CC BY 4.0 · Revista Brasileira de Cirurgia Plástica (RBCP) – Brazilian Journal of Plastic Surgery 2024; 39(04): s00451801846
DOI: 10.1055/s-0045-1801846
Relato de Caso

Coxoplastia médio-posterior em S: uma nova técnica com melhor ocultação da cicatriz

Artikel in mehreren Sprachen: português | English
1   Cirurgia Plástica, Origen, Belo Horizonte, MG, Brasil
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2   Cirurgia Plástica, Hospital Felício Rocho, Belo Horizonte, MG, Brasil
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Financiamento Os autores declaram que não receberam financiamento para esta pesquisa.

Ensaios Clínicos Não. | Clinical Trials None.
 

Resumo

O objetivo dos autores é apresentar uma nova técnica de coxoplastia que resolva o desconforto e estigma associados a cicatrizes na virilha ou outras regiões anteriores do corpo após coxoplastias convencionais.

O estudo apresenta um relato de caso de uma técnica de coxoplastia realizada em pacientes pós-bariátricas submetidas a intenso emagrecimento, por meio de ressecção de pele em S realizada na região póstero-medial da coxa, sem cicatriz na parte anterior do corpo. As pacientes não apresentaram complicações pós-operatórias e apresentaram cicatrizes discretas. Além disso, a técnica consegue uma grande redução do excesso de pele, em múltiplos vetores, melhorando o contorno corporal.

A técnica envolve o posicionamento inédito da cicatriz em forma de S nos sulcos sub-glúteos e posteromediais das coxas, sem cicatriz anterior na virilha, melhorando significativamente o ocultamento da cicatriz. Permite também não ter angulações na linha de sutura, melhor distribuição das trações cutâneas, menor chance de deiscência da ferida, ao mesmo tempo em que permite a ressecção de grandes quantidades de excesso de pele nas direções longitudinal e transversal, com tração em múltiplos vetores.

A técnica de coxoplastia apresentada é um procedimento inovador, inédito, que permite um melhor ocultamento da cicatriz e provável menor incidência de complicações devido à melhor distribuição da tensão cicatricial.


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Introdução

Com o aumento da incidência global de obesidade, um grande número de pacientes é submetido à cirurgia bariátrica que leva ao excesso de pele e tecidos moles e diminuição do tônus da pele.[1] O excesso de gordura e o acúmulo de pele muitas vezes levam a desconforto social, lesões locais na pele devido ao atrito entre as coxas, dificuldades de locomoção e incômodos na vida sexual e autoestima dos pacientes.[1]

A coxoplastia foi descrita pela primeira vez por Lewis[2] em 1957 mas, em 1988, Lockwood et all[3] revolucionaram a coxoplastia ao ancorar o retalho de pele na fáscia de Colles,[4] [5] [6] o que permitiu uma maior estabilidade da cirurgia e resultou em menos complicações.[7] Le Louarn (2004) acrescentou a importância da lipoaspiração radical antes da ressecção por avulsão para minimizar complicações linfáticas e reduzir edema e seroma.[8]

Diversas técnicas de ressecção do tecido adiposo subcutâneo da coxa descritas até agora envolvem técnicas de cicatriz em forma de J e T. Na verdade, a ressecção longitudinal está cada vez mais sendo usada para obter tração da pele em ambas as direções longitudinal e transversal.[9] [10] [11] No entanto, ainda produzem cicatrizes transversais anteriores na raiz da coxa e virilha, ([Fig. 1]) que podem ser evidentes e estigmatizantes, principalmente na vida íntima. Assim, apesar dos avanços alcançados com as técnicas atuais de coxoplastia, dois pontos permanecem sem solução: cicatriz anterior aparente na raiz da coxa e virilha, e deiscência de sutura frequente nos ângulos das cicatrizes.[12]

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Fig. 1 Cicatrizes anteriores produzidas em técnicas de coxoplastia

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Objetivo

O presente estudo tem como objetivo descrever uma nova técnica de coxoplastia com ressecção de pele em forma de S colocada na região póstero-medial da coxa com o objetivo de tentar melhorar ainda mais os resultados estéticos da coxoplastia, por não produzir cicatriz anterior na virilha e não produzir cicatriz com ângulos, com intuito de reduz a deiscência cicatricial.


