Subscribe to RSS

DOI: 10.1055/s-0044-1790578
O sinal de lucência peritubercular como fator preditivo considerável de escorregamento no quadril contralateral em casos de escorregamento epifisário unilateral da cabeça do fêmur
Article in several languages: português | EnglishResumo
Objetivo Determinar se o parâmetro radiográfico na região do tubérculo epifisário (sinal de lucência peritubercular) no lado não acometido pode prever o escorregamento epifisário da cabeça do fêmur (EECF).
Métodos Revisamos retrospectivamente pacientes com diagnóstico inicial de EECF unilateral entre 1995 e 2020 em um hospital pediátrico de uma capital brasileira. Os pacientes foram monitorados por pelo menos 18 meses. Dois revisores avaliaram as radiografias de forma independente e cega quanto à presença ou ausência do sinal. As divergências foram resolvidas por um terceiro revisor sênior.
Resultados Dos 115 casos revisados, o sinal de radiotransparência peritubercular foi observado em 21 dos 30 pacientes que desenvolveram a doença no quadril contralateral. O sinal foi observado em média 21 dias após o diagnóstico no primeiro lado e aproximadamente 301 dias antes do acometimento do quadril contralateral. Esteve presente, em 95% e 85% dos casos nas incidências em perfil (perna de rã) e anteroposterior (AP), respectivamente. A confiabilidade interobservador foi medida pelo teste Kappa (k = 0,0801). Houve relação significativa entre a presença do sinal e o EECF (p < 0,001).
Conclusão Propomos que o sinal de lucência peritubercular seja utilizado como ferramenta complementar no diagnóstico precoce de epifisiólise do fêmur proximal, pois é benéfico no planejamento terapêutico.
Nível De Evidência Nível III – Estudo De Pacientes Não Consecutivos (Sem Um “Padrão-Ouro” Aplicado Consistentemente Como Referência).
#
Palavras-chave
diagnóstico precoce - escorregamento das epífises proximais do fêmur - quadril - radiografiaIntrodução
Durante a fase de rápido crescimento da adolescência, o aumento da fragilidade e o estresse de cisalhamento podem provocar o escorregamento da epífise da cabeça do fêmur para fora do colo femoral, uma doença conhecida como escorregamento epifisário da cabeça do fêmur (EECF).[1] [2] A fisiopatologia exata ainda é obscura, mas acredita-se que o tubérculo seja crucial no desenvolvimento da doença. O mecanismo sugerido envolve uma rotação durante o EECF e, assim, o tubérculo atuaria como um fulcro de localização excêntrica no quadrante posterossuperior da fise.[3] Esta é a estrutura óssea mais pronunciada observada na superfície fisária da epífise da cabeça do fêmur.[4] Liu et al.[5] sugeriram que o tubérculo epifisário é o principal responsável pela estabilização da epífise da cabeça do fêmur e pela salvaguarda dos vasos epifisários laterais. Durante a adolescência, o tubérculo sofre uma redução de altura e perímetro, o que pode causar instabilidade local e aumentar o risco de necrose.[6] A taxa de incidência da doença é de 1 a 7 casos por 100 mil pessoas, e o EECF afeta mais meninos, normalmente por volta dos 14 anos de idade.[7] A maturidade esquelética, os distúrbios metabólicos, a morfologia femoral e o índice de massa corporal podem influenciar o desenvolvimento da doença, que está frequentemente associada ao aumento do peso corporal.[8] [9] A doença é mais frequente do lado esquerdo, e pode acometer os 2 lados em até 80% dos casos. O acometimento bilateral pode ser simultâneo ou ocorrer em momentos diferentes, geralmente nos primeiros 18 meses após o acometimento de um dos lados.[10] [11] A intervenção cirúrgica é um tratamento bem estabelecido para a doença, e o monitoramento do quadril contralateral é crucial. Nos últimos anos, vários parâmetros radiográficos foram examinados para identificar sinais precoces de EECF no quadril contralateral; eles incluem o ângulo de Southwick, que indica o aumento da inclinação epifisária,[12] o ângulo de inclinação posterior,[13] o ângulo alfa[14] e a inclinação epifisária.[15] Embora alguns autores[16] [17] defendam a fixação profilática com base em uma combinação de dados clínicos, evidências radiográficas e indicadores sociais, a avaliação do quadril não afetado continua sendo objeto de estudo.[18] Recentemente, um novo parâmetro de imagem objetivo, conhecido como sinal de radiotransparência peritubercular, foi proposto.[19] Acredita-se que esse sinal seja evidente nas radiografias desde as primeiras alterações que ocorrem no tubérculo epifisário e na metáfise correspondente. No entanto, a sua aplicação prática em ambientes clínicos ainda é incerta.
