CC BY 4.0 · Rev Bras Ortop (Sao Paulo) 2024; 59(04): e599-e606
DOI: 10.1055/s-0044-1788671
Artigo Original
Oncologia

Expressão dos biomarcadores osteopontin, WNT3A e ABCB5 em pacientes com osteossarcoma

Artikel in mehreren Sprachen: português | English
1   Serviço de Ortopedia e Traumatologia, Hospital Erasto Gaertner, Curitiba, PR, Brasil
,
2   Centro de Ortopedia e Fisioterapia Batel, Curitiba, PR, Brasil
,
2   Centro de Ortopedia e Fisioterapia Batel, Curitiba, PR, Brasil
3   Pontifícia Universidade Católica do Paraná, Curitiba, PR, Brasil
,
2   Centro de Ortopedia e Fisioterapia Batel, Curitiba, PR, Brasil
,
2   Centro de Ortopedia e Fisioterapia Batel, Curitiba, PR, Brasil
,
2   Centro de Ortopedia e Fisioterapia Batel, Curitiba, PR, Brasil
› Institutsangaben
Suporte Financeiro Os autores declaram que este estudo não recebeu nenhum suporte financeiro de fontes públicas, comerciais ou sem fins lucrativos.
 

Resumo

Objetivo Correlacionar a expressão, por imunoistoquímica, das proteínas OPN, ABCB5 e WNT3A de material anatomopatológico, obtido de blocos de parafina e/ou lâminas, em pacientes com osteossarcoma (OS), analisando as características epidemiológicas, sua presença e influência na evolução e progressão da doença.

Métodos Após a seleção inicial dos casos, ocorreu a busca dos respectivos blocos de parafina, dentre os quais foram selecionados somente aqueles que possuíam massa tumoral suficiente para serem realizados cortes adicionais sem que todo o material biológico fosse utilizado. Foram identificadas áreas do sarcoma nos blocos de parafina representativos para a confecção de blocos multiamostrais (microarranjo de tecidos, ou tissue microarray [TMA], em inglês), realizada em instrumento BenchMark ULTRA (Roche Diagnostics Corporation, Indianapolis, IN, USA). Foi então analisada a associação entre a expressão dos marcadores ABCB5, WNT3A e OPN com as variáveis idade, localização e tipo de tecido (teste exato de Fisher/Qui-quadrado).

Resultados A média de idade foi de 23 anos, e a incidência de pacientes dos sexos masculino e feminino foi a mesma; foram analisadas 40 lâminas de 28 pacientes com OS, entre 2005 e 2017, com tempo de segmento de 80,0 meses, e o tempo de sobrevida foi de 46,7% em 5 anos. Metástases ocorreram em tecido pulmonar (92,9%). Quanto aos marcadores ABCB5, OPN e WNT3A, não apresentaram significância estatísticas quando comparados com faixa etária, neo-adjuvância e/ou adjuvância quimioterápica, localização, sobrevida ou óbito. O OPN mostrou-se negativo em todas as amostras. E o WNT3A expressou-se nos pacientes com óbitos precoces.

Conclusão As proteínas ABCB5, OPN e WNT3A, em estudo imunoistoquímico, não se mostraram presentes com significância estatística. Nos parâmetros analisados, não surgem como sendo fatores preditivos ou de agressividade para o OS.


#

Introdução

O presente trabalho aborda o estudo dos marcadores osteopontina (OPN), WNT3A, e ABCB5 em pacientes com osteossarcoma (OS).

O biomarcador ABCB5, ao ser analisado em outros tumores, especialmente carcinomas, desempenha um papel crucial na avaliação da resistência ao tratamento com agentes quimioterápicos comumente utilizados no combate ao OS.

A via de sinalização WNT3 é uma ocorrência comum em diversos tumores, abrangendo tanto carcinomas quanto sarcomas. Essa via desempenha um papel significativo na regulação de processos intracelulares, e sua presença em diferentes tipos de tumores destaca sua importância em contextos variados.