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Paciente e métodos

Critério de inclusão: pacientes maiores de 18 anos, submetidas a coxoplastia pós-bariátrica com perda ponderal maior ou igual a 30 kg e IMC abaixo de 30. As pacientes não apresentavam comorbidades nem fatores de risco. Elas leram e assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido (TCLE) autorizando a cirurgia e a publicação dos dados para fins científicos.

Foi realizado a prevenção de trombose venosa profunda com Enoxiparina 40mg por 5 dias.

A coxoplastia com ressecções cutâneas em S foi realizada em pacientes do sexo feminino, uma de 44 anos, 77,5 kg, IMC 29,17, com perda ponderal de 30 kg. A outra de 39 anos, 70,60 kg, IMC 26,57, com perda ponderal de 30 kg, previamente submetidas à cirurgia bariátrica.

Utilizando um teste de pinça de manobra bi-digital, com invaginação dos tecidos, uma marcação S médio-posterior foi realizada na coxa com as pacientes em posição ortostática e conferidas em decúbito ventral. Essa marcação em S, a ser ressecada, foi definida com a parte transversal superior do S posicionada no sulco subglúteo, enquanto as incisões longitudinais e transversais da ressecção cutânea em S foram distribuídas por toda a coxa. ([Fig. 2]).

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Fig. 2 Marcação da ressecção de pele em preto e lipoaspiração em azul

A cirurgia foi realizada com as pacientes em decúbito ventral.

Após a anestesia peridural, foi realizada lipoaspiração superficial e profunda das coxas com vibrolipoaspirador, de forma radical nas áreas que serão ressecadas.

As ressecções de pele foram realizadas por avulsão sem descolamento para preservação da circulação linfática. Com a ressecção por avulsão, a incidência de seroma, linfedema e hematoma tende a ser reduzida, pois preserva a circulação local.[11] [12] ([Fig. 3]).

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Fig. 3 Ressecção de pele por avulção

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Resultados

As cirurgias das duas pacientes demoraram 4 horas cada uma delas. As pacientes tiveram alta hospitalar no mesmo dia, deambulando normalmente. Os pontos foram retirados após duas semanas e elas foram acompanhadas no pós-operatório por seis meses. Elas seguiram os cuidados de não agachar por duas semanas e voltar às atividades físicas após um mês.

A técnica cirúrgica de coxoplastia posterior medial em S produziu considerável redução do excesso de pele, melhorando o contorno das coxas das pacientes. A ressecção médio-posterior em S evoluiu sem complicações incluindo deiscência de sutura. Além disso, a cicatriz resultante foi posicionada no sulco subglúteo, na região posterior do corpo e na região medial da coxa, formando uma cicatriz em forma de S médio-posterior, deixando a região anterior e a virilha sem cicatrizes. O melhor ocultamento da cicatriz e ausência de cicatriz anterior são a grande conquista dessa nova técnica, que pode favorecer uma potencial melhora na satisfação pessoal das pacientes e aumento do número de tratamento por uma provável maior aceitação das pacientes. ([Figs. 4] e [5]).

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Fig. 4 Pré e pós-operatório de seis meses de coxoplastia em S posterior
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Fig. 5 Pré e pós-operatório de seis meses de coxoplastia em S posterior

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Discussão

Apesar dos avanços na coxoplastia, as cicatrizes anteriores visíveis e o alto índice de deiscência da ferida permanecem sem solução.[12] A nova coxoplastia usando a ressecção de pele em forma de S aqui descrita remove grandes extensões de pele em excesso nos sentidos longitudinal e transversal, sem cicatrizes anteriores na virilha. Nos dois casos descritos pelos autores, não houve deiscência da ferida, provavelmente por fazer os ângulos em S, evitando retalhos com ângulos agudos mais propensos a isquemia e deiscência de sutura nesses ângulos.

