CC BY 4.0 · Rev Bras Ortop (Sao Paulo) 2025; 60(01): s00441800943
DOI: 10.1055/s-0044-1800943
Carta ao Editor

Carta ao editor sobre o artigo: O tamanho da glenosfera não importa na artroplastia total reversa de ombro. Rev Bras Ortop. 2024;59(2):254–259

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1   Instituto de Ortopedia e Traumatologia, Hospital São Vicente de Paulo, Passo Fundo, RS, Brasil.
2   Instituto Brasil de Tecnologias da Saúde, Rio de Janeiro, RJ, Brasil.
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Com grande interesse, li o artigo “O tamanho da glenosfera não importa na artroplastia total reversa de ombro” publicado por Patel et al.[1] Estudos com foco nos resultados clínicos da artroplastia total reversa do ombro (ATR) são sempre importantes devido ao crescimento linear e a “popularização” deste procedimento. Dada a conclusão do estudo publicado (que foi a base para seu título), é necessário escrutinar os detalhes da metodologia aplicada devido ao impacto e à importância de suas repercussões. Alguns detalhes podem nos ajudar a entender os resultados obtidos em tal pesquisa, em especial aqueles referentes à técnica cirúrgica, reabilitação e cronologia da metodologia aplicada.

Técnica Cirúrgica e Reabilitação

Considerando a ampla gama de configurações disponíveis para a ATR (como inlay versus onlay, lateralização da glenosfera, ângulo colo-diáfise, inclinação, entre outras) e suas respectivas influências nos resultados funcionais,[2] [3] torna-se crucial compreender de maneira detalhada o tipo específico de implante utilizado no estudo em análise. A identificação precisa da prótese utilizada é fundamental para replicar os resultados, permitindo uma avaliação mais precisa da eficácia da técnica aplicada.

A reinserção ou não do tendão subescapular na ATR é um fator amplamente discutido e que tem impactos significativos, principalmente no que se refere à amplitude de movimento. A elucidação desses dados no artigo fornecerá aos leitores uma base sólida para avaliar as metodologias e os resultados do estudo.[4]

Quanto ao processo de reabilitação, faltam informações precisas sobre qual protocolo foi adotado no pós-operatório, bem como o período de imobilização com tipoia, qual tipo de tipoia foi utilizado e o momento de início da reabilitação fisioterapêutica. Os protocolos de reabilitação após a ATR são frequentemente discutidos e têm um impacto significativo no grau de mobilidade final.[5]


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Cronologia

O estudo, desenvolvido no Departamento de Cirurgia Ortopédica, Icahn School of Medicine at Mount Sinai, em Nova York, Estados Unidos, menciona que foram incluídos pacientes submetidos à ATR desde 1987. No entanto, tal procedimento foi aprovado pela Food and Drug Administration 16 anos depois, em novembro de 2003 (Delta Shoulder K021478; DePuy Inc., Raynham, MA, EUA).[6] Acredito que esclarecer essa discrepância cronológica é essencial para uma compreensão adequada da metodologia do estudo.

A amplitude de movimento – o aspecto mais importante do estudo em questão – foi medida e dividida entre pré- e pós-operatória. No entanto, o estudo não deixa claro em que ponto a medição pós-operatória foi feita. A determinação precisa desse intervalo é crucial, pois influencia diretamente a interpretação dos resultados e a validade do estudo.

O escore do Simple Shoulder Test (SST) foi aplicado para avaliação pré- e pós-operatória dos pacientes. Entretanto, há uma lacuna metodológica quanto à coleta de dados de pacientes submetidos à cirurgia antes de 1993, ano em que o SST foi formalmente descrito.[7]

Em suma, é imprescindível ressaltar que o aprofundamento detalhado das informações apresentadas é fundamental, tendo em vista a relevância substancial dos achados relatados neste estudo e o significativo potencial de impacto desta publicação no campo científico.


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  • Referências

  • 1 Patel AV, White CA, Li T, Parsons BO, Flatow EL, Cagle PJ. Glenosphere Size Does Not Matter in Reverse Total Shoulder Arthroplasty. Rev Bras Ortop 2024; 59 (02) e254-e259
  • 2 Larose G, Fisher ND, Gambhir N. et al. Inlay versus onlay humeral design for reverse shoulder arthroplasty: a systematic review and meta-analysis. J Shoulder Elbow Surg 2022; 31 (11) 2410-2420
  • 3 Sheth U, Saltzman M. Reverse total shoulder arthroplasty: Implant design considerations. Curr Rev Musculoskelet Med 2019; 12 (04) 554-561
  • 4 Ameziane Y, Holschen M, Engel NM, Schorn D, Witt KA, Steinbeck J. Does the subscapularis repair affect the clinical outcome after primary reverse shoulder arthroplasty?. J Shoulder Elbow Surg 2024; 33 (09) 1909-1917
  • 5 Howard MC, Trasolini NA, Waterman BR. Optimizing outcomes after reverse total shoulder arthroplasty: Rehabilitation, expected outcomes, and maximizing return to activities. Curr Rev Musculoskelet Med 2023; 16 (04) 145-153
  • 6 Food and drug administration. Delta shoulder. DePuy 510 (k) K021478, summary. 2003 . Available from: https://www.accessdata.fda.gov/cdrh_docs/pdf2/k021478.pdf
  • 7 Lippitt SB, Harryman DT, Matsen FA. A practical tool for evaluating function: The simple shoulder test. In: The Shoulder: A Balance of Mobility and Stability; Matsen, American Academy of Orthopaedic Surgery: Rosemont, IL, USA; 1993: 501-518

Endereço para correspondência

João Artur Bonadiman, MD
Instituto de Ortopedia e Traumatologia
Rua Uruguai, 2050, Passo Fundo, RS, 99010-112
Brasil   

Publication History

Received: 09 July 2024

Accepted: 02 October 2024

Article published online:
04 March 2025

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Bibliographical Record
João Artur Bonadiman. Carta ao editor sobre o artigo: O tamanho da glenosfera não importa na artroplastia total reversa de ombro. Rev Bras Ortop. 2024;59(2):254–259. Rev Bras Ortop (Sao Paulo) 2025; 60: s00441800943.
DOI: 10.1055/s-0044-1800943
  • Referências

  • 1 Patel AV, White CA, Li T, Parsons BO, Flatow EL, Cagle PJ. Glenosphere Size Does Not Matter in Reverse Total Shoulder Arthroplasty. Rev Bras Ortop 2024; 59 (02) e254-e259
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  • 4 Ameziane Y, Holschen M, Engel NM, Schorn D, Witt KA, Steinbeck J. Does the subscapularis repair affect the clinical outcome after primary reverse shoulder arthroplasty?. J Shoulder Elbow Surg 2024; 33 (09) 1909-1917
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