Quanto ao biomarcador OPN, embora esteja presente em muitos casos de carcinoma, sua função crucial no tecido ósseo está relacionada à maturação do pré-osteoblasto em osteoblasto. Essa transformação é um ponto crucial na apresentação do osteossarcoma, enfatizando a complexidade do papel desempenhado pela OPN, especialmente no contexto ósseo.

Não são conhecidos biomarcadores capazes de revelar a presença da doença, sua agressividade e propensão à formação de metástases. A oportunidade de explorar e estudar os biomarcadores analisados neste artigo se apresentou, e estamos aproveitando esta chance para integrar nossa experiência a essa investigação. Este é um passo crucial para aprofundar o entendimento da natureza desses sarcomas, visando contribuir significativamente para o avanço no diagnóstico e tratamento dessa doença complexa.

No cenário do OS, uma forma altamente agressiva de sarcoma ósseo, os biomarcadores desempenham papéis distintos e cruciais na progressão tumoral. O gene ABCB5, reconhecido como um biomarcador associado à resistência terapêutica, modula a atividade da via de sinalização WNT3, contribuindo para a sustentação da capacidade proliferativa e resistência celular no OS. A via WNT3, um biomarcador intrínseco, regula a expressão de genes relacionados ao crescimento descontrolado e à carcinogênese óssea.

Simultaneamente, a OPN, também considerada um biomarcador, é influenciada por fatores, incluindo a via WNT3, e está implicada na formação óssea, desempenhando um papel significativo na tumorigênese óssea. A expressão e atividade dos biomarcadores como ABCB5, a via de sinalização WNT3e a OPN têm sido associadas à agressividade do OS.

Em estudos, observou-se que níveis elevados desses biomarcadores muitas vezes estão correlacionados com um comportamento mais agressivo da doença. A presença de ABCB5, por exemplo, foi associada à resistência a tratamentos convencionais, o que pode contribuir para a progressão do OS. A ativação anômala da via WNT3está relacionada ao crescimento descontrolado e à invasividade tumoral, enquanto a expressão aumentada de OPN tem sido associada a uma maior capacidade de metastização.

Portanto, a análise desses biomarcadores pode oferecer insights prognósticos, lembrando que esses biomarcadores são amplamente estudados em carcinomas tais como: pulmão, mama e melanoma, entre outros.

A identificação e compreensão desses biomarcadores são essenciais para orientar estratégias terapêuticas mais precisas e eficazes contra o OS. A maior dificuldade é encontrar estudos com um número de casos significativo.

Aproximadamente 8,7 por milhão de crianças e adolescentes com menos de 20 anos sofrem desta patologia, que se origina no tecido mesenquimal. Isso torna esse o tumor maligno mais frequente na faixa etária até 20 anos.

O diagnóstico definitivo depende da apresentação clínica de dor e aumento de volume, seguida de uma investigação de imagem radiológica e/ou confirmação por biópsia.

Sabemos que a sobrevida, em um intervalo de 5 anos, é maior em pacientes sem metástases. Isso depende do comportamento biológico da patologia.

A maioria das metástases ocorrem no tecido pulmonar. Com o advento da poliquimioterapia neoadjuvante seguida de tratamento cirúrgico e quimioterapia adjuvante, a sobrevida melhorou em torno de 50 até 70%, dependendo da natureza heterogênea desta patologia.

Vários fatores prognósticos com biomarcadores já foram pesquisados para o OS. Porém, ainda não foi encontrado um biomarcador com forte evidência em diagnosticar ou avaliar prognósticos, principalmente em doenças metastáticas, bem como identificar possíveis alvos terapêuticos. Neste estudo, iremos evidenciar os biomarcadores WNT3A, OPN e ABCB5.

O biomarcador WTN3A, em experimentos de laboratório, é a proteína da família WNT canônica que mais se mostra envolvida na concentração anômala da ß-catenina no núcleo celular.[1] Já o biomarcador OPN no tecido ósseo normal é vital para desenvolvimento do osteoblasto. E o marcador ABCB5 é um novo transportador humano de membrana do grupo de proteínas ABC, que foi identificado e caracterizado na pele humana.

