Os smartphones tornaram-se parte integrante da existência diária em nossas vidas devido à sua utilidade multifuncional que vão além dos recursos normais do telefone, como navegação na internet, correio eletrônico, serviços de localização, câmera e aplicativos de terceiros, chamados apps, que permitem ao usuário realizar toda uma gama de atividades.[1] Com essa premissa, lemos e analisamos com interesse o estudo de Gonçalves et al.,[2] cujo objetivo foi investigar o uso prolongado de smartphones como fator de risco para o desenvolvimento de morbidades no punho e nos dedos. O estudo concluiu que existe uma correlação significativa entre o tempo de uso do smartphone e o incômodo no punho e nos dedos.
O estudo incluiu 100 indivíduos com histórico de uso de smartphones nos últimos 5 anos. Considerando a prevalência do uso de smartphones, que gira em torno de 79% da população na faixa etária de 18 a 44 anos, um tamanho de amostra adequado em um estudo prospectivo como este poderia ter gerado resultados mais interessantes e com maior validade.[3]
O estudo utilizou o Boston Carpal Tunnel Questionnaire (BCTQ) para avaliar os sintomas e o déficit funcional nos indivíduos incluídos. Esta medida de resultados relatados pelo paciente (patient-reported outcome measure, PROM, em inglês) tem sido criticada, uma vez que a sua escala funcional não abarca atividades relacionadas a computadores ou smartphones.[4] Como o estudo em questão trata dos efeitos do uso do smartphone, a aplicação do BCTQ pode ter sido inadequada. A utilização de outra ferramenta validada, como o BCTQ Modificado, que conta com dois itens adicionais relacionados a aparelhos eletrônicos e direção, teria fornecido resultados mais válidos.
Um estudo com tamanho de amostra adequado, calculado prospectivamente com base na taxa de prevalência do uso de smartphones juntamente com o uso de PROM que englobe os itens relacionados ao uso destes dispositivos nos ajudará mais na compreensão do papel dos smartphones no desenvolvimento de dor no membro superior.