicações cirúrgicas, sem significância estatística. Portanto, não é possível fazer uma associação entre o tipo de cirurgia e a taxa de complicações cirúrgicas, como sugerido anteriormente.[29] Porém, em outro estudo, propõe-se que o risco de complicações na C2T será aproximadamente o dobro da C1T, tendo cada tempo da C2T risco semelhante à C1T de desenvolver complicações cirúrgicas.[12]
Alguns autores propõem que agentes Gram-negativos, organismos multirresistentes e infecções polimicrobianas originam piores resultados.[10] [30] Porém, outros estudos mostram que os resultados dos antibiogramas não são suficientes para prever o resultado na infecção periprotética.[9] Portanto, os dados do presente trabalho não permitem tirar conclusões acerca do resultado nas infecções mais graves.
Visto que a decisão na escolha do tipo de cirurgia não foi aleatória, existe um viés de seleção. O fato de os pacientes que não completaram o segundo tempo de cirurgia terem sido excluídos provavelmente causa um viés a favor da C2T.
Dada a natureza do presente estudo, não é possível determinar se os casos em que o agente infeccioso não foi detectado foram devido a antibioterapia precoce.
Os próprios critérios de diagnóstico de infecção usados (propostos pela American Musculoskeletal Infection Society)[7] não permitem assegurar a evicção de falsos negativos e falsos positivos, pelo que alguns casos de infecção incluídos podem ter correspondido apenas a descolamento asséptico da prótese em que houve contaminação nos testes microbiológicos (mais frequentemente Staphylococci coagulase-negativos) e alguns casos de verdadeira infecção podem ter sido excluídos.[9] [15]
Os dados relativos ao tempo de recuperação funcional são independentes da cura de infecção, o que poderá ser fator confundidor. Para além disso, o limiar da dor pode variar entre jovens e idosos, por questões socioculturais, e é também possível que um doente mais jovem leve mais tempo a recuperar a sua função, dado que poderá atingir um maior arco de mobilidade do que um doente mais idoso. Não existem também registos da EFMA previamente às cirurgias.
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Conclusão
O presente trabalho mostra que existe vantagem no tempo de recuperação do doente na escolha da C1T. No entanto, não é possível tirar ilações fiáveis relativamente à comparação da taxa de cura entre as duas cirurgias. Mais estudos com maior tamanho amostral (idealmente, 3500 indivíduos[10]) deverão ser feitos, tendo em consideração fatores de risco e possíveis confundidores.
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Trabalho desenvolvido pelo Serviço de Ortopedia e Traumatologia, Unidade Local de Saúde Alto Minho.
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Endereço para correspondência
Publication History
Received: 19 March 2023
Accepted: 05 May 2023
Article published online:
30 October 2023
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