Este estudo tem como objetivo determinar se o sinal de radiotransparência peritubercular pode ser usado como parâmetro radiográfico confiável para o diagnóstico precoce e como preditor de doença no quadril contralateral em pacientes com EECF unilateral. Além disso, pretendemos avaliar se a ausência deste sinal pode prever a ausência de EECF. Por fim, a concordância interobservadores nas análises radiográficas também foi avaliada.
#
Materiais e Métodos
Este estudo longitudinal retrospectivo foi realizado no Hospital Infantil Joana de Gusmão. A população do estudo foi composta por pacientes com diagnóstico inicial de EECF unilateral que não haviam sido submetidos à cirurgia do lado oposto e com acompanhamento ambulatorial mínimo de 18 meses no Serviço de Ortopedia entre 1995 e 2020. Pacientes que não apresentaram fechamento fisário nesse período foram monitorados até o fechamento completo da cartilagem trirradiada, e todos foram acompanhados até atingirem a maturidade esquelética. Os pacientes selecionados foram numerados sequencialmente de acordo com sua inclusão no estudo. Os dados foram coletados retrospectivamente de prontuários eletrônicos e físicos, conforme o instrumento de pesquisa descrito no [Anexo 1]. As radiografias obtidas durante o acompanhamento foram classificadas cronologicamente em cada caso e revisadas por dois cirurgiões ortopédicos em início de carreira (revisores 1 e 2). Estes cirurgiões procuraram o sinal de lucência peritubercular conforme descrito em 2018 por Maranho et al.[19] ([Fig. 1]). Apenas as radiografias realizadas nas incidências anteroposterior (AP) e de perfil (perna de rã) foram consideradas válidas. Os revisores 1 e 2 avaliaram a presença ou ausência do sinal em todas as radiografias. O sinal foi considerado presente se aparecesse em pelo menos uma radiografia, e ausente, se não fosse encontrado em nenhuma. As respostas foram consideradas válidas quando ambos os revisores concordaram quanto à presença ou ausência do sinal. Nos casos de discordância, um terceiro avaliador, um cirurgião ortopedista sênior, denominado revisor 3, foi consultado para a análise final. Todos os revisores conduziram suas análises de forma independente e cega. Anteriormente, todos os 3 revisores realizaram testes de confiabilidade intra e interobservadores em 2 rodadas, analisando 10% (15/115 casos) do tamanho total da amostra.
Nome |
---|
Prontuário médico |
Data de nascimento – dia/mês/ano |
Idade em anos |
Sexo – masculino/feminino |
Cidade de origem |
Comorbidade – descrição |
Percentil na tabela peso x idade |
Tempo de evolução dos sintomas – em dias |
Trauma – presente ou ausente |
Local de início dos sintomas – descrição |
Data do primeiro atendimento – dia/mês/ano |
Primeiro lado – direito/esquerdo |
Primeiro grau lateral – 0/1/2/3 |
Cirurgia do primeiro lado – dia/mês/ano |
Primeiro tipo de fixação lateral – in situ/redução |
Material do primeiro lado – descrição |
Segundo lado – direito/esquerdo |
Segundo grau lateral – 0/1/2/3 |
Tipo de fixação do segundo lado – in situ/redução |
Material do segundo lado – descrição |
Sinal de radiotransparência – presente/ausente |
Presença de sinal – sim/não |
Tempo de acompanhamento – em meses |
Complicação – descrição |
Retirada de material – sim/não |


Foram excluídos pacientes que já haviam sido submetidos à fixação em outro serviço ou à fixação profilática do quadril não afetado, aqueles que não apresentavam radiografias adequadas para revisão, ou que foram diagnosticados com alguma outra doença no quadril contralateral. Os casos que já se apresentaram com doença nos dois quadris desde o início (bilaterais) não foram considerados. Um fluxograma da seleção do paciente é mostrado na [Fig. 2].