O presente trabalho objetiva correlacionar a expressão, por imunoistoquímica, das proteínas OPN, ABCB5 e WNT3A de material anatomopatológico, obtido de blocos de parafina e/ou lâminas, em pacientes com OS, analisando características epidemiológicas, sua presença e influência na evolução e progressão da doença.


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Materiais e métodos

O presente trabalho foi aprovado pelo comitê de ética da instituição sob o número CAAE: 69385417.7.1001.0103.

Dados e anátomo-clínicos foram obtidos a partir do prontuário eletrônico do sistema Philips Tasy Electronic Medical Record (Philips Healthcare, Best, Holanda) do hospital, e a revisão dos prontuários físicos e de laudos anátomo-patológicos, pelo serviço de anatomia patológica dos 64 pacientes portadores de OS atendidos no período de 2005 e 2017.

A busca inicial foi por meio da Classificação Internacional de Doenças (CID), código C40, e as anotações clínicas de cada caso, por protocolo padronizado com as variáveis nome, idade do paciente ao diagnóstico, sexo, número de tumores, número do bloco de parafina, diagnóstico histológico, local do tumor primário, data do diagnóstico, presença de metástases, local da metástase ao diagnóstico (se houvesse), tempo de sobrevida em meses, evento óbito (se houvesse), tempo de seguimento, e progressão da doença.

O término da data de avaliação da sobrevida dos pacientes foi dezembro de 2017.

Progressão da doença e tempo de sobrevida

Alguns pacientes, mesmo na vigência do tratamento, apresentaram recidiva da neoplasia ou progressão da doença com piora do estadiamento clínico, seja por retorno do tumor no sítio cirúrgico, ou aparecimento de metástase local (skip) ou à distância, em vísceras ou linfonodos. Os locais da progressão à distância registrados foram o pulmão e o linfonodo.

Posteriormente, calculou-se em meses o tempo livre de doença, que consiste no período que o paciente permaneceu sem sinais ou sintomas da neoplasia.

Em relação ao tempo de sobrevida, foi calculado pelo óbito ou data da última avaliação. Subtraiu-se a data em que foi realizado o diagnóstico de OS com a data do óbito ou última avaliação.

Seleção das amostras

Após a seleção inicial dos casos, ocorreu a busca dos respectivos blocos de parafina, os quais, foram selecionados somente os que possuíssem massa tumoral suficiente para serem realizados cortes adicionais sem que se usasse totalmente o material biológico.

As lâminas dos tumores foram reavaliadas por um segundo patologista independente, com o intuito de confirmar o diagnóstico de OS.

Para os blocos que não possuíssem lâmina de hematoxilina-eosina (HE), foi requisitada a sua produção. Nos casos em que haviam mais de um bloco de parafina, o patologista escolheu o bloco que possuía maior massa neoplásica.

Os blocos devidamente checados foram enviados para realizar a imunomarcação dos biomarcadores: OPN, WNT3A, ABCB5.


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Imunoistoquímica

A técnica de imunoistoquímica realizada no instrumento Ventana BenchMark ULTRA (Roche Diagnostics Corporation, Indianápolis, IN, EUA) com processamento 3 em 1 integrado e preparadas na seguinte ordem: desparafinização; re-hidratação; recuperação antigênica com tampões Cell Conditioning 1 (pH alto) e 2 (pH baixo) (Roche Diagnostics Corporation); os anticorpos primários foram incubados por 16 a 20 minutos em temperatura ambiente; em seguida, as lâminas foram submetidas à técnica da imunoperoxidase e foi realizada a amplificação da marcação através do Kit UltraView Universal DAB Detection (Ventana Medical Systems, Oro Valley, AZ, EUA); e, após realizada a imunomarcação, as lâminas de microarranjo de tecidos (tissue microarray – TMA, em inglês) foram laudadas. Controles positivos internos e externos testaram a fidelidade das reações.