Contraturas de cicatrização inelástica ocorrem frequentemente no componente longitudinal das cicatrizes "L" e "T" usadas em outras coxoplastias, muitas vezes levando a fibrose em uma dimensão linear e cicatrizes perceptíveis que podem restringir o movimento local (contratura). Ademais, são mais propensas a isquemia, maior carga de tensão, deiscência de sutura e necrose da pele. Essas consequências indesejáveis são menos prováveis de ocorrer quando uma ressecção de pele em forma de S é usada, pois ela não cria ângulos retos ou agudos. Além disso, a ressecção da pele com uma incisão em “S” na superfície cilíndrica da coxa remove simultaneamente os excessos de pele longitudinal e transversal ao longo da coxa em múltiplos vetores,[13] sem a necessidade de um vetor específico separado em linha reta, passo muitas vezes necessário para o “T” e incisões em "L". ([Fig. 6]).

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Fig. 6 Tração em múltiplos vetores

A técnica proposta resolve o desconforto e as deficiências estéticas causadas pelas cicatrizes oriundas das coxoplastias convencionais. Como as cicatrizes decorrentes da nova técnica são posteriores e posicionadas nos sulcos sub-glúteos, ficam perfeitamente ocultas mesmo quando as coxas são abduzidas. Além disso, a técnica apresenta aparente menor risco de deiscência e retração da pele, pois as cicatrizes em “S” não apresentam ângulos. Ademais, a técnica tem o mesmo, ou até maior, potencial para remoção de grandes quantidades de pele transversal e longitudinalmente. Por fim, permite uma melhor distribuição da tração da raiz da coxa até os joelhos. ([Figs. 7] e ).

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Fig. 7 Cicatriz médio posterior em S proposta pela técnica

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Conclusão

A técnica de coxoplastia aqui apresentada descreve um procedimento inovador e inédito com ressecção em S, sem angulações nas suturas e melhor distribuição da tensão cicatricial. Isso resulta em melhor ocultação das cicatrizes, que são colocadas no sulco subglúteo e medial da coxa. Além disso, a nova técnica tem o potencial de reduzir a chance de deiscência da ferida e permite a ressecção de pele extensa nas direções transversal e longitudinal, em múltiplos vetores.[13]

Esse relato de casos é o passo inicial para que nossos estudos possam comprovar cientificamente as virtudes apontadas por essa nova abordagem cirúrgica.


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Contribuição dos Autores

AMD: Analysis and/or data interpretation, Conception and design study, Conceptualization, Data Curation, Final manuscript approval, Formal Analysis, Funding Acquisition, Investigation, Methodology, Project Administration, Realization of operations and/or trials, Resources, Software, Validation, Visualization, Writing - Original Draft Preparation, Writing - Review & Editing; GMS: Supervision.



Endereço para correspondência

Alexandre Melo dos Santos
Rua dos Aimorés
462/418, Funcionário, Belo Horizonte, MG
Brasil   

Publikationsverlauf

Eingereicht: 14. Mai 2024

Angenommen: 29. September 2024

Artikel online veröffentlicht:
30. Januar 2025

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Bibliographical Record
Alexandre Melo dos Santos, Gustavo Moreira Souza. Coxoplastia médio-posterior em S: uma nova técnica com melhor ocultação da cicatriz. Revista Brasileira de Cirurgia Plástica (RBCP) – Brazilian Journal of Plastic Surgery 2024; 39: s00451801846.
DOI: 10.1055/s-0045-1801846

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Fig. 1 Cicatrizes anteriores produzidas em técnicas de coxoplastia
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Fig. 1 Anterior scars from thighplasty techniques
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Fig. 2 Marcação da ressecção de pele em preto e lipoaspiração em azul
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Fig. 3 Ressecção de pele por avulção
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Fig. 2 Marking of skin resection in black and liposuction in blue
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Fig. 3 Skin resection by avulsion
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Fig. 4 Pré e pós-operatório de seis meses de coxoplastia em S posterior
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Fig. 5 Pré e pós-operatório de seis meses de coxoplastia em S posterior
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Fig. 4 Pre- and post-operative period of posterior S-shaped thighplasty
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Fig. 5 Pre- and post-operative period of posterior S-shaped thighplasty
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Fig. 6 Tração em múltiplos vetores
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Fig. 7 Cicatriz médio posterior em S proposta pela técnica
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Fig. 6 Traction in multiple vectors
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Fig. 7 Mid-posterior S-shaped scar proposed by the technique