Foram realizadas análises descritivas das variáveis. As relações entre as variáveis de interesse foram examinadas por meio do teste de correlação do coeficiente de contingência C, com nível de significância de p < 0,01. A concordância interobservadores foi verificada por meio do coeficiente de concordância Kappa, com nível de significância de p < 0,01. Os dados foram analisados usando o programa IBM SPSS Statistics Subscription for Windows, versão Build 1.0.0.1406 (IBM Corp., Armonk, NY, Estados Unidos).
Este estudo foi realizado após aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa da instituição (parecer n° 42937121.2.0000.5361). O estudo baseou-se na Resolução no 500/16 do Conselho Nacional de Saúde (CNS), e obedeceu aos princípios éticos de beneficência, não maleficência, justiça e autonomia.
#
Resultados
Este estudo incluiu 115 pacientes com diagnóstico de EECF unilateral à primeira consulta. Durante o acompanhamento, 30 pacientes desenvolveram a doença no quadril contralateral. A idade média foi de 11,81 (variação: 9–15) anos, e o período médio de acompanhamento foi de 32,8 (variação: 4–96) meses ([Tabela 1]). Na análise de obesidade e sobrepeso, utilizamos como referência o índice peso para a idade, e referenciamos os gráficos de percentis dos Centers for Disease Control and Prevention.[20] Dois pacientes apresentavam múltiplas comorbidades (hipotireoidismo e doenças associadas à obesidade). Em relação à duração dos sintomas, verificamos que 33% dos casos eram agudos, 62%, crônicos, e 5%, crônicos e agudos de acordo com a classificação de Fahey e O'Brien.[21] A gravidade de cada quadril afetado foi medida de acordo com a classificação de quantificação do escorregamento da epífise em relação ao colo femoral, como descrita por Wilson et al.[22] Um dos casos com classificação de gravidade, um foi diagnosticado por cintilografia, e o outro foi diagnosticado com base nos sintomas de dor e recusa a suportar peso no membro acometido. O tempo médio desde a primeira consulta até o primeiro procedimento cirúrgico foi de 3,19 (variação: 0–30) dias. Nos pacientes que durante o seguimento evoluíram com a doença no quadril contralateral e precisaram de fixação, o intervalo entre as 2 cirurgias foi em média de 312 (variação: 26–810) dias. A fixação in situ foi o método de escolha em 86,89% dos casos. Os materiais utilizados para a fixação foram parafuso canulado ou fio metálico rosqueado (pino de Schanz). A escolha do implante variou ao longo dos anos, de acordo com o momento cronológico da realização do procedimento e a disponibilidade dos materiais de síntese no hospital. A avaliação do sinal de lucência peritubercular está descrita na [Tabela 2]. O sinal estava presente em 31,3% de todos os casos. Dos 30 indivíduos que desenvolveram a doença, 21 apresentaram esse sinal. O paciente mais jovem que apresentou o sinal e evoluiu para a doença era um menino de 9 anos e 1 mês de idade, e o paciente mais velho um menino com exatamente 14 anos. Ao parear a presença ou ausência do sinal com a idade, mantivemos a hipótese de nulidade, uma vez que o comportamento da idade não difere significativamente entre os grupos que evoluíram ou não para a doença ([Tabela 3]). Observamos correlação significativa entre a presença do sinal de radiotransparência peritubercular e a EECF contralateral (p < 0,001). O coeficiente de contingência C apresentou valor de p de 1,06 × 10−7 (p < 0,001). O limite superior do coeficiente de contingência C foi 0,707, e a correlação foi de 0,44. Os dados obtidos a partir dessas análises estão descritos na [Tabela 4].