#
#

Anticorpos utilizados

Os anticorpos primários utilizados estão descritos na [Tabela 1].

Tabela 1

Biomarcador

Anticorpo primário

Fabricante

Diluição

ABCB5

Anti-ABCB5, clone 5H3C6

GeneTex

1:200

OPN

Anti-Osteopontin, policlonal

Anti-Osteopontin, policlonal

1:25

WNT3A

Anti-WNT3A, policlonal

GeneTex

1:400


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Laudo da imunomarcação

As lâminas foram laudadas no microscópio Olympus CX31 (Olympus Life Science, Waltham, MA, EUA) por 2 patologistas diferentes, em tempos diferentes, utilizando os seguintes parâmetros:

  • Positivo: Presença combinada do anticorpo ABCB5 na membrana citoplasmática e no citoplasma; presença do anticorpo WNT3A no citoplasma; e presença do anticorpo OPN no citoplasma.

  • Negativas: Ausência de expressão da marcação cromógena nos alvos dos referidos anticorpos.

  • Inconclusivo: Impossibilidade de avaliar a expressão dos anticorpos, devido a problemas pré-analíticos (má-fixação, descalcificação ácida e parafina inadequada).


#
#

Resultados

As informações relativas aos pacientes estudados foram apresentadas com: dados de prontuário, número do paciente, lâminas, idade ao diagnóstico, gênero e local do tumor sobre amostra estudada ([Tabela 2]). Analisamos 40 amostras de blocos de parafina de espécimes de biopsias e peças cirúrgicas de tumores primários e metastáticos, retirados de 28 pacientes de OS provenientes do serviço de anatomia patológica, no período de 2005 a 2017. Relativos à sobrevida, presença ou não, local da metástase e expressão dos marcadores ABCB5, WNT3A e OPN ([Tabela 3]).

Tabela 2

Prontuário

Número do paciente

Lâminas

Idade ao diagnóstico

Gênero

Local

14001945

4

162818B

20

m

MI

4

167536B / 2-17

20

m

MI

14002913

5

143741B

12

f

MS

1001989

6

143042B

26

f

MI

6

149162B / 3-11

26

f

MI

6

157099B

27

f

MI

13000565

7

130884B

13

f

MI

7

135117

13

f

MI

7

140955B / 1-5

14

f

MI

7

143457B

14

f

AXIAL

12006205

8

140430B

62

m

MS

13005621

10

138466B 1-57

19

m

MI

13002093

11

134093B

20

m

MI

11

135736B

20

m

MI

7002221

12

073238B / 1-2

16

f

MS

12

073801B

16

f

MS

7002774

13

074648B

16

m

MI

13

077531B

16

m

MI

6008700

14

0608869E

61

f

MI

7001977

15

074428B

36

f

MI

11003053

34

116772B / 1-8

20

m

MI

11004802

36

116711B

45

m

MS

13001519

38

135295B / 1-25

13

f

MI

5006762

40

056664B

13

f

MI

6002708

43

0602903B

10

f

MI

6001225

45

0606133B / 1

13

f

MI

6008407

47

070309B / 1-3

27

m

MI

5004056

48

0600157B / 1-2

23

m

MS

15000164

51

150432B / 1-2

21

f

MI

14006899

52

154918B / 2-7

18

m

MI

14007558

53

150955B / 3-20

14

f

MI

15006646

55

167192B / 1-15

26

f

AXIAL

15007598

56

1610793B / 2-6

32

f

MI

16002529

58

163780B

20

m

MS

58

168657B / 1-14

20

m

MS

16004018

59

166003B / 1-9

22

m

MS

16009072

62

1612817B / 1-2

16

m

MI

62

170557B / 1-13

17

m

MI

17008495

63

1714419B

11

m

MI

Tabela 3

Prontuário

Sobrevida (meses)

Metástase

Local

ABCB5

WNT3A

OPN

14001945

57

Sim

Pulmão

Inconclusivo

Inconclusivo

Inconclusivo

52

Sim

Pulmão

Positivo

Negativo

Negativo

14002913

67

Não

Negativo

Negativo

Negativo

1001989

18

Sim

Pulmão

Positivo

Negativo

Negativo

12

Sim

Pulmão

Negativo

Negativo

Negativo

2

Sim

Pulmão

Negativo

Negativo

Negativo

13000565

17

Sim

Pulmão

Positivo

Negativo

Negativo

12

Sim

Pulmão

Positivo

Negativo

Negativo

5

Sim

Pulmão

Positivo

Positivo

Negativo

3

Sim

Pulmão

Inconclusivo

Inconclusivo

Inconclusivo

12006205

72

Não

Positivo

Negativo

Negativo

13005621

3

Não

Inconclusivo

Inconclusivo

Inconclusivo

13002093

11

Sim

Pulmão

Positivo

Positivo

Negativo

12

Sim

Pulmão

Negativo

Negativo

Negativo

7002221

24

Sim

Pulmão

Inconclusivo

Inconclusivo

Inconclusivo

24

Sim

Pulmão

Positivo

Negativo

Negativo

7002774

29

Sim

Pulmão

Positivo

Positivo

Negativo

25

Sim

Pulmão

Positivo

Negativo

Negativo

6008700

16

Não

Negativo

Negativo

Negativo

7001977

124

Não

Negativo

Negativo

Negativo

11003053

75

Sim

Pulmão

Positivo

Negativo

Negativo

11004802

68

Não

Positivo

Negativo

Negativo

13001519

8

Sim

Pulmão

Positivo

Negativo

Negativo

5006762

41

Sim

Pulmão

Inconclusivo

Inconclusivo

Inconclusivo

6002708

128

Não

Positivo

Negativo

Negativo

6001225

16

Sim

Linfonodo

Positivo

Negativo

Negativo

6008407

118

Sim

Pulmão

Inconclusivo

Inconclusivo

Inconclusivo

5004056

133

Não

Positivo

Negativo

Negativo

15000164

55

Sim

Pulmão

Negativo

Negativo

Negativo

14006899

3

Não

Negativo

Negativo

Negativo

14007558

34

Sim

Pulmão

Negativo

Negativo

Negativo

15006646

2

Não

Inconclusivo

Inconclusivo

Inconclusivo

15007598

52

Não

Positivo

Negativo

Negativo

16002529

18

Sim

Pulmão

Inconclusivo

Inconclusivo

Inconclusivo

13

Sim

Pulmão

Positivo

Negativo

Negativo

16004018

36

Não

Inconclusivo

Inconclusivo

Inconclusivo

16009072

12

Não

Positivo

Negativo

Negativo

11

Não

Negativo

Inconclusivo

Inconclusivo

17008495

24

Não

Negativo

Negativo

Negativo

A [Tabela 4] apresentada a análise realizada com base nos dados de 40 lâminas em 28 pacientes com OS.

Tabela 4

Paciente

Total

Número de lâminas

Tecido ósseo livre de tratamento

Tecido ósseo após terapia

1

1

1

2

1

1

3

1

1

4

1

1

5

1

1

6

1

1

7

1

1

8

1

1

9

1

1

10

1

1

11

1

1

12

1

1

13

1

1

14

1

1

15

1

1

16

1

1

17

1

1

18

1

1

19

1

1

20

2

1

1

21

2

2

22

2

1

1

23

2

2

24

2

1

1

25

2

1

1

26

2

2

27

3

1

2

28

4

1

3

Total de lâminas

40

22

18

Variáveis relativas ao paciente, como idade ao diagnóstico, sexo, número de lâminas ao longo do período de segmento e óbitos estão descritos na [Tabela 5].