n |
Porcentagem válida** |
|
---|---|---|
Sexo |
||
- Masculino |
76 |
66,1% |
- Feminino |
39 |
33,9% |
Comorbidade |
||
- Obesidade |
66 |
56,4% |
- Sobrepeso |
17 |
20% |
- Outras |
3 |
3,6% |
Primeiro quadril acometido |
||
- Lado |
||
Direito |
33 |
28,7% |
Esquerdo |
82 |
71,3% |
- Grau* |
||
0 |
2 |
|
1 |
68 |
|
2 |
26 |
|
3 |
15 |
|
- Tipo de fixação |
||
Redução |
14 |
|
Fixação in situ |
99 |
|
Segundo quadril acometido |
||
- Lado |
||
Direito |
23 |
76,7% |
Esquerdo |
7 |
23,3% |
- Grau* |
||
0 |
11 |
|
1 |
15 |
|
2 |
1 |
|
3 |
0 |
|
- Tipo de fixação |
||
Redução |
0 |
|
Fixação |
28 |
Sinal de radiotransparência |
Unilateral (n) |
Bilateral (n) |
Total (N) |
---|---|---|---|
Ausente |
71 |
9 |
80 |
Presente |
14 |
21 |
35 |
Total |
85 |
30 |
115 |
3.1 Pacientes com sinal: pareamento das idades dos acometidos (bilateral) e não acometidos (unilateral)


N |
Mínimo |
Máximo |
Média |
Erro desvio |
|
Idade (meses) |
36 |
9,08 |
14,00 |
11,9844 |
1,33053 |
3.2 Pacientes sem sinal: pareamento das idades dos acometidos (bilateral) e não acometidos (unilateral)


N |
Mínimo |
Máximo |
Média |
Erro desvio |
|
Idade (meses) |
79 |
9,00 |
15,42 |
12,4181 |
1,20627 |
3.3 Grupo com todos pacientes não acometidos (unilateral): pareamento das idades dos pacientes com e sem sinal


N |
Mínimo |
Máximo |
Média |
Erro desvio |
|
Idade (meses) |
82 |
9,00 |
15,42 |
12,3309 |
1,22065 |
3.4 Grupo com todos pacientes acometidos (bilateral): pareamento das idades dos pacientes com e semsinal


N |
Mínimo |
Máximo |
Média |
Erro desvio |
|
Idade (meses) |
30 |
9,08 |
14,67 |
12,1640 |
1,35121 |
Dados estatísticos |
|
---|---|
Amostra (N) |
115 |
Tempo de aparecimento do sinal |
1 mês |
Tempo antes do escorregamento |
40 semanas |
Radiografias anteroposteriores/perna de rã |
85%/95% |
Acurácia |
80% |
Sensibilidade |
70% |
Especificidade |
83% |
Valor preditivo positivo |
60% |
Valor preditivo negativo |
89% |
Nos casos em que o sinal estava presente e os pacientes desenvolveram a doença no quadril contralateral, o sinal foi observado em média 21 dias após o diagnóstico da doença no primeiro lado. O escorregamento normalmente ocorreu aproximadamente 301 dias depois. Neste grupo, o sinal foi observado com maior frequência na incidência em perna de rã (20/21 casos, 95%) do que na incidência AP (18/21 casos, 85%). A concordância interobservador entre os revisores 1 e 2 foi forte de acordo com o teste Kappa (k = 0,0801). Em 10 casos, as avaliações precisaram ser refeitas pelo revisor 3. Não houve correlação significativa na análise entre a presença ou ausência do sinal e as variáveis de interesse ([Tabela 5]). É importante ressaltar que, apesar das diferenças visuais observadas entre os grupos com base na presença ou ausência do sinal, elas não apresentaram significância estatística. Oito casos foram excluídos pelos seguintes motivos: dois já haviam sido submetidos à fixação em outro serviço; dois apresentavam doença degenerativa no quadril contralateral (doença de Legg-Calvé-Perthes); e quatro foram excluídos por ausência de radiografias de controle de acompanhamento. Conseguimos identificar a presença e ausência do sinal, com ou sem desenvolvimento da doença, conforme mostra a [Fig. 3].












Variáveis de interesse comparadas |
Teste estatístico |
Grau |
Significância |
Conclusão |
---|---|---|---|---|
Sinal presente versus idade |
1,073 |
1 |
0,376 |
Não rejeita H0 |
Sinal presente versus sexo |
3,196 |
1 |
0,091 |
Não rejeita H0 |
Sinal presente versus comorbidade |
4,487 |
2 |
0,106 |
Não rejeita H0 |
Sinal presente versus lateralidade |
1,073 |
1 |
0,376 |
Não rejeita H0 |
Sinal presente versus grau do primeiro lado |
3,785 |
2 |
0,151 |
Não rejeita H0 |
#
Discussão
Embora as alterações anatômicas e histológicas da doença tenham sido extensivamente descritas em estudos anteriores,[2] [3] o sinal de lucência peritubercular foi proposto há pouco tempo como um indicador para o diagnóstico precoce.[19] Esse método demonstrou resultados comparativamente superiores aos da ressonância magnética.[23] O tubérculo está comumente localizado no quadrante posterossuperior, e é mais posterior em crianças mais novas e superior em crianças mais velhas.[5] Sua função principal é dar apoio estrutural contra as forças de cisalhamento que atuam na fise femoral capital.[5] A manifestação radiográfica da ação dessas forças seria a lucência peritubercular.[19]
Conforme descrito por Kleinman et al.,[6] a detecção de anomalias na metáfise femoral capital (justafisária) pode ser difícil, e provavelmente reflete a resposta reparadora localizada aos mecanismos de estresse que enfraquecem a área. Song[24] sugeriu que os ortopedistas deveriam explorar novas metodologias e algoritmos para facilitar o diagnóstico e o tratamento precoces desta doença.