Tabela 5

Variável

N válidos

Classificação

Resultado*

Idade ao diagnóstico (anos)

28

23 ± 13,4 (10–62)

Até 20

17 (60,7)

Mais de 20

11 (39,3)

Sexo

28

Feminino

14 (50)

Masculino

14 (50)

Número de lâminas ao longo do período de seguimento

28

1

19 (67,9)

2, 3 ou 4

9 (32,1)

Óbito

28

Não

14 (50)

Sim

14 (50)

Tempo de seguimento (não óbito) (meses)

14

80,0 ± 42,0 (27,5–150)

Tempo de sobrevida (óbitos) (meses)

14

18,2 ± 12,1 (2,7–42,1)

Tempo de seguimento geral (meses)

28

48,9 ± 43,6 (2,7–150)

Metástase

28

Não

14 (50)

Sim

14 (50)

Local da metástase (por paciente)

14

Pulmão

13 (92,9)

Linfonodo

1 (7,1)

Na [Tabela 6] são apresentados os percentuais de sobrevida em cada tempo estimados por Kaplan-Meier.

Tabela 6

Tempo (meses)

% de sobrevida

0 (diagnóstico)

100%

3 meses

100%

6 meses

96,4%

1 ano

92,9%

1,5 ano

67,9%

2 anos

64,3%

3 anos

56,9%

4 anos

52,5%

5 anos

46,7%

Dados descritivos dos marcadores ABCB5, WNT3A e OPN

Estão apresentados resultados (n válidos) relativos a variáveis de localização do tumor de 28 pacientes em membros inferiores (MIs), membros superiores (MSs), esqueleto axial (AXIAL); tipo de lâmina (biopsia, pós-quimioterapia e peça sem quimioterapia) e tipo de tecido da lâmina (sem tratamento e após terapia). Considerou-se apenas uma lâmina por paciente, sendo encontrados os resultados seguintes (n = 28): localização do tumor da lâmina – MIs (n [%] 20 [71,4]), MSs (n [%] 7 [25,0]), AXIAL (n [%] 1 [3,6]); tipo de lâmina – biópsia (n [%] 16 [57,1]), pós-quimio (n [%] 10 [35,7]), sem quimio (n [%] 2 [7,1]); tipo de tecido da lâmina – tecido ósseo livre de tratamento (n [%] 18 [64,3]), tecido ósseo após terapia (n [%] 10 [35,7]).

Os dados descritivos dos marcadores ABCB5, WNT3A e OPN, considerando apenas uma lâmina por paciente e percentuais, apresenta resultados com ABCB5 e WNT3A, após retirados os resultados inconclusivos, conforme segue:

ABCB5, n válido = 28

Negativo (n [%] 7 [25,0])

Positivo (n [%] 14 [50,0])

Inconclusivo (n [%] 7 [25,0])


#

ABCB5, n válido = 21

Negativo (n [%] 7 [33,3])

Positivo (n [%] 14 [66,7])


#

WNT3A, n válido = 28

Negativo (n [%] 19 [67,9])

Positivo (n [%] 2 [7,1])

Inconclusivo (n [%] 7 [25,0])


#

WNT3A, n válido = 21

Negativo (n [%] 19 [90,5])

Positivo (n [%] 2 [9,5])


#

OPN, n válido = 28

Negativo (n [%] 21 [75,0])

Inconclusivo (n [%)] 7 [25,0])


#

Avaliação de fatores associados aos resultados dos marcadores e entre fatores e sobrevida

Para esta análise, a unidade de observação foi a lâmina. Lâminas de um mesmo paciente foram consideradas como unidades independentes.

Para cada uma das variáveis, tipo de tecido e localização do tumor, e para cada marcador analisado, testou-se a hipótese nula de que não há associação entre a variável e o marcador versus a hipótese alternativa de que há associação.

Para idade ao diagnóstico e cada marcador, testou-se a hipótese nula de que as médias de idade são iguais para todas as classificações do marcador, versus a hipótese alternativa de que as médias não são iguais.