Este estudo teve como objetivo avaliar a aplicabilidade desse sinal. Em nossa avaliação, de 115 pacientes que atendiam aos critérios de inclusão, 30 desenvolveram EECF no quadril contralateral. O sinal esteve presente em 31% da amostra total (36/115). Desses 36 pacientes, 58% (21/36) desenvolveram a doença, ao passo que 42% (15/36) continuaram a apresentar exclusivamente a forma unilateral. Nos casos em que o sinal foi considerado ausente (79/115), a maioria (70/79) dos pacientes não desenvolveu EECF, e 11% (9/79) desenvolveram a doença. Ao analisarmos os 30 pacientes que evoluíram para EECF, encontramos o sinal presente em 70% destes casos (21/30). Em contrapartida, entre os 85 casos que permaneceram exclusivamente unilaterais (ou seja, não desenvolveram EECF), a ausência do sinal foi notada em 82% desses pacientes (70/85).
Nossos índices de sensibilidade e especificidade foram de 70% e 82%, respectivamente. Embora estes valores sejam relativamente inferiores aos relatados por Maranho et al.,[19] ainda são consideravelmente altos. Em 80% dos casos, observamos o sinal nas primeiras radiografias do primeiro lado acometido, seja no pré-operatório ou no pós-operatório imediato. O índice Kappa entre os dois observadores principais atingiu um nível de concordância forte e superior de acordo com Cohen.[25] No entanto, para aumentar a fiabilidade dos resultados, um terceiro observador sênior fez mais análises.
Nossa análise apresentou algumas limitações quanto à acessibilidade às radiografias anteriores e à falta de informações em determinados prontuários. Apesar destas restrições, mantivemos um período mínimo de acompanhamento de 18 meses, uma vez que este intervalo é amplamente aceito na literatura para a ocorrência esperada de EECF no quadril contralateral.[1] [9] [10] Embora existam casos documentados de ocorrência de EECF após este período, não encontramos nenhum neste estudo. Tais casos foram monitorados até o fechamento completo da cartilagem trirradiada.
Outra limitação foi a ausência de posicionamento padronizado dos pacientes durante a radiografia. O posicionamento, que pode variar em graus de flexão, extensão, rotação e abdução, muitas vezes depende do nível de dor do paciente. Porém, a incidência em perna de rã, que consideramos a mais eficaz para o diagnóstico de EECF, foi menos comprometida e a que mais revelou a presença do sinal.
Acreditamos que a busca e verificação do sinal de lucência peritubercular seja um bom guia para o diagnóstico precoce,[26] pois ajuda a prevenir casos mais graves e pronunciadas. Mais estudos precisam ser realizados para determinar se as forças que atuam na fise da cabeça do fêmur podem ser consideradas responsáveis pelo sinal.
#
Conclusão
Nossos achados sugerem uma correlação significativa entre a presença do sinal nas radiografias e o futuro desenvolvimento da doença no quadril contralateral do paciente. Embora existam exames diagnósticos mais precisos, como a ressonância magnética, a presença do sinal nas radiografias parece prever o desenvolvimento da doença. A concordância interobservador foi semelhante à de outros estudos, o que apoia a sua aplicabilidade na prática clínica. Assim, o sinal de lucência peritubercular surge como uma ferramenta complementar promissora no diagnóstico precoce do EECF, pois é útil para o planejamento terapêutico e viável para aplicação em larga escala na ausência de disponibilidade de exames complementares de alto custo. Embora não tenhamos encontrado nenhuma associação entre o sinal e as características específicas do paciente ou os traços da doença, aconselhamos seu uso criterioso, considerando o exame clínico e, se necessário, outros exames complementares de imagem, pois o EECF ainda pode ocorrer, mesmo na ausência do sinal.
#
#
Conflito de Interesses
Os autores não têm conflito de interesses a declarar.
Contribuições dos Autores
Cada autor contribuiu individual e significativamente para o desenvolvimento desta pesquisa; AK: elaboração do projeto de pesquisa, avaliador 3, redação do artigo e revisão do texto; RVRM: elaboração do projeto de pesquisa, avaliador 1, redação do artigo, revisão do texto e revisão bibliográfica; MAG: elaboração do projeto de pesquisa, avaliador 2, redação do artigo e revisão de literatura; e MAO: elaboração do projeto de pesquisa, busca de prontuários e radiografias, e redação do artigo.
Trabalho desenvolvido no Departamento de Ortopedia Pediátrica, Hospital Infantil Joana de Gusmão, Florianópolis, SC, Brasil.
-
Referências
- 1 Kotzias Neto A. Epiphysiolysis proximal femur. In: Herbert SK, Barros Filho TEP, Xavier R, Pardini Junior AG. eds. Orthopedics and Traumatology – Principles and Practice. 5a. ed. Porto Alegre:: Artmed; 2016: 300-319
- 2 Griffith MJ. Slipping of the capital femoral epiphysis. Ann R Coll Surg Engl 1976; 58 (01) 34-42
- 3 Tayton K. Does the upper femoral epiphysis slip or rotate?. J Bone Joint Surg Br 2007; 89 (10) 1402-1406
- 4 Novais EN, Maranho DA, Kim YJ, Kiapour A. Age- and Sex-Specific Morphologic Variations of Capital Femoral Epiphysis Growth in Children and Adolescents Without Hip Disorders. Orthop J Sports Med 2018; 6 (06) 2325967118781579
- 5 Liu RW, Armstrong DG, Levine AD, Gilmore A, Thompson GH, Cooperman DR. An anatomic study of the epiphyseal tubercle and its importance in the pathogenesis of slipped capital femoral epiphysis. J Bone Joint Surg Am 2013; 95 (06) e341-e348
- 6 Kleinman PK, Marks Jr SC, Spevak MR, Belanger PL, Richmond JM. Extension of growth-plate cartilage into the metaphysis: a sign of healing fracture in abused infants. AJR Am J Roentgenol 1991; 156 (04) 775-779
- 7 Crawford AH. Slipped capital femoral epiphysis. J Bone Joint Surg Am 1988; 70 (09) 1422-1427
- 8 Loder RT, Aronson DD, Greenfield ML. The epidemiology of bilateral slipped capital femoral epiphysis. A study of children in Michigan. J Bone Joint Surg Am 1993; 75 (08) 1141-1147
- 9 Morrissy RT. Slipped capital femoral epiphysis - Natural history and etiology in treatment. Instr Course Lect 1980; 29: 81-86
- 10 Jensen HP, Steinke MS, Mikkelsen SS, Thomsen PB. Hip physiolysis. Bilaterality in 62 cases followed for 20 years. Acta Orthop Scand 1990; 61 (05) 419-420
- 11 Southwick WO. Osteotomy through the lesser trochanter for slipped capital femoral epiphysis. J Bone Joint Surg Am 1967; 49 (05) 807-835
- 12 Barrios C, Blasco MA, Blasco MC, Gascó J. Posterior sloping angle of the capital femoral physis: a predictor of bilaterality in slipped capital femoral epiphysis. J Pediatr Orthop 2005; 25 (04) 445-449
- 13 Nötzli HP, Wyss TF, Stoecklin CH, Schmid MR, Treiber K, Hodler J. The contour of the femoral head-neck junction as a predictor for the risk of anterior impingement. J Bone Joint Surg Br 2002; 84 (04) 556-560
- 14 Steppacher SD, Tannast M, Werlen S, Siebenrock KA. Femoral morphology differs between deficient and excessive acetabular coverage. Clin Orthop Relat Res 2008; 466 (04) 782-790
- 15 Laredo Filho J, Braga Jr MB, Ishida A, Bortoletto A. Estudo crítico da indicação da pinagem preventiva do lado sadio na epifisiólise proximal do fêmur unilateral. Rev Bras Ortop 1987; 22 (06) 173-176
- 16 Santili C. Epifisiólise. Rev Bras Ortop 2001; 36 (03) 49-56
- 17 Mestriner MB, Verquietini CM, Waisberg G, Akkari M, Fukunaga ET, Santili C. Radiographic evaluation in epiphysiolysis: possible predictors of bilaterality?. Acta Ortop Bras 2012; 20 (04) 203-206
- 18 Maranho DA, Ferrer MG, Kim YJ, Miller PE, Novais EN. Predicting Risk of Contralateral Slip in Unilateral Slipped Capital Femoral Epiphysis: Posterior Epiphyseal Tilt Increases and Superior Epiphyseal Extension Reduces Risk. J Bone Joint Surg Am 2019; 101 (03) 209-217
- 19 Maranho DA, Miller PE, Novais EN. The Peritubercle Lucency Sign is a Common and Early Radiographic Finding in Slipped Capital Femoral Epiphysis. J Pediatr Orthop 2018; 38 (07) e371-e376
- 20 National Center for Health Statistics. CDC Growth Charts [Centers for Disease Control and Prevention website]. December 15, 2022 . Available at: https://www.cdc.gov/growthcharts/cdc_charts.htm . [Accessed in 07/10/2023].