Com relação à sobrevida, para cada uma das variáveis analisadas, testou-se a hipótese nula de que não há associação entre a variável e a sobrevida, versus a hipótese alternativa de que há associação. São percentuais de óbitos de acordo com as classificações da variável: idade ao diagnóstico, sexo, metástases, local do tumor, marcadores ABCB5, WNT3A, OPN e os valores de p dos testes estatísticos.


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#
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Discussão

Os pacientes selecionados portadores de OS foram classificados em Enneking grau IIB ou III.

Na análise do perfil epidemiológico, 17 pacientes apresentavam idade abaixo de 20 anos (pacientes jovens) e 11 acima de 20 anos, sendo que o mais novo tinha apenas 10 anos de idade, em concordância com a literatura.[2] [3] [4] [5] Nesta amostragem, o sexo masculino e o feminino apresentaram a mesma incidência, 50%. Estudos com amostra maiores, demonstraram um discreto predomínio no sexo masculino.[6]

Nos pacientes avaliados, quanto à localização das metástases: 14 apresentaram metástases, sendo 13 em tecido pulmonar (92,9%) e 1 nos linfonodos (7,1%).[2] Nesta amostragem, 50% evoluíram com metástases pulmonar. Segundo Evola et al.,[7] aproximadamente 20% dos pacientes apresentam metástases pulmonares no diagnóstico inicial, em 40% dos pacientes as metástases ocorrem em um estágio posterior, e 80% das metástases ocorrem no pulmão.

A sobrevida, para esta amostra, foi de 46,7% em 5 anos (60 meses), um pouco abaixo do encontrado na literatura, que gira em torno de 50 a 65%.[2] [3] [8] Óbito ocorre entre o primeiro e terceiros anos após feito o diagnóstico na maioria dos pacientes, indicando que se trata de uma patologia muito agressiva.[5]

A localização em MIs ocorreu em 20 pacientes (71,4 %), MSs em 7 pacientes (25%), 1 caso AXIAL (3,6%). Plenamente em concordância com a literatura.[2] [5] [7] [9] [10]

As variáveis epidemiológicas (idade ao diagnóstico, sexo, metástases, local e marcadores) não apresentaram significância estatística quando se analisa desfecho óbito. A variável metástase demostra uma tendência à significância (p = 0,086); porém, a amostra é pequena para esta conclusão.

O marcador ABCB5 teve expressão positiva em 14 pacientes (66,7) em 7 pacientes negativas (33,3%), quando se excluíram os inconclusivos que foi em número de 7. Já o WNT3A teve expressão positiva em 2 pacientes (9,5%), em 19 com expressão negativas (90,5%), quando se excluíram os inconclusivos. E o marcador OPN só apresentou lâminas negativas, não houve expressão, tanto em lâminas de tecidos que receberam ou não, quimioterapia neoadjuvante.

Quando se avaliou a expressão de marcadores ABCB5 e WNT3A versus localização do OS em MSs e MIs, faixa etária abaixo ou acima de 20 anos, expressão positiva ou negativa também não apresentou significância. Porém, o marcador OPN só apresentou lâminas negativas tanto em lâminas do membro superior como do membro inferior, e nas faixas etárias acima e abaixo de 20 anos.

Na avaliação das lâminas dos 28 pacientes elegíveis, 6 pacientes tiveram as lâminas examinadas pré e pós-tratamento quimioterápico. Na avaliação pré-tratamento, havendo inicialmente uma lâmina por paciente e as avaliações pós-tratamento quimioterápico, foram analisadas lâminas de acordo com os eventos de progressão da doença (recidivas e metástases), que resultaram em análises de novas lâminas referentes a estes eventos. Portanto, o número de lâminas, pós-tratamento foi superior ao número de lâminas pré-tratamento – 9 lâminas.

Para o marcador ABCB5 na avaliação pré-tratamento, 3 lâminas (50%) apresentaram-se positivas, nenhuma negativa (0%) e 3 inconclusivas (50%). Após o tratamento quimioterápico, 6 apresentaram-se positivas (66,7%), 2 negativas (22,2%) e somente 1 inconclusiva (11,1%). O ABCB5 é um marcador que avalia a resistência às drogas quimioterápicas, e é mediador de quimiorresistência, identificado e comprovado como importante e específico à droga doxorrubicina. Na presente amostra, os pacientes que participaram de esquemas quimioterápicos, também receberam a doxorrubicina; logo, a expressão desta proteína se fez presente nas lâminas pré-tratamento, com 50%, aumentando sua expressão em lâminas pós-tratamento, com 66,7%. Mantendo a hipótese de que células-tronco tumorais desenvolvem a capacidade de resistência a drogas citotóxicas, não se conseguiu inibir a progressão tumoral.[11] [12] [13]

Haydon et al.[14] concluíram que a desregulamentação da via WNT/ ß-catenina é uma ocorrência muito comum no OS. Porém, nesta amostra, somente dois pacientes apresentaram indícios de ativação desta via. Mas, quando isso ocorreu, foi justamente com pacientes de pior prognóstico. Não houve significância estatística, quando se considerou a expressão dessa proteína influenciando na sobrevida.

O OPN não foi detectado nos osteoblastomas e nas peças de remodelação óssea. Sua expressão não teve influência nos pacientes em geral ou na sobrevida livre de doença. E não fornece informações preditivas sobre o resultado de pacientes com OS. A formação e a diferenciação do osteoblasto são fundamentais para formação do tecido ósseo. Além disso, o OPN interfere na diferenciação da célula primária mesenquimal em pré-osteoblasto, gerando osteoblasto maduro. A interrupção deste processo pode ser a causa principal da formação do OS. Portanto, Luo et al.,[15] relatam diminuição dos níveis de OPN em OS, pois não atua na diferenciação dos osteoblastos. Expressão da proteína OPN foi negativa em 100% das lâminas, corroborando os achados desses autores.


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Conclusão

Os biomarcadores ABCB5, OPN, WNT3A, em estudo imunoistoquímico no OS, apresentaram-se ausentes de significância estatística nos parâmetros epidemiológicos. Não demonstraram ser um fator preditor ou de agressividade para o OS. Observou-se discreto aumento de ABCB5, pós-quimioterapia. O bloqueio da expressão, desta proteína ABCB5 suporta a hipótese de aumento de sobrevida, livre de recidiva da doença. A proteína OPN não se mostrou presente na etiologia e no desenvolvimento do OS. Neste estudo, a via canônica WNT/ß-catenina não fez presente de maneira convincente pela expressão do marcador WNT3A. Estudos prospectivos, com material de banco de tumores congelados, randomizados e controlados, são pertinentes para consolidar e promover avanços em futuras pesquisas.


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Trabalho desenvolvido no Hospital Erasto Gaertner, Curitiba, PR, Brasil.


  • Referências

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  • 3 Misaghi A, Goldin A, Awad M, Kulidjian AA. Osteosarcoma: a comprehensive review. SICOT J 2018; 4: 12
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  • 13 Yang M, Li W, Fan D. et al. Expression of ABCB5 gene in hematological malignances and its significance. Leuk Lymphoma 2012; 53 (06) 1211-1215
  • 14 Haydon RC, Deyrup A, Ishikawa A. et al. Cytoplasmic and/or nuclear accumulation of the beta-catenin protein is a frequent event in human osteosarcoma. Int J Cancer 2002; 102 (04) 338-342
  • 15 Luo X, Chen J, Song WX. et al. Osteogenic BMPs promote tumor growth of human osteosarcomas that harbor differentiation defects. Lab Invest 2008; 88 (12) 1264-1277

Endereço para correspondência

Glauco José Pauka Mello, MD
Rua José Benedito Cottolengo, 710, 81220-310, Curitiba, PR
Brasil   

Publikationsverlauf

Eingereicht: 14. November 2023

Angenommen: 29. April 2024

Artikel online veröffentlicht:
04. September 2024

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