- 21 Fahey JJ, O'Brien ET. Acute slipped capital femoral epiphysis: review of the literature and report of ten cases. J Bone Joint Surg Am 1965; 47: 1105-1127
- 22 Wilson PD, Jacobs B, Schecter L. Slipped capital femoral epiphysis: an end-result study. J Bone Joint Surg Am 1965; 47: 1128-1145
- 23 Maranho DA, Bixby SD, Miller PE. et al. What Is the Accuracy and Reliability of the Peritubercle Lucency Sign on Radiographs for Early Diagnosis of Slipped Capital Femoral Epiphysis Compared With MRI as the Gold Standard?. Clin Orthop Relat Res 2020; 478 (05) 1049-1059
- 24 Song KM. CORR Insights®: What is the Accuracy and Reliability of the Peritubercle Lucency Sign on Radiographs for Early Diagnosis of Slipped Capital Femoral Epiphysis Compared With MRI as the Gold Standard?. Clin Orthop Relat Res 2020; 478 (05) 1060-1061
- 25 Cohen J. A coefficient of agreement for nominal scales. Educ Psychol Meas 1960; 20 (01) 37-46
- 26 Brown DW, Iorio TJ, Mosher ZA. et al. Intraobserver and interobserver reliability of the peritubercle lucency sign in slipped capital femoral epiphysis. J Pediatr Orthop 2021; 41 (03) 159-163
Endereço para correspondência
Publication History
Received: 20 March 2024
Accepted: 23 June 2024
Article published online:
21 December 2024
© 2024. The Author(s). This is an open access article published by Thieme under the terms of the Creative Commons Attribution 4.0 International License, permitting copying and reproduction so long as the original work is given appropriate credit (https://creativecommons.org/licenses/by/4.0/)
Thieme Revinter Publicações Ltda.
Rua do Matoso 170, Rio de Janeiro, RJ, CEP 20270-135, Brazil
-
Referências
- 1 Kotzias Neto A. Epiphysiolysis proximal femur. In: Herbert SK, Barros Filho TEP, Xavier R, Pardini Junior AG. eds. Orthopedics and Traumatology – Principles and Practice. 5a. ed. Porto Alegre:: Artmed; 2016: 300-319
- 2 Griffith MJ. Slipping of the capital femoral epiphysis. Ann R Coll Surg Engl 1976; 58 (01) 34-42
- 3 Tayton K. Does the upper femoral epiphysis slip or rotate?. J Bone Joint Surg Br 2007; 89 (10) 1402-1406
- 4 Novais EN, Maranho DA, Kim YJ, Kiapour A. Age- and Sex-Specific Morphologic Variations of Capital Femoral Epiphysis Growth in Children and Adolescents Without Hip Disorders. Orthop J Sports Med 2018; 6 (06) 2325967118781579
- 5 Liu RW, Armstrong DG, Levine AD, Gilmore A, Thompson GH, Cooperman DR. An anatomic study of the epiphyseal tubercle and its importance in the pathogenesis of slipped capital femoral epiphysis. J Bone Joint Surg Am 2013; 95 (06) e341-e348
- 6 Kleinman PK, Marks Jr SC, Spevak MR, Belanger PL, Richmond JM. Extension of growth-plate cartilage into the metaphysis: a sign of healing fracture in abused infants. AJR Am J Roentgenol 1991; 156 (04) 775-779
- 7 Crawford AH. Slipped capital femoral epiphysis. J Bone Joint Surg Am 1988; 70 (09) 1422-1427
- 8 Loder RT, Aronson DD, Greenfield ML. The epidemiology of bilateral slipped capital femoral epiphysis. A study of children in Michigan. J Bone Joint Surg Am 1993; 75 (08) 1141-1147
- 9 Morrissy RT. Slipped capital femoral epiphysis - Natural history and etiology in treatment. Instr Course Lect 1980; 29: 81-86
- 10 Jensen HP, Steinke MS, Mikkelsen SS, Thomsen PB. Hip physiolysis. Bilaterality in 62 cases followed for 20 years. Acta Orthop Scand 1990; 61 (05) 419-420
- 11 Southwick WO. Osteotomy through the lesser trochanter for slipped capital femoral epiphysis. J Bone Joint Surg Am 1967; 49 (05) 807-835
- 12 Barrios C, Blasco MA, Blasco MC, Gascó J. Posterior sloping angle of the capital femoral physis: a predictor of bilaterality in slipped capital femoral epiphysis. J Pediatr Orthop 2005; 25 (04) 445-449
- 13 Nötzli HP, Wyss TF, Stoecklin CH, Schmid MR, Treiber K, Hodler J. The contour of the femoral head-neck junction as a predictor for the risk of anterior impingement. J Bone Joint Surg Br 2002; 84 (04) 556-560
- 14 Steppacher SD, Tannast M, Werlen S, Siebenrock KA. Femoral morphology differs between deficient and excessive acetabular coverage. Clin Orthop Relat Res 2008; 466 (04) 782-790
- 15 Laredo Filho J, Braga Jr MB, Ishida A, Bortoletto A. Estudo crítico da indicação da pinagem preventiva do lado sadio na epifisiólise proximal do fêmur unilateral. Rev Bras Ortop 1987; 22 (06) 173-176
- 16 Santili C. Epifisiólise. Rev Bras Ortop 2001; 36 (03) 49-56
- 17 Mestriner MB, Verquietini CM, Waisberg G, Akkari M, Fukunaga ET, Santili C. Radiographic evaluation in epiphysiolysis: possible predictors of bilaterality?. Acta Ortop Bras 2012; 20 (04) 203-206
- 18 Maranho DA, Ferrer MG, Kim YJ, Miller PE, Novais EN. Predicting Risk of Contralateral Slip in Unilateral Slipped Capital Femoral Epiphysis: Posterior Epiphyseal Tilt Increases and Superior Epiphyseal Extension Reduces Risk. J Bone Joint Surg Am 2019; 101 (03) 209-217
- 19 Maranho DA, Miller PE, Novais EN. The Peritubercle Lucency Sign is a Common and Early Radiographic Finding in Slipped Capital Femoral Epiphysis. J Pediatr Orthop 2018; 38 (07) e371-e376
- 20 National Center for Health Statistics. CDC Growth Charts [Centers for Disease Control and Prevention website]. December 15, 2022 . Available at: https://www.cdc.gov/growthcharts/cdc_charts.htm . [Accessed in 07/10/2023].
- 21 Fahey JJ, O'Brien ET. Acute slipped capital femoral epiphysis: review of the literature and report of ten cases. J Bone Joint Surg Am 1965; 47: 1105-1127
- 22 Wilson PD, Jacobs B, Schecter L. Slipped capital femoral epiphysis: an end-result study. J Bone Joint Surg Am 1965; 47: 1128-1145
- 23 Maranho DA, Bixby SD, Miller PE. et al. What Is the Accuracy and Reliability of the Peritubercle Lucency Sign on Radiographs for Early Diagnosis of Slipped Capital Femoral Epiphysis Compared With MRI as the Gold Standard?. Clin Orthop Relat Res 2020; 478 (05) 1049-1059
- 24 Song KM. CORR Insights®: What is the Accuracy and Reliability of the Peritubercle Lucency Sign on Radiographs for Early Diagnosis of Slipped Capital Femoral Epiphysis Compared With MRI as the Gold Standard?. Clin Orthop Relat Res 2020; 478 (05) 1060-1061
- 25 Cohen J. A coefficient of agreement for nominal scales. Educ Psychol Meas 1960; 20 (01) 37-46
- 26 Brown DW, Iorio TJ, Mosher ZA. et al. Intraobserver and interobserver reliability of the peritubercle lucency sign in slipped capital femoral epiphysis. J Pediatr Orthop 2021; 41 (03) 159